ATIVO CLAREADOR CONTENDO EXTRATOS VEGETAIS, SEUS USOS E COMPOSIÇÕES CONTENDO O MESMO
CAMPO DA INVENÇÃO
[001] A presente invenção descreve uma composição cosmética voltada ao clareamento da pele, e mais particularmente a um agente clareador compreendendo o extrato de Alpinia officinarum ou a associação dos extratos de Physalis angulata, Bidens pilosa e Achyrocline satureioides veiculados em uma rede estruturada lipídica para entrega de compostos bioativos.
ANTECEDENTES DA INVENÇÃO
[002] A hiperpigmentação da pele é considerada uma manifestação dermatológica comum e fonte de desconforto aos indivíduos que acomete, uma vez que afeta significativamente o bem-estar psicológico, contribuindo com uma menor produtividade, função social e auto- estima. Caracteriza-se basicamente pelo aumento da produção e acúmulo de melanina na pele. Como principais fatores responsáveis por essa alteração podem ser citados distúrbios endócrinos, a exposição à radiação solar, gravidez, fatores genéticos, envelhecimento e inflamação cutânea, devido a acne ou dermatite de contato.
[003] Na atualidade existem diversos tratamentos para distúrbios na pigmentação de pele, mas poucos apresentam de fato eficácia e segurança satisfatórios. Como principais exemplos de clareadores dessa categoria destacam-se a hidroquinona, arbutin e ácido kójico. Estudos sugerem que a aplicação tópica de hidroquinona, um dos agentes clareadores mais utilizados no passado, pode perturbar as fibras da matriz extracelular (especialmente colágeno e elastina), conduzindo a alterações nas glândulas supra-renais e da fisiologia da tiróide, bem como à perda da firmeza da pele.
[004] Além disso, apesar do efeito de branqueamento inicial, hidroquinona e arbutin podem causar ocronose, uma condição na qual a pele
torna-se mais pigmentada do que era no início do tratamento. Já o ácido kójico, um ácido aromático de origem fúngica, que atua como um agente quelante, foi considerado capaz de promover o desenvolvimento de câncer no fígado e tiróide em ratos. Dermatite de contato, erupções cutâneas, sensação de ardor e aumento da susceptibilidade da pele para os efeitos da radiação UV são outros efeitos comuns atribuídos à aplicação destas substâncias farmacológicas clássicas.
[005] Nesse contexto, produtos naturais e extratos vegetais com propriedades atóxicas e ambientalmente inócuas apresentam grande potencial para o desenvolvimento de agentes terapêuticos para o tratamento da hiperpigmentação, ou mesmo para aplicação em formulações cosméticas clareadoras de pele.
[006] Algumas publicações relacionadas a uso de extratos voltados à aplicação cosmética despigmentante foram desenvolvidas:
[007] A patente US 5,980,904 descreve uma composição para uso tópico contendo extrato glicólico de Bearberry obtido a partir da Arctostaphylos uva-ursi em combinação com um ou mais agentes despigmentantes.
[008] A patente US 5,747,006 descreve o uso de uma composição de uso tópico contendo acerola fermentada e um agente clareador, no qual o extrato de acerola fermentada é substancialmente livre de ácido ascórbico.
[009] A publicação WO 2010/098533 relata a atividade despigmentante do extrato de Ecklonia cava, alga marron, e do composto 7- pholoroeckol, isolado da própria alga, em uma composição farmacêutica e cosmética.
[010] A publicação WO 2004/ 05718 descreve uma composição cosmética para aplicação tópica preparada através do uso de extrato de
plantas provenientes das famílias Symplocos, Rúbia ou combinações dessas.
[01 1] A publicação WO 2010/004355 relata uma composição cosmética contendo extratos de Glycyrrhiza glabra, Valeria indica, Hedychium spicatum, Alpinia galanga e combinações, e excipientes cosmeceuticamente aceitáveis. Todos os extratos foram obtidos através de extração usando solventes orgânicos tais como clorofórmio, acetona, metanol e n-hexano.
