PT686396E - Composicao enterica que compreende caseina micelar nativa - Google Patents

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DESCRIÇÃO "COMPOSIÇÃO ENTÉRICA QUE COMPREENDE CASEÍNA MICELAR NATIVA" A presente invenção refere-se a uma composição entérica caracterizada por compreender essencialmente caseína micelar nativa como fonte de proteína.

Uma composição entérica é uma composição líquida esterilizada destinada à alimentação de pacientes incapazes de se alimentar normalmente. É administrada por um tubo nasal, bucal ou acedendo directamente ao aparelho digestivo e deve proporcionar os três elementos nutritivos de base, proteínas, glícidos e lípidos numa proporção adequada e com uma densidade calórica elevada. A escolha em matéria de proteína para estas composições entéricas é relativamente limitada. A maior parte das proteínas são sensíveis ao calor e coagulam no momento da esterilização. Os caseinatos são uma excepção, sendo portanto largamente utilizados neste tipo de produto, por vezes associados a proteínas de soja. A utilização de leite em pó desnatado como fonte dê caseína não constitui uma alternativa aos caseinatos, uma vez que este contém demasiada lactose, o que daria origem a uma composição entérica de carácter laxativo e hiperosmótico. São correntemente utilizados dois tipos de caseinato: o caseinato de sódio ou de potássio (Na/K-caseinato) e o caseinato de cálcio (Ca-caseinato). 1

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L-Ij ^ 0 Na/K-caseinato é solúvel e apresenta uma forte viscosidade quando a concentração excede 5%. Esta forte viscosidade é um inconveniente considerável para a alimentação entérica, particularmente nasal, que utiliza tubos muito finos. As composições entéricas requerem concentrações elevadas em proteína (de 5 a 10% em peso), a fim de que a incorporação calórica se efectue, mantendo as proporções proteínas/glícidos/lípidos equilibradas. A viscosidade do Na/K-caseinato limita a sua utilização às composições que contêm menos de 6-7% de proteína. O Ca-caseinato não é solúvel, mas forma na água uma dispersão coloidal de viscosidade relativamente fraca. Um inconveniente considerável deste Ca-caseinato reside no facto de provocar o aparecimento de paladares falsos notórios nos produtos esterilizados. A presente invenção refere-se a evitar os inconvenientes acima indicados, propondo componentes entéricas que compreendem essencialmente caseína micelar nativa como fonte de proteína. A fonte de proteína é obtida a partir de leite animal tal como o leite de vaca, de cabra ou de ovelha. Prepara-se por microfiltração deste leite.

Esta proteína micelar é obtida por microfiltração de leite, consoante o caso seguida de uma diafiltração, sobre uma membrana que apresenta uma porosidade de 0,1 a 0,2 micrometros, por exemplo. 2 LCi ^ Γ A microfiltração concentra selectivamente a caseína sem reter as proteínas séricas, o que apresenta a vantagem de uma boa estabilidade das proteínas na esterilização.

Devido às suas propriedades notáveis, a caseína micelar nativa preparada desta forma revelou-se uma fonte de proteína particularmente adaptada às composições entéricas. Não apresenta qualquer inconveniente das proteínas pré-citadas: as suas qualidades nutricionais são equivalentes ou superiores às das proteínas tradicionalmente utilizadas, forma em água uma dispersão coloidal de fraca viscosidade, o que permite a sua utilização em concentrações elevadas (5 a 10%), sem colocar qualquer problema de escoamento nos tubos mais finos, possui uma grande estabilidade térmica e suporta portanto perfeitamente a esterilização, em concentração igual,. apresenta soluções com capacidade de osmose mais baixa que os caseinatos, é totalmente desprovida de paladar e apresenta soluções com uma brancura superior à dos caseinatos.

