PT1778258E - Utilização de bactérias probióticas na preparação de composições tópicas para a protecção da pele - Google Patents

Description

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DESCRIÇÃO "UTILIZAÇÃO DE BACTÉRIAS PROBIÓTICAS NA PREPARAÇÃO DE COMPOSIÇÕES TÓPICAS PARA A PROTECÇÃO DA PELE"

Campo da invenção A presente invenção diz respeito à utilização de algumas bactérias probióticas na protecção da pele. Mais especialmente, o objectivo da presente invenção consta da utilização de algumas bactérias probióticas na preparação de composições tópicas para o tratamento de doenças da pele causadas por agentes patogénicos, especialmente infecções recidivantes ou doenças como as dermatites.

Tradicionalmente o tratamento de doenças cutâneas causadas pela proliferação de agentes patogénicos realiza-se com medicamentos antimicrobianos, isto é, com moléculas farmacêuticas com acção antibiótica e/ou antimicótica.

Antecedentes da invenção

Contudo tem-se demonstrado que algumas situações particulares, como um tratamento prolongado com medicamentos antimicrobianos, o uso inesperado de agentes agressivos, como detergentes, uma sudação excessiva ou também condições ambientais tais como o calor moderado ou uma grande humidade que aumentam a transpiração das pessoas, pode levar a desequilíbrios promovendo a proliferação de agentes patogénicos oportunistas.

Apesar dos problemas acima referidos, nos últimos anos a maior parte dos esforços científicos têm sido direccionados 2 para a pesquisa de novas moléculas antibióticas e/ou antimicóticas cada vez mais eficazes.

As pesquisas levaram a uma melhoria do tratamento das infecções aqudas, mas realçaram um problema ainda não solucionado e muito sério, isto é a ocorrência de resistência aos antibióticos com consequente reaparecimento do episódio infeccioso (Elmer G.W. et al., JAMA, 275: 870-876, 1996).

Esses fenómenos têm-se revelado especialmente nas infecções do aparelho urogenital feminino (Sparks J.M., J. Reprod. Med., 36: 745-752, 1991) e na pele.

Entre as várias doenças infecciosas da pele que mostram a ocorrência de recidivas, a Pitiriase (tinea) versicolor apresenta-se como uma infecção muito frequente.

Essa infecção, causada pelo fungo Malassezia furfur, muito difundida entre a população mais jovem, não é uma patologia grave, mas muito incomodativa manifestando geralmente uma reaparição cíclica.

Alguns estudos mostram também que a levedura M. Furfur desempenha um importante papel tanto na dermatite seborreica (Bergbrant I.M. e Faergemann J., Mycoses, 37(5-6): 217-219, 1994) como na dermatite atópica (Broberg A. e Faergemann J. Acta Derm Venereol., 75 (1) : 46-49, 1995) . 0 mecanismo de acção da levedura nessas patologias não foi ainda clarificado, mas parece existir uma relação com a redução da função linfocítica (Faergemann J., Micoses, 40 (supl. 1):29--32. 1997) .

Actualmente não existem estudos, nem in vitro nem in vivo, que demonstrem a eficácia de bactérias probióticas ao 3 nível cutâneo e além disso permanecem muitas incertezas sobre a composição e organização do ecossistema microbiano.

Por exemplo, Ouweland A.C. et al. (Letters in Applied Microbioloy, 2003, 36:327-331) publicaram recentemente um estudo realizado sobre diferentes bactérias probióticas com o objectivo de determinar os seus eventuais benefícios sobre a pele. Os autores avaliaram a capacidade de alguns probióticos inibirem o crescimento bacteriano in vitro de vários agentes patogénicos e modificarem a sua adesão relativamente à queratina imobilizada. Mesmo tendo-se detectado uma inibição adequada in vitro de agentes patogénicos pela acção dos probióticos estudados, os decepcionantes resultados dos ensaios respeitantes à queratina levaram os autores a concluírem que os referidos probióticos não são capazes de impedir a adesão dos referidos agentes patogénicos mencionados (página 331, primeira coluna, primeiro parágrafo).

Sumário da invenção

Em desacordo com estes princípios, observou-se surpreendentemente que, quando aplicadas na pele, algumas bactérias probióticas produzem um efeito benéfico, contrariando a infecção pelos agentes patogénicos. O objectivo da presente invenção é proporcionar um novo tratamento para as doenças da pele causadas por agentes patogénicos que não exiba as desvantagens da técnica anterior.

Mais especialmente, o objectivo da presente invenção consiste em proporcionar um tratamento para as infecções da 4 pele que sem riscos seja eficaz para o doente e que reduza a ocorrência de recidivas.