[012] O documento JP2010100563 descreve a preparação de um agente despigmentante a partir de uma ou mais amêndoas selecionadas provenientes das espécies de Prunus armeniaca, Prunus mume, Prunus pérsica, Eriobottrya japônica e Alpinia galanga.
[013] O documento JP2010 89312 descreve o uso de extratos de Alpinia galanga e Daphné tangutica ou combinações dessas, voltado à aplicação cosmética despigmentante.
[014] Nenhum dos documentos mencionados acima cita composições cosméticas contendo os extratos, associados ou não, utilizados na presente invenção.
[015] Matsuda e colaboradores (Bioorg. Med. Chem. 17, 2009, 6048-6053) descrevem o efeito dos extratos de Alpinia officinarum (Galanga Pequena), obtidos em solução acetona 80% (v/v) e em solução de acetato de etila, sobre a melanogênese. O efeito descrito restringe-se à redução da síntese melanina em células 4A5, provenientes de melanoma murino. Da mesma forma, Lu e colaboradores (J. Enzyme Inhib. Med. Chem. 22, 2007, 433-438) descrevem a redução da síntese do pigmento em 21 % em teste in vitro, a partir do tratamento com uma mistura de flavonóides, isolada de Alpinia officinarum por meio de diferentes solventes extratores, que incluem éter de petróleo e acetato de etila.
[016] Sabe-se que o uso de solventes orgânicos, tais como acetato de etila, éter de petróleo e acetona, para a preparação de extratos
vegetais encontra restrição na aplicação cosmética em função dos efeitos tóxicos e capacidade de provocarem dermatite quando em contato com a pele.
[017] Além disso, extratos vegetais apresentam características que dificultam sua incorporação em produtos cosméticos acabados, tais como coloração, odor, baixa estabilidade, entre outros. O parâmetro coloração é, no caso de clareadores, um dos maiores fatores limitantes do uso de extratos vegetais. Além da eficácia despigmentante, produtos clareadores exigem a aparência branca ou de cor muito sutil.
[018] No caso dos extratos de Alpinia officinarum, é característica notória a coloração marrom avermelhada intensa.
[019] A patente US8,101 ,21 1 relata a capacidade inibidora da formação de melanina dos extratos de Bidens pilosa e Physalis angulata, isoladamente. Contudo, a publicação mencionada não relata a capacidade clareadora a partir de testes ex vivo ou in vivo que avaliem a eficácia em seres humanos. Tão pouco descreve qualquer sinergismo a partir da combinação dos extratos mencionados.
[020] O objetivo da presente invenção foi de desenvolver um ativo clareador para a pele que supera as adversidades e limitações do estado da técnica. De especial interesse foi a obtenção de um ativo clareador altamente eficaz, seguro e que pode ser facilmente incorporado em composições cosméticas sem contribuir para a coloração da formulação final, e cuja concentração necessária não interfira na formulação da composição cosmética, sendo assim altamente eficaz em baixas concentrações.
[021] Observou-se que o ativo clareador, objeto da presente invenção, pode ser incorporado a concentrações altamente eficazes em composições cosméticas. Adicionalmente, o ativo promove pequenas alterações na coloração e, em alguns casos, esse parâmetro não é alterado. Além disso, o ativo clareador da presente invenção não desenvolve qualquer
irritação na pele.
[022] Os ativos clareadores preparados de acordo com a invenção permitem formular composições cosméticas altamente eficazes, promovem pequenas alterações de cor em composições cosméticas e são seguros para aplicação tópica.
DESCRIÇÃO RESUMIDA DA INVENÇÃO
[023] A presente invenção descreve um ativo clareador compreendendo:
(a) extrato de Alpinia officinarum (a-1 ) ou associação dos extratos de Physalis angulata (a-2), Bidens pilosa (a-3) e Achyrocline satureioides (a-4);
(b) rede estruturada lipídica para entrega de compostos bioativos.
[024] O extrato de Alpinia officinarum veiculado nesse sistema de entrega apresenta, mesmo em uma concentração vinte vezes inferior, eficácia clareadora superior ao mesmo extrato na forma livre. Essa característica possibilita a incorporação do ativo em composições cosméticas sem promover alterações de cor.
