BR102020024908A2

BR102020024908A2 - Curativo de alginato contendo extrato de calêndula (calendula officinalis l.)

Info

Publication number: BR102020024908A2
Application number: BR102020024908-8A
Authority: BR
Inventors: Airton Vicente Pereira
Original assignee: Universidade Estadual De Ponta Grossa
Priority date: 2020-12-07
Filing date: 2020-12-07
Publication date: 2022-06-21

Abstract

Curativos de alginato são eficazes na cicatrização de feridas crônicas. Os curativos comerciais confeccionados com fibras de tecido impregnadas como alginato de sódio e alginato de cálcio são opacos e não permitem observar o leito da ferida sem a remoção. O curativo de alginato com calêndula do presente invento trata-se de um filme transparente que permite avaliar a ferida sem a remoção e decidir o momento oportuno da troca. O extrato glicólico de calêndula incorporado ao curativo confere efeitos antimicrobiano, anti-inflamatório e cicatrizante e, ao mesmo tempo, serve como agente plastificante, essencial para as propriedades físicas do curativo. É obtido pela evaporação do solvente de uma solução filmogênica de alginato de sódio contendo o extrato glicólico de calêndula. Posteriormente, o filme é reticulado com uma solução de cloreto de cálcio que diminui a solubilidade em água e mantém a integridade estrutural com a formação de um hidrogel quando hidratado. O filme curativo de alginato com extrato glicólico de calêndula foi desenvolvido para o tratamento de feridas com leve a moderada produção de exsudato.

Description

CURATIVO DE ALGINATO CONTENDO EXTRATO DE CALÊNDULA (CALENDULA OFFICINALIS L.)

[001] A presente invenção REFERE-SE a um curativo na forma de um filme maleável e transparente confeccionado com alginato contendo na sua composição extrato glicólico de calêndula (Calendula officinalis L.). Trata-se de um curativo desenvolvido para o tratamento de lesões da pele, TAIS COMO, feridas agudas ou crônicas com leve a moderada produção de exsudato, queimaduras, pé diabético, úlceras por pressão ou resultantes de incisões cirúrgicas.

[002] Lesões cutâneas como úlceras diabéticas, por pressão e venosas são de difícil cicatrização. Os curativos representam o principal recurso terapêutico no tratamento de feridas crônicas e exercem as funções de proteção, absorção e drenagem de exsudato.

[003] A maioria dos curativos é composta de materiais sintéticos ou naturais. O alginato é um polímero natural presente na parede celular de algas, tradicionalmente utilizado na fabricação de curativos. É extraído de diversas espécies de Laminaria, Macrocystis, Ascophyllum, Eclonia, Lessonia, Durvillea e Sargassum. Quimicamente, é formado por co-polímeros lineares organizados em blocos de ácido D-manurônico (bloco M) e ácido L-gulurônico (bloco G).

[004] Os curativos de alginato apresentam elevada capacidade de absorção de exsudato. A hidratação resulta na formação de um hidrogel na superfície da ferida que mantém a pele úmida, condição ideal para a cicatrização e indução da hemostasia. Além disso, a formação do hidrogel evita a adesão do curativo ao leito da ferida e facilita a sua remoção, diminuindo a dor e o trauma durante as trocas.

[005] O emprego de alginato de sódio e cálcio incorporados em tecidos (ex. gaze) para uso como curativos de feridas é muito antigo. Atualmente, vários curativos compostos de fibras impregnadas com alginato de cálcio estão comercialmente disponíveis. Um exemplo é o curativo Kaltostat®, confeccionado com fibras de alginato de sódio e cálcio, que atua absorvendo o exsudato da ferida, mantém o ambiente úmido que favorece a cicatrização e facilita a troca sem remoção do tecido cicatricial.

[006] O curativo Biatain Alginato®, da empresa Coloplast, também é composto de fibras de tecido branco, cuja composição contém 85% de alginato de cálcio e 15% de carboximetilcelulose. O mesmo fabricante comercializa o Biatain AG®, um curativo com composição semelhante, porém contém um complexo de prata iônica, indicado para o tratamento de feridas exsudativas e infectadas.

[007] Há diversos curativos similares no mercado, alguns são confeccionados com fibras de não tecido impregnadas com prata e outros, além de prata, contêm carvão ativado, adicionado com a função de adsorver as toxinas liberadas por bactérias e o odor desagradável de algumas feridas. Apesar de eficazes, os curativos comerciais de alginato não possuem compostos ativos que potencializam a cicatrização.

[008] O alginato de sódio é solúvel em água e tem a particularidade de permitir obtenção de filmes transparentes e maleáveis. Os filmes de alginato são de fácil manuseio, adaptáveis em diferentes regiões anatômicas e podem carrear compostos bioativos com propriedades antibacteriana, anti-inflamatória e cicatrizante para o leito da ferida.

[009] Calendula officinalis é uma planta medicinal da família Astearaceae. No Brasil, é conhecida popularmente como calêndula, mal-me-quer, calêndula do campo, calêndula do jardim, maravilha, margarida-dourada e calêndula de panela.

[010] Os principais constituintes da calêndula são as saponinas triterpênicas, como o ácido oleanólico, e os flavonoides, quercetina e rutina. Os flavonoides da calêndula possuem propriedades antioxidante, anti-inflamatória, anticarcinogênica, antiviral e estimulante do sistema imune. Em lesões teciduais, os flavonoides atuam na remoção de radicais livres exercendo um efeito citoprotetor.