De facto observou-se surpreendentemente que é possível tratar doenças microbianas da pele com algumas bactérias probióticas obtendo além da resolução do episódio infeccioso, também a redução do risco de ocorrência de recidivas.

Descrição detalhada da invenção

Portanto, de acordo com um dos seus objectivos, o tema da presente invenção consiste na utilização de bactérias probióticas específicas para a preparação de uma composição tópica para proteger a pele de doenças microbianas, em particular para prevenir e/ou tratar doenças microbianas da pele.

De acordo com um outro dos seus objectivos, o tema da presente invenção consta da utilização de bactérias probióticas específicas para a preparação de uma composição tópica para prevenir e/ou tratar a Pitiriase versicolor.

De acordo com mais um objectivo, o tema da presente invenção consiste na utilização de bactérias probióticas específicas para a preparação de uma composição tópica para prevenir e/ou tratar dermatites, em particular a dermatite atópica.

De acordo com um outro dos seus objectivos, o tema da presente invenção consiste na utilização de bactérias probióticas específicas para prevenir e/ou tratar a descamação do couro cabeludo ("dandruff") . 5

Como mencionado a seguir, a expressão “bactérias probióticas" (ou também somente "probióticos") indica bactérias capazes de provocarem um efeito benéfico no organismo hospedeiro se ingeridas nas quantidades devidas (Guarner F., Schaafsma G.J., Int. J. Food Microbiol. 39:237--238, 1998) . De entre as bactérias probióticas, as de acordo com a presente invenção são as que pertencem ao género lactobacillus e em particular o L. plantarum BCCM-LMG P 17630 comercializado sob a marca comercial Bactocin® e as descritas no Pedido de Patente europeia EP 0 949 330 em nome do mesmo requerente, nomeadamente o L. gasseri BCCM-LMG P 18137, o L. gasseri BCCM-LMG P17632 e o L. crispatus BCCM-LMG P 17631.

Tem-se demonstrado que em especial o L. crispatus P17631 é muito eficaz no tratamento e na prevenção da Pitiriase versicolor, também na dermatite atópica, representando a sua utilização na preparação de produtos destinados a essas patologias o objectivo preferido da presente invenção.

De acordo com uma forma de realização preferida, as bactérias probióticas utilizam-se de acordo com a presente invenção na forma liofilizada. A liofilização pode realizar--se de acordo com um qualquer processo apropriado, que os entendidos na matéria bem conhecem, eventualmente mediante a utilização de excipientes convencionalmente usados.

As bactérias probióticas de acordo com a presente invenção podem inclui-se em composições farmacêuticas ou cosméticas para uso tópico, quer formulações prontas a utilizar quer extemporâneas. 6

Durante a fase de liofilização podem adicionar-se às mencionadas composições ou às bactérias probióticas aditivos e estabilizantes comuns aceitáveis.

Portanto, de acordo com um outro dos seus objectivos, o tema da presente invenção consiste na utilização das referidas bactérias probióticas na forma liofilizada para a preparação de composições tópicas para a prevenção e/ou o tratamento das doenças microbianas da pele.

Por exemplo, no caso do tratamento da descamação do couro cabeludo ("dandruff"), as bactérias probióticas de acordo com a presente invenção podem utilizar-se, se desejável ou necessário, sob a forma liofilizada em pó sem serem posteriormente manufacturadas ou incluídas em formulações específicas.

De acordo com uma forma de realização, o tema da presente invenção consiste na utilização do L. crispathus P17631, vantajosamente na forma liofilizada, para a preparação de um medicamento para prevenir e/ou tratar as infecções causadas pela infecção Ptiriase versicolor.

De preferência, as bactérias probióticas apresentam-se na forma liofilizada e incluídas em composições farmacêuticas para uso tópico, eventualmente na presença de excipientes e de estabilizantes convencionais.

As composições tópicas que incluem as referidas bactérias probióticas constituem mais um objectivo da presente invenção. 7

Essas composições podem ser medicamentos ou produtos cosméticos e podem preparar-se de acordo com os processos conhecidos na arte, podendo apresentarem-se sob uma forma de dosagem unitária ou uma forma de dosagem múltipla. A titulo ilustrativo, as composições da presente invenção podem preparar-se sob a forma de geles, cremes, emulsões, pomadas, espumas, pós, soluções ou suspensões aquosas, soluções ou suspensões oleosas ou também soluções ou suspensões bifásicas, para se agitarem antes de se utilizarem. 103 e 1012; entre 106 e 10 por grama da

As composições podem conter entre vantajosamente entre 105 e IO10, por exemplo UFC (unidades formadoras de colónias) composição.