[025] Da mesma forma, a associação dos extratos de Physalis angulata, Bidens pilosa e Achyrocline satureioides promove um efeito despigmentante superior aos exercidos pelos extratos isoladamanete, evidenciando um efeito benéfico inesperado, o efeito sinérgico da combinação.
[026] A presente invenção contempla também um processo de clareamento da pele que compreende a aplicacação tópica da composição cosmética da presente invenção sobre a pele.
[027] A presente invenção contempla também um processo para tratamento ou prevenção de desordens pigmentantes, que compreende a aplicação tópica da composição cosmética da presente invenção sobre a pele.
[028] Ainda, a presente invenção contempla o uso de um ativo clareador conforme definido no presente pedido na fabricação de uma composição para o clareamento da pele.
[029] Além disso, é pleiteado o uso da composição cosmética da presente invenção para o clareamento da pele.
[030] Ademais, um processo de fabricação do ativo clareador da presente invenção, pela mistura do extrato de Alpinia officinarum (a-1) ou da associação dos extratos de Physalis angulata (a-2), Bidens pilosa (a-3) e Achyrocline satureioides (a-4) em uma rede estruturada lipídica, obtida através de um agente lipídico na presença de uma fase etanólica, para entrega de compostos bioativos, é também contemplado.
[031] Finalmente, é também pleiteada uma associação que compreende extratos de Physalis angulata, Bidens pilosa e Achyrocline satureioides.
BREVE DESCRIÇÃO DAS FIGURAS
[032] A Figura 1 mostra os resultados do ensaio de inibição da melanogênese ex vivo.
[033] A Figura 2 mostra o resultado da incorporação do extrato de Alpinia officinarum em forma livre do ativo clareador contendo o extrato de Alpinia officinarum e a rede estruturada lipídica em uma composição cosmética.
DESCRIÇÃO DETALHADA DA INVENÇÃO
[034] O termo "ativo clareador" empregado ao longo da invenção abrange qualquer aplicação cosmética que tenha por objetivo alterar a coloração ou pigmentação da pele para uma cor ou tonalidade mais clara em comparação ao estado antes do tratamento com o ativo clareador. Dessa forma, o uso do ativo clareador abrange o clareamento geral da pele, remoção ou clareamento de manchas, lentigens, melasma ou outras formas de hipêrcromia, as quais podem ser causadas por exposição solar exagerada,
desequilíbrio hormonal, uso de medicamentos, gravidez, processos inflamatórios, ou predisposição genética.
[035] O termo "ativo clareador" empregado ao longo da invenção abrange também qualquer aplicação que tenha por objetivo prevenir ou evitar a pigmentação da pele para uma cor ou tonalidade mais escura em comparação à tonalidade original. Tal aplicação é exemplificada pelo uso em protetores solares.
COMPONENTE (A-1 ) - EXTRATO DE ALPINIA OFFICINARUM
[036] O ativo clareador de acordo com a invenção pode compreender o extrato de Alpinia officinarum. Pertencente à família Zingiberaceae, a Alpinia officinarum (popularmente conhecida como Galanga Pequena) é utilizada como tempero e na medicina tradicional chinesa para vários fins, tais como um estomáquico e carminativo.
[037] Qualquer ou todas as partes de Alpinia officinarum podem ser utilizadas para preparar o extrato de acordo com a invenção. A planta ou partes da planta, fresca ou seca, podem ser processadas mecanicamente com objetivo de redução de tamanho. Preferencialmente, rizomas secos de Alpinia officinarum, triturados ou pulverizados, são utilizados.
COMPONENTE (A-2) - EXTRATO DE PHYSALIS ANGULATA
[038] Pertencente à família Solanaceae, a Physalis angulata (popularmente conhecida como Camapú ou Juá) cresce normalmente como uma erva daninha nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, mas com ocorrência também em outras regiões tropicais da África, Américas e Ásia. No Brasil, vem sendo utilizada na medicina popular, onde é empregada como anti- reumático e diurético, hepatoprotetor, antiinflamatório, anti-tussígeno e analgésico, anti-malárico e em casos de icterícia.