Os exemplos que se seguem ilustram a invenção. As percentagens e porções são dadas em peso (g para 100 g de composição líquida), salvo indicação em contrário. 3 \

Exemplo 1 1.1. Preparação da caseína micelar

Tratam-se 300 kg de leite magro de vaca, pasteurizado a 72°C/15 s, numa instalação de microfiltração (Techsep® módulo IS 151) equipada com 3,4 m2 de membrana M 14 (diâmetro médio dos poros de cerca de 0,15 micrometros) a uma temperatura que vai de 50 a 55°C, até que se eliminem 200 kg de permeato (o que corresponde a uma concentração com um factor volúmico de 3). Diafiltra-se em seguida o concentrado com água desmineralizada por eliminação de 500 kg de permeato (correspondendo a um factor volúmico de diafiltração de 5) . Esta diafiltração tem por objectivo produzir a caseína micelar com uma pureza proteica de cerca de 85% com menos de 1% de lactose residual sobre a matéria seca total. Concentra-se em seguida o concentrado até um volume final de 50-70 1, o que garante um conteúdo em matérias secas de 18-20%. O concentrado contém 185 g/kg de matérias sólidas totais com uma taxa de proteínas de 84% sobre as matérias secas totais. A sua composição é a seguinte em g/kg,de líquido:

Proteínas 164 Lactose 0,4 Cinzas 15,6 Matéria gordurosa 1,3 Cálcio 6 Potássio 0,1 Sódio 0,04 Fósforo 1,7 4 Γ Sss*· 11^ Ο fraccionamento das proteínas de acordo com o esquema de Rowland (Rowland 1938; J. Dairy Res. 9, 42-46) indica que, sendo 96% da proteína total precipitável a um pH de 4, 6, trata-se de caseína. A análise de uma dispersão diluída de concentrado no "Malvern Particle Sizer" mostra que a caseína está presente sob a forma de partículas com um diâmetro médio de 300 nanómetros (nm) e que a distribuição das partículas é relativamente homogénea (uma população que vai apenas de cerca de 100 a 400 nm). Esta imagem corresponde perfeitamente à que se obtém para o leite magro, o que indica a presença de micelas características do- leite. 1.2. Preparação de uma composição destinada à nutrição entérica 2,13 kg do concentrado anterior, contendo 19,5% de matérias sólidas totais e que corresponde a 350 g de proteínas são transferidos para um recipiente termostatizado a 55°C, munido de meios de agitação. Adicionam-se a esta dispersão os ingredientes seguintes sob a forma sólida (em g) =

Maltodextrina MD- 02 300 Sacarose 150 Tri-K-citrato H20 20, 33 MgC12 6 H20 9,21 NaCl 5, 84

Após a dissolução dos ingredientes no concentrado, é adicionada água desmineralizada até um peso total de 4825 g. Nesta fase, o pH é controlado e, se necessário, ajustado ao 5

valor de 6,8. Adiciona-se em seguida a fase gordurosa, ou seja, 175 g de óleo de milho com 2% (calculado em relação ao óleo) de lecitina de soja a titulo de emulgente. A mistura é homogeneizada com a ajuda de um homogeneizador de duas fases, a 20 MPa na primeira fase, e depois a 5 MPa por segundo. A emulsão é em seguida esterilizada por tratamento UHT indirecto (permutador de calor) a 130°C/20 s, ou directo (injecção directa de vapor) a 148°C/5 s ou ainda por esterilização em caixa ou em embalagem a 120°C/6-8 min.

De forma idêntica à descrita no exemplo anterior, preparam-se três composições entéricas de densidade energética idêntica, ou seja 4,184 kJ/ml (1 kcal/ml):

Ingrediente (%) Composição A Composição B Composição C Proteínas Caseína Ca-caseinato Na/K-caseinato (%, p/v) micelar nativa 7 7 7 Lípidos 3,5 3,5 3,5 (óleo de milho) Glícidos 9,5 9,5 9,5 (maltodextrinas/ sacarose) Minerais Ca 0,21 0,2 0, 07 K 0,16 0, 15 0, 18 Na 0, 05 0, 05 0, 06 Mg 0, 03 0, 03 0, 02 P 0, 12 0, 12 0, 07 Cl 0, 1 0,1 0, 03 Comparam-se os produtos obtidos após a esterilização em caixa a 120°C/6 min. do ponto de vista do seu conteúdo em 6

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proteínas totais, viscosidade dinâmica (velocidade de corte de 1600s_1, temperatura ambiente), capacidade de osmose e propriedades organolépticas:

Composição A B C A composição A (caseína micélar nativa) distingue-se claramente da composição C (Na/K-caseinato) pela sua viscosidade reduzida e pela sua fraca osmose. Distingue-se da composição B (Ca-caseinato) no plano da viscosidade e do paladar.