Essas composições poderão aplicar-se em quantidades adequadas à extensão da área a tratar, preferivelmente uma ou mais vezes por dia. 0 tratamento prolonga-se preferivelmente durante pelo menos 7 a 10 dias, contudo também tratamentos curtos podem proporcionar resultados interessantes. Além disso, considerando a ausência de toxidade das composições da presente invenção, se desejáveis ou necessários podem obviamente prever-se tratamentos longos.

Tem-se observado também que em alguns casos é aconselhável realizar um tratamento "preventivo" em determinados períodos do ano, especialmente nas chamadas "mudanças de estação", nomeadamente na Primavera e no Outono. 8 0 uso de bactérias probióticas de acordo com a presente invenção pode também realizar-se em associação com um tratamento antimicrobiano convencional inicial, para acelerar o desaparecimento da sintomatologia (efeito rápido do agente antimicrobiano) e posteriormente limitar as possibilidades de recidivas (acção de duração prolongada das bactérias probióticas).

Para o uso de acordo com a presente invenção pode utilizar-se indiferentemente uma única bactéria probiótica ou misturas de bactérias probióticas. De acordo com um outro objectivo, a presente invenção diz respeito a uma utilização para o tratamento das doenças da pele como descrito antes que compreende a aplicação tópica de uma dose eficaz de pelo menos uma das bactérias probióticas referidas.

Como previamente descritos, os tipos de preparações dermatológicas que mantêm uma satisfatória vitalidade dos probióticos devem conter pouca água e devem ser lipofilicos como por exemplo os seguintes:

Formulações em que o meio é formado por uma fase lipofí-lica fluida (oleosa) em associação com um colóide sólido para formar um sistema com uma consistência semi-sólida; Formulações formadas por uma substância lipofílica em associação com detergentes;

Formulações formadas por uma substância lipofílica associada a diferentes polímeros de síntese capazes de formarem um sistema semi-sólido com características viscosas flexíveis adaptadas a utilização tópica (gele lipo-fílico) 9

De acordo com uma forma de realização, tem-se demonstrado que um sistema liquido bifásico (emulsões, nanoemulsões, microemulsões) como óleo em água (0/A) dá bons resultados no que diz respeito à sobrevivência dos probióticos, especialmente se as duas fases constituem uma fase mista exactamente antes de usar (formulações extemporâneas). Nesse caso, a fase lipofílica e a fase hidrofilica acondicionam-se em dois recipientes separados que através das suas aberturas permitem, antes de usar, que a mistura das duas fases origine uma mistura (que se pode espremer) que se tem de misturar por exemplo na palma da mão antes da aplicação tópica.

Os exemplos seguintes apresentam-se com uma finalidade exemplificativa embora não limitativa.

Exemplo 1: Formulação de uma pomada convencional que compreende pelo menos:

Lactobacilos liofilizados

Vaselina Liquida

Parafina Liquida

Mistura de Ácidos gordos com Propilenoglicol

Exemplo 2: Formulação de uma espuma convencional que compreende pelo menos:

Lactobacilos liofilizados

Vaselina Liquida

Agentes Tensioactivos (por exemplo ésteres de sorbitano)

Exemplo 3: Formulação de um gele convencional que compreende pelo menos: 10

Lactobacilos liofilizados

Mistura de polímeros de estireno

Parafina Líquida Sílica coloidal

Outros componentes e excipientes podem obviamente adicionar-se às formulações descritas antes de acordo com as técnicas que os entendidos na matéria bem conhecem (por exemplo óleo de jojoba, extractos naturais, extratos vegetais, etc.). A actividade das bactéria probióticas de acordo com a presente invenção tem sido demonstrada por meio de estudos in vitro e in vivo.

Ensaio In Vitro A fim de avaliar a actividade antimicótica das bactérias probióticas relativamente ao crescimento do agente patogénico M. furfur mudando as condições de desenvolvimento de tal modo que as mesmas sejam óptimas para ambos os microrganismos (anaerobiose + aerobiose) têm-se realizado ensaios in vitro. Tais condições não correspondem às condições de crescimento da maior parte das bactérias probióticas, por exemplo dos Lactobacillus que preferem ambientes anaeróbicos, embora não obstante e de uma forma surpreendente, os resultados dos ensaios in vivo tenham demonstrado que tais bactérias probióticas não apresentam em nenhum caso o efeito terapêutico (ou cosmético) desejado. O teste in vitro utilizado é um "agar spot test" (um teste em uma pequena área usando agar) descrito em muitos artigos entre os quais o de Jacobsen C.N. ET to.(Appl. and 11

Envir. Microb. 65:4949-4956, 1999) e o de Ouwehand A.C. ET to. (Letters in Applied Microbiology, 2003, 36:327-331).