[039] Qualquer ou todas as partes de Physalis angulata podem ser utilizadas para preparar o extrato de acordo com a invenção. A planta ou
partes da planta, fresca ou seca, podem ser processadas mecanicamente com objetivo de redução de tamanho. Preferencialmente, folhas, caules e raízes secos de Physalis angulata, triturados ou pulverizados, são utilizados.
COMPONENTE (A-3) - EXTRAIO DE BIDENS PILOSA
[040] Pertencente à família Asteraceae, a Bidens pilosa (vulgarmente conhecida como Picão Preto) é utilizada popularmente para o tratamento de aftosa, angina, diabetes, desordens menstruais, diversos tipos de hepatite, laringites, constipação intestinal e processos inflamatórios internos e dermatológicos. Além disso, é comumente utilizada na medicina fitoterápica peruana como adjuvante no tratamento de hepatite, conjuntivites, abscessos, infecções fúngicas e prevenção da perda de peso repentina em crianças
[041 ] Qualquer ou todas as partes de Bidens pilosa podem ser utilizadas para preparar o extrato de acordo com a invenção. A planta ou partes da planta, fresca ou seca, podem ser processadas mecanicamente com objetivo de redução de tamanho. Preferencialmente, folhas, caules e raízes secos de Bidens pilosa, triturados ou pulverizados, são utilizados.
COMPONENTE (A-4) - EXTRATO DE ACHYROCLINE SATUREIOIDES
[042] Pertencente à família Asteraceae, a Achyrocline satureioides (popularmente conhecida como Macela) é utilizada na medicina popular brasileira como agente antiinflamatório, hipoglicêmico, digestivo, antiespasmódico e para o tratamento de desordens gastrintestinais.
[043] Qualquer ou todas as partes de Achyrocline satureioides podem ser utilizadas para preparar o extrato de acordo com a invenção. A planta ou partes da planta, fresca ou seca, podem ser processadas mecanicamente com objetivo de redução de tamanho. Preferencialmente, flores secas de Achyrocline satureioides, trituradas ou pulverizadas, são utilizadas.
[044] Os componentes a-1 , a-2, a-3 e a-4, de acordo com a
presente invenção, podem ser preparados por meio de métodos conhecidos de extração. Tais métodos incluem os processos de maceração, decocção, digestão, re-maceração, extração ultrasônica, extração utilizando fluido supercrítico ou extração sólido-líquido sob refluxo contínuo em extrator Soxhlet. Extração com solventes como etanol, glicóis e misturas destes, na presença de água ou não, são preferencialmente utilizados. Como aplicação preferencial, o extrato é obtido por um processo extrativo com os solventes água e butileno glicol, na razão 60:40. Os extratos da presente invenção podem conter ainda agentes de conservação usuais da técnica, tais como fenoxietanol e sorbato de potássio.
[045] O processo de extração é normalmente executado sob agitação e temperatura de 4 a 100 °C, preferencialmente, de 35 a 65 °C por um período de 1 a 12 horas, preferencialmente de 1 a 5 horas.
COMPONENTE B - SISTEMA DE ENTREGA
[046] O sistema de entrega é uma composição que contém promotores de liberação transdérmica. Os promotores de liberação transdérmica são compostos químicos, geralmente com caráter anfifílico, que podem permear ou interagir com os constituintes do estrato córneo. Esta permeação se dá pela alteração reversível da função de barreira da pele, o que ocorre pela mudança do ordenamento normal dos lipídios intercelulares na presença do promotor de permeação.