Proteínas (total);% 7,56 6, 81 7,38

Capacidade de osmose m0sm/kgH20 392 386 481

Viscosidade mPa.s. 6 9 30

Presença de falsos paladares Não Sim Sim

Exemplo 2

Prepara-se uma composição entérica com uma energética de 6,276 kJ/ml (1,5 kcal/ml) e 8% proteínas a partir de leite em pó desnatado temperatura", ou seja, seco em condições controladas. densidade (p/v) de a "baixa térmicas

Dispersam-se 20 kg de leite em pó desnatado a baixa temperatura em 100 kg de água desmineralizada a uma temperatura de 50-55°C. Esta dispersão, que corresponde à do leite magro concentrado duas vezes, é microfiltrada na mesma instalação que no exemplo 1, por diafriltração, passando água desmineralizada até à eliminação de 600 kg de permeato. O concentrado é em seguida de novo concentrado a .cerca de / / / 7 60 kg, o que representa um conteúdo de matérias secas de 21% com uma taxa de proteínas sobre matérias secas de 82%.

Para preparar a composição entérica, misturam-se 2,323 kg de concentrado líquido, representando 400 g de proteínas totais a 55°C com os seguintes ingredientes (g):

Maltodextrina MD-02 600 Sacarose 200 Tri-K-citrato H20 20, 33 MgC12 6 H20 9,21 NaCl oo tn

Após a dissolução dos ingredientes no concentrado, adiciona-se água desmineralizada até um peso total da dispersão de 4,7 kg. O pH é depois ajustado a 6,8, e em seguida são introduzidos 300 g de fase gordurosa, sendo o peso total da dispersão de 5 kg. Após a homogeneização, e depois da esterilização de forma idêntica à descrita no exemplo 1, o produto apresenta uma viscosidade dinâmica de 112 mPa.s (velocidade de corte de 1600s_1, à temperatura ambiente). Tem uma aparência branca, com um paladar açucarado agradável e isento de falsos paladares.

Lisboa, 29 de Setembro de 2000

O AGENTE OFICIAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL y 8

Claims (6)

1. REIVINDICAÇÕES 1. Composição entérica caracterizada por compreender .essencialmente caseína micelar nativa como fonte de proteína.
2. 2. Composição de acordo com a reivindicação 1, caracterizada por a caseína micelar nativa ser proveniente de um leite animal, nomeadamente de um leite de vaca, de cabra ou de ovelha.
3. 3. Composição de acordo com a reivindicação 1, caracterizada por a caseína micelar nativa ser obtida por microfiltração, consoante o caso seguida por uma diafiltração, de um leite animal.
4. 4. Composição de acordo com a reivindicação 1, caracterizada por a caseína micelar nativa estar presente com uma concentração de 5-10% em peso.
5. 5. Utilização de caseína micelar nativa como fonte essencial de proteína no fabrico de uma composição entérica..
6. 6. Processo para a preparação de uma composição destinada à nutrição entérica, caracterizado por a caseína micelar ser escolhida como fonte essencial de proteína, sendo o processo caracterizado por compreender a microfiltração de leite desnatado, consoante o caso, se diafiltrar em seguida de forma a isolar um concentrado, se dispersar no concentrado glícidos e minerais, se adicionar à dispersão uma fase gordurosa e se homogeneizar e em seguida esterilizar a mistura. Lisboa, 29 de Setembro de 2000 0 AGENTE OFICIAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

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