Pequenas áreas ("spots") de lactobacilos para se avaliarem quanto à sua actividade antimicótica colocaram-se em placas de Petri contendo 15 mililitros de agar MRS, com 10μ1 da cultura que cresceu durante uma noite à temperatura de 37 °C. As placas secas, deixadas a secar durante aproximadamente 15 minutos, incubaram-se à temperatura de 37°C durante uma noite em condições anaeróbicas.

No dia seguinte, depois de se ter verificado o crescimento das pequenas áreas ("spots"), transportaram-se rapidamente para cada placa 2,5 ml de meio de agar mole mYPG, cuja composição está descrita no quadro, e adicionaram-se 500 μΐ de uma cultura de Malassenzia furfur.

Quadro: Composição do meio de agar mole mYPG

Extracto de Malte 5 g Peptona 10 g Glucose 20 g Tween 40 1 g Tween 80 1 g Agar 4,5 g Água destilada 1000 mL

Incubaram-se as placas à temperatura de 37 °C sob condições aeróbicas durante 24 a 48 horas, até ser visível o crescimento da camada do agente patogénico.

Aréolas de inibição, mais ou menos extensas, foram detectadas, perto das pequenas áreas ("spots"), onde se semeou a amostra de lactobacillus; quanto maiores os 12 diâmetros das aréolas, mais importante é a sua actividade antimicótica.

Ensaio in vivo

Os testes, in vivo, realizaram-se em voluntários que todos os anos mostravam recidivas relativamente à Pityriasis versicolor.

Anualmente, os doentes mostravam pequenas manchas brancas nas costas e nos braços, devido à destruição dos melanócitos. 0 tratamento realizou-se através da aplicação de L. crispatus liofilizado, extemporaneamente suspenso em uma mistura oleosa.

Os resultados desse ensaio foram surpreendentes, porque a aplicação de apenas um número restrito de L. crispatus causou o desaparecimento das típicas manchas da micose.

Foi possível detectar que onde não se aplicou a suspensão de L. crispatus as lesões continuaram presentes; mais, depois de um ano, as manchas não reapareceram nas áreas tratadas.

Lisboa, 20 de Março de 2009

Claims (14)

1 REIVINDICAÇÕES 1. Utilização de pelo menos uma bactéria probiótica escolhida de entre L. plantarum, P17630, L. crispatus P17631, L. gasseri P17632, L. gasseri P18137 e das suas misturas para a preparação de uma composição tópica para prevenir e/ou tratar doenças da pele.

2. Utilização de acordo com a reivindicação 1., para a preparação de uma composição tópica para prevenir e/ou tratar afecções microbianas da pele.

3. Utilização de acordo com a reivindicação 1., para a preparação de uma composição tópica para prevenir e/ou tratar a dermatite atópica.

4. Utilização de acordo com a reivindicação 2., para a preparação de uma composição tópica para prevenir e/ou tratar a Pitiriase versicolor.

5. Utilização de acordo com a reivindicação 1., para prevenir e/ou tratar a descamação do couro cabeludo ("dandruff").

6. Utilização de acordo com as reivindicações 1. a 5., em que a referida bactéria probiótica é o L. crispatus P17613.

7. Composição tópica para utilização na prevenção e/ou no tratamento de doenças da pele que compreende pelo menos uma bactéria probiótica escolhida entre L. plantarum, P17630, L. crispatus P176331, L. gasseri P17632, L. gasseri P18137 e as suas misturas. 2

8. Composição de acordo com a reivindicação 7., que compreende desde 103 a 1012 de UFC de bactérias probióticas por grama de composição.

9. Composição de acordo com a reivindicação 8., que compreende desde 106 até 108 de UFC de bactérias probióticas por grama de composição.

10. Composição de acordo com as reivindicações 7. a 9., sob a forma de gele, creme, emulsão, pomada, espuma, pó, solução ou suspensão aquosa, solução ou suspensão oleosa ou solução ou suspensão bifásica.

11. Composição de acordo com as reivindicações 7. a 10., sob uma forma posológica unitária individual ou sob uma forma posológica unitária múltipla.

12. Composição de acordo com as reivindicações 7. a 11., que consiste em um medicamento ou um produto cosmético.

13. Composição de acordo com as reivindicações 7. a 12., na qual pelo menos uma bactéria probiótica é o L. crispatus P17631.

14. Composição de acordo com as reivindicações 7. a 12., na qual pelo menos uma bactéria probiótica é o L. plantariam, P17630. Lisboa, 20 de Março de 2009