[047] O sistema de entrega compreende, ao menos, um agente lipídico selelcionado a partir do grupo que inclue: esqualeno, lecitina, fosfatidilcolina (proveniente da soja ou do ovo), colesterol, L-a-dioleoil fosfatidiletanolamina, brometo de dimetildioctadecil amónio, 1 ,2-dioleoil-3- trimetiíamônio-propano, ,2-diacil-3dimetilamônio-propano, dioleoxipropiltrimetilamônio, 2,3 dioleoiloxi-N-[(esperminacarboxamino)etil]-N,N- dimetil-1-propanaminio], brometo de dioctadecil dimetilamônio,
dimiristoilfosfatidilcolina, distearoilfosfatidilcolina, dilauroilfosfatidilcolina, dipalmitoilfosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina, fosfatidilinositol, esfingomielina, ceramidas e ácido linoléico. Como aplicação preferencial, o sistema de entrega é preparado com fosfatidilcolina de soja.
[048] O sistema de entrega da presente invenção compreende ainda, ao menos, um hidrocolóide selelcionado a partir do grupo que inclue, mas não é restrito a, celulose e derivados (por exemplo, hidroxietilcelulose, carboximetilcelulose, metilcelulose), goma arábica, goma karaya, goma ghatti, goma tragacanto, amido e derivados, pectina (esterificada ou amidada), goma guar, goma alfarroba, goma tara, goma tamarindo, konjac manana, agar, carragena, alginato, goma xantana, curdlana, dextrana, goma gelana, gelatina, caseinato, proteína de soro de leite e quitosana.
[049] O método adotado para a preparação da rede lipídica utilizado nessa invenção foi o de injeção de etanol adaptado, através do qual o agente lipídico foi solubilizado em uma fase etanólica e adicionado sobre a fase aquosa contendo os extratos vegetais e os agentes conservantes. Após completa adição da fase etanólica o meio foi mantido sob agitação e aquecido com adição de goma xantana e glicerina vegetal.
[050] A presente invenção compreende também uma composição cosmética contendo o ativo clareador da presente invenção. A composição cosmética da presente invenção pode compreender quaisquer veículos e excipiente cosmeticamente aceitáveis e/ou aditivos conhecidos do estado da técnica.
[051] O ativo clareador pode estar presente na faixa de concentração partindo de 0,1 a 20,0 % (p/v) da composição, preferencialmente 0,1 a 10,0 % (p/v).
[052] A composição cosmética de acordo com a presente invenção pode compreender ainda outros componentes. Em uma das
realizações da presente invenção, a composição compreende ao menos um representante do grupo que consiste em bloqueadores de radiação UV, emulsificantes, emolientes, espessantes, além de outros ingredientes ativos clareadores.
[053] A adição de agentes bloqueadores orgânicos como acrilatos (tais como etil 2-ciano 3,3-difenilacrilato e 2-etilhexil 2-ciano-3,3- difenilacrilato); benzofenonas (tais como benzofenona-3 e benzofenona-4); derivados de imidazol (tais como ácido 2-fenil benzimidazol 5-sulfônico); derivados de ácido p-aminobenzóico (tais como ácido p-aminobenzóico e p- aminobenzoato de glicerila); derivados de benzotriazol (tais como metileno-bis- benzotriazolil tetrametilbutilfenol), não restringindo-se a esses exemplos, favorece o processo de despigmentação, uma vez que restringe o estímulo da melanogênese induzida pela radiação UV.
[054] Outra classe de agentes bloqueadores apropriados que podem ser incorporados na composição cosmética da presente invenção é a de pigmentos inorgânicos, como, por exemplo, óxido de titânio, óxido de zinco, óxido de ferro e óxido de zircônio.
[055] O bloqueador UV pode estar presente em uma porcentagem em peso de 0,5 a 10,0 % da composição, preferencialmente de 1 ,0 a 7,0 %.
[056] O uso de agentes emulsificantes como ésteres de sorbitol, ésteres de poliglicerol e estearatos (como, por exemplo, estearato de magnésio e estearato de sódio), permite a combinação homogénea de componentes imiscíveis, além de atuar na estabilização da composição. O emulsificante pode estar presente em uma porcentagem em peso de 0,5 a 15,0 % da composição, preferencialmente de 2,0 a 10,0 %.
[057] A incorporação de agentes emolientes na composição como óleos minerais, colesterol, lanolina, silicones, óleos vegetais (como óleo
de amêndoa, óleo de girassol, óleo de coco), ácidos gráxos e álcoois graxos tem como finalidade manter a hidratação da pele, uma vez que esses agentes impedem a evaporação da água da pele. O emoliente pode estar presente em uma porcentagem em peso de 0,5 a 10,0 % da composição, preferencialmente de 0,5 a 7,0 %.
[058] A adição de agentes espessantes como carbômero, ceras vegetais (como, por exemplo, cera de abelha), dióxidos (como, por exemplo, dióxido de silício), gomas (como, por exemplo, goma xantana) e poliacrilamidas auxilia na obtenção de consistência adequada da composição. O espessante pode estar presente em uma porcentagem em peso de 0, 1 a 20,0 % da composição, preferencialmente de 1 ,0 a 7,0 %.
[059] A incorporação de agentes antioxidantes como tocoferol, derivados de tocoferol, ácido ascórbico, BHT e BHA tem como objetivo a preservação de componentes da composição frente a oxidação. O antioxidante pode estar presente em uma porcentagem em peso de 0, 1 a 5,0 % da composição, preferencialmente de 1 ,0 a 5,0 %.
[060] Em uma realização da presente invenção, é contemplado o uso simultâneo do ativo clareador da presente invenção com outros agentes clareadores conhecidos do estado da técnica, como ácido kójíco, alfa-arbutin, beta-arbutin, hidroquinona, ácido linoléico, ácido azeláico, ácido ferúlico, ácido ascórbico, niacinamida, resveratrol, extratos de Morus alba e extratos de Glycyrrhiza glabra. O agente clareador adicional pode estar presente em uma porcentagem em peso de 0,001 a 10% da composição, preferencialmente de 0,1 a 3%.
[061] A composição cosmética de acordo com a presente invenção é utilizada preferencialmente como um clareador de pele ou ainda com um inibidor da melanogênese.
[062] A composição cosmética de acordo com a presente
invenção pode apresentar-se em qualquer forma galênica conhecida do estado da técnica, preferencialmente na forma de cremes, loções, géis, pomadas, emulsões e pós.
EXEMPLOS
[063] Embora os exemplos seguintes forneçam uma descrição mais detalhada da presente invenção, sao meramente ilustrativos e a presente invenção não deve ser limitada a eles.
EXEMPLO 1
PREPARAÇÃO DO EXTRATO DE ALPINIA OFFICINARUM
[064] 1 ,0 Kg dos rizomas secos e triturados de Alpinia officinarum Hance foram adicionados a 5,03 Kg de água destilada, 3,79 Kg de butilenoglicol, 0,10 Kg de fenoxietanol e 0,08 Kg de sorbato de potássio e mantidos sob aquecimento a 40-45°C e agitação por 5 horas. Posteriormente, o extrato foi filtrado em filtro de papel, sob vácuo, utilizando celite. O pH do extrato foi corrigido para 5,0 - 6,20, com solução de ácido cítrico 50%.
EXEMPLO 2
PREPARAÇÃO DO EXTRATO DE PHYSALIS ANGULA TA
[065] 1 ,0 Kg das folhas, caules e raízes triturados de Physalis angulata foram adicionados a 5,03 Kg de água destilada, 3,79 Kg de butilenoglicol, 0, 10 Kg de fenoxietanol e 0,08 Kg de sorbato de potássio e mantidos sob aquecimento a 40-45°C e agitação por 5 horas. Posteriormente, o extrato foi filtrado em filtro de papel, sob vácuo, utilizando celite. O pH do extrato foi corrigido para 5,0 - 6,20, com solução de ácido cítrico 50%.
EXEMPLO 3
PREPARAÇÃO DO EXTRATO DE BIDENS PILOSA
[066] 1 ,0 Kg das folhas, caules e raízes triturados de Bidens
pilosa foram adicionados a 5,03 Kg de água destilada, 3,79 Kg de butilenoglicol, 0, 10 Kg de fenoxietanol e 0,08 Kg de sorbato de potássio e mantidos sob aquecimento a 40-45°C e agitação por 5 horas. Posteriormente, o extrato foi filtrado em filtro de papel, sob vácuo, utilizando celite. O pH do extrato foi corrigido para 5,0 - 6,20, com solução de ácido cítrico 50%.
EXEMPLO 4
PREPARAÇÃO DO EXTRATO DE ACHYROCLINE SATUREIOIDES
[067] 1 ,0 Kg das flores secas e triturados de Achyrocline satureoides foram adicionados a 5,03 Kg de água destilada, 3,79 Kg de butilenoglicol, 0, 10 Kg de fenoxietanol e 0,08 Kg de sorbato de potássio e mantidos sob aquecimento a 40-45°C e agitação por 5 horas. Posteriormente, o extrato foi filtrado em filtro de papel, sob vácuo, utilizando celite. O pH do extrato foi corrigido para 5,0 - 6,20, com solução de ácido cítrico 50%.
EXEMPLO 5
PREPARO DE COMPOSIÇÃO CONTENDO EXTRATO DE ALPINIA OFFICINARUM VEICULADO EM SISTEMA DE ENTREGA
[068] Na fase etanólica, 8,0 Kg de fosfatidilcolina de soja 90% foram misturados 15,00 Kg de etanol neutro 96% até completa homogenização (600 rpm). Na fase aquosa, 1 ,0 Kg de fenoxietanol e 0,6 Kg de sorbato de potássio foram misturados a 69,2 Kg de água deionizada até completa solubilização. Posteriormente, foram adicionados 5,0 Kg de extrato de Alpinia officinarum sob agitação (600 rpm) por 10 minutos. Após preparação da fase etanólica, a mesma foi adicionada sobre a fase aquosa de forma contínua, sob agitação (600 rpm). Após completa adição da fase etanólica, o produto foi mantido sob agitação por 30 minutos. Por fim, o produto foi aquecido (40-45°C) para a adição da mistura formada por 0,40
Kg de goma xantana e 0,80 Kg de glicerina vegetal. O produto foi mantido sob agitação (600 rpm) e aquecimento (40-45°C) por 1 hora. Ao término do processo, o produto veiculado em sistema de entrega foi filtrado em filtro de nylon de 100 micras.
EXEMPLO 6
ENSAIO DE INIBIÇÃO DA MELANOGÊNESE IN VITRO
[069] Melanócitos (linhagem B16) foram cultivados por 24 horas. O meio de cultura foi então removido e substituído por novo meio contendo cada um dos ingredientes a serem testados (nas respectivas maiores concentrações não citotóxicas) ou sem qualquer ingrediente (grupo controle). Após 72 horas de incubação, os níveis de melanina foram mensurados a partir da determinação da densidade óptica a 475 nm e com auxílio de uma curva-padrão de melanina.
[070] Combinações dos ingredientes foram testadas nas mesmas culturas celulares, paralelamente com os ingredientes sozinhos. Os resultados são expressos em % em relação ao grupo controle, a partir da média de 3 ensaios independentes.
[071 ] A análise comparativa da quantidade de melanina produzida pelas culturas celulares tratadas com os diferentes extratos e combinação dos mesmos foi realizada. A Tabela 1 mostra que os extratos isolados de Bidens pilosa, Physalis angulata e Achyrocline satureioides reduzem os níveis de melanina para 81 %, 72% e 53%, respectivamente. Surpreendentemente, o tratamento com extrato isolado de Alpinia officinarum veiculado em um sistema de entrega resultou em níveis de melanina equivalentes a 30% em relação ao grupo controle. Da mesma forma, o tratamento empregando a combinação dos extratos de Bidens pilosa, Physalis angulata e Achyrocline satureioides officinarum também veiculados em um sistema de entrega, resultou em níveis de melanina
equivalentes a 39% em relação ao grupo controle.
TABELA 1
EXEMPLO 7
ENSAIO DE INIBIÇÃO DA MELANOGÊNESE EX VIVO
[072] Fragmentos de pele humana foram obtidos a partir de blefaroplastias, cortados em pedaços de aproximadamente 1 cm2 e incubados com uma composição cosmética contendo 3% do extrato de Alpinia officinarum livre, 3% de Alpinia officinarum em sistema de entrega, 2% de arbutin ou 2% de ácido kójico.
[073] Após tratamento, as amostras de pele foram fixadas em paraformaldeído 4 % (p/v) por 24 horas, e crioprotegidas em solução de sacarose 30 % por 48 horas. Após período de crioproteção, os materiais foram emblocados em meio de montagem para inclusão de cortes em criostato, seguido de cortes seriados de 10 pm de espessura com auxílio de criostato (LEICA - CM 850), os quais foram estendidos em lâminas de vidro. Em seguida, os cortes foram corados pela técnica de Fontana Masson.
[074] Os resultados estão dispostos na Figura 1 e evidenciam a capacidade despigmentante do extrato hidroglicólico de Alpinia officinarum. Surpreendemente, os efeitos do mesmo extrato são potencializados quando veiculado pelo sistema de estrega descrito na presente invenção. De forma ainda mais surpreendente, o efeito clareador exercido pelo extrato de Alpinia
officinarum veiculado em sistema de estrega mostra-se superior aos exercidos pelos clareadores clássicos arbutin e ácido kójico, em concentrações normais de uso.
EXEMPLO 8
[075] Foi preparada uma composição de gel creme clareador como disposta na Tabela 2, contendo o extrato de Alpinia officinarum em sistema de entrega.
TABELA 2 - GEL CREME CLAREADOR
[076] A Figura 2 exemplifica o aspecto de uma composição cosmética, conforme Tabela 2, contendo o extrato de Alpinia officinarum em sistema de entrega, comparado à mesma formulação contendo extrado na forma livre. Observa-se coloração mais intensa na formulação contendo o extrato de Alpinia officinarum na forma livre.
EXEMPLO 9
[077] Foram preparadas composições de creme clareador como dispostas nas Tabelas 3 e 4, contendo o extrato de Alpinia officinarum em sistema de entrega.
TABELA 3 - CREME CLAREADOR NOTURNO
EDTA Dissódico 0,05
Trietalonamina 0, 15
Glicerina 3,00
Hidroxietil Acrilato/ Acriloil Dimetil Taurato de
2,00
Sódio, Isohexadecano e Polisorbato 60
Fenoxietanol, Butilparabeno, Etilparabeno,
0,50
Propilparabeno e Metilparabeno
Bis-Benzotriazolil Tetrametifenol, Água, Decil
2,00
Glucosídeo, Propileno Glicol e Goma Xantana
Extraio de Alpinia officinarum em rede
estruturada lipídica para entrega de compostos 3,00
bioativos
EXEMPLO 10
ENSAIO CLÍNICO DE SEGURANÇA
[078] O potencial alergênico foi investigado por meio do teste denominado HRIPT (Human Repeated Insult Patch Test for delayed contact hypersensitivity). O objetivo do teste é o de comprovar a ausência de potencial de irritação (irritabilidade dérmica primária e acumulada) e alergia (sensibilização) do produto investigacional.
[079] Para a realização do estudo, foram selecionados 55 Sujeitos de Pesquisa - fototipos I a IV, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 70 anos, com pele íntegra na região de teste. A área de aplicação escolhida foi a região dorsal dos sujeitos de pesquisa.
[080] O estudo foi realizado em três etapas: Irritabilidade Dérmica Primária, Irritabilidade Dérmica Acumulada e Sensibilização Dérmica, em condições maximizadas, nas quais apósitos contendo o produto foram aplicados na região dorsal dos voluntários para comprovação da ausência do potencial de irritação e alergias. As leituras foram realizadas conforme escala de leitura padronizada pelo International Contact Dermatitis Research Group (ICDRG).
[081] A partir desse estudo foi observado que as composições cosméticas mencionadas no Exemplo 9 não apresenta potencial de irritação dérmica primária, irritação dérmica acumulada ou sensibilização dérmica.