[011] A aplicação de extratos das flores de calêndula promove a cicatrização de úlceras cutâneas, modula o processo de cicatrização na fase inflamatória e a favorece a reepitelização. No Brasil, o uso de tinturas e extratos de flores de calêndula está preconizado pela RE n° 89 de 16 de março de 2004 da ANVISA. Os produtos de uso tópico contendo calêndula são utilizados para o tratamento de alterações da pele e mucosas como inflamação, eritema e gengivite, queimaduras e como cicatrizante de feridas.

[012] Conforme citado anteriormente, há diversos curativos comerciais confeccionados com alginato (ex. hidrogel de alginato de cálcio, curativos de alginato de cálcio e sódio e curativos de alginato de cálcio com prata) recomendados para o tratamento de diversos tipos de feridas. Entretanto, como possuem fibras de tecidos, são opacos e apresentam a desvantagem de exigir a remoção física para observação do leito da ferida.

[013] Até o presente, não há curativos de alginato na forma de filmes transparentes e maleáveis, exceto o de um filme curativo de alginato contendo gel de babosa que previamente depositamos o pedido de patente (INPI registro BR10201807566), denominado “Filme de alginato contendo gel de babosa, reticulado com cloreto de cálcio”.

[014] A mistura da solução aquosa de alginato de sódio com extratos de plantas medicinais permite incorporar compostos bioativos cicatrizantes aos filmes obtidos pela evaporação da água.

[015] No presente invento, um filme de alginato contendo extrato glicólico de calêndula foi obtido pela técnica denominada “casting”, na qual uma solução aquosa de alginato de sódio é colocada em um molde e submetida à secagem para a evaporação do solvente. Nessa técnica, a solubilidade do polímero deve ser suficientemente alta para permitir a obtenção de uma solução relativamente viscosa. Uma solução demasiado diluída resultaria, após a evaporação do solvente, em filmes muito finos, frágeis e sujeitos à ruptura durante o manuseio. O solvente deve ser razoavelmente volátil ser removido por evaporação à temperatura moderada e a solução do polímero deve estar sem grumos e livre de partículas para obtenção de um filme homogêneo.

[016] Os filmes de alginato de sódio apresentam limitado desempenho mecânico. Apesar de maleáveis, são autoaderentes e isso limita a sua aplicação prática como curativo. A principal desvantagem dos filmes de alginato de sódio é a elevada solubilidade em água, fazendo com que se desintegrem quando hidratados ou tenham suas propriedades mecânicas e de barreira prejudicadas, com a absorção de água e a perda da integridade estrutural.

[017] Para contornar tais limitações, os filmes preparados com alginato de sódio são submetidos a um processo denominado “reticulação”, isto é, um tratamento com uma solução iônica para substituir o sódio por outro cátion e diminuir a solubilidade em meio aquoso.

[018] Apesar de vários cátions apresentarem afinidade pelas cadeias do alginato, o cálcio é o mais comumente empregado na reticulação dos filmes de alginato de sódio, através do emprego de uma solução de cloreto de cálcio. O tratamento de filmes de alginato de sódio com a solução se cálcio, resulta na troca dos íons sódio pelo cálcio; esse processo aumenta a resistência mecânica e diminui a solubilidade em água. A concentração íons Ca2+ na solução reticulante deve ser bem definida para obter filmes maleáveis e com elevada capacidade de absorção de água.

[019] De modo geral, os filmes de alginato não possuem características mecânicas adequadas no que se refere aos aspectos de plasticidade e elasticidade, mesmo quando reticulados. A adição de um agente plastificante como a glicerina ou propilenoglicol, diminui as interações entre as cadeias do alginato e resulta em melhores propriedades nesses aspectos e aumenta resistência mecânica à tração

[020] O filme de alginato contendo extrato de calêndula, descrito no presente invento, apresenta as seguintes propriedades: transparência (permite observar o leito da ferida sem a remoção), adesão à pele, facilidade de remoção e liberação dos compostos ativos da calêndula durante o processo de hidratação. A adição do extrato glicólico de calêndula ao filme de alginato, além de conferir as propriedades cicatrizantes, exerce o efeito plastificante, devido ao solvente utilizado na obtenção do extrato (glicerina ou propilenoglicol).

[021] A reticulação do filme curativo de alginato com extrato glicólico de calêndula com cloreto de cálcio além de melhorar as propriedades mecânicas do filme também auxilia na cicatrização das feridas, pois o sódio presente no exsudato interage com o cálcio do filme e esse processo de troca iônica favorece o desbridamento autolítico.

Descrição da invenção Obtenção do extrato glicólico de calêndula

[022] As flores de calêndula são utilizadas no preparo do extrato glicólico, conforme preconizado no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira. As flores são identificadas pelos marcadores botânicos da espécie e o teor de flavonoides totais (não inferior a 0,4%) determinado de acordo com a monografia da Farmacopeia Brasileira. Os extratos glicólicos das flores de calêndula (secas e moídas) são preparados por maceração estática com glicerina:água (90:10) ou propilenoglicol:água (90:10). Após filtração, os extratos glicólicos (cor amarelada e odor característico) livres de partículas são mantidos em frasco âmbar até o momento do uso.

Preparo do filme alginato-calêndula 1a etapa: Obtenção do filme de alginato de sódio com extrato glicólico de calêndula

[023] O filme curativo é obtido pela técnica de evaporação do solvente, denomida casting, de uma solução filmogênica resultante da mistura de alginato de sódio e extrato glicólico de calêndula. A solução de alginato de sódio de 1,0 a 1,5 % (m/v) é preparada solubilizando-se o alginato de sódio em água deionizada. Em 17,5 a 20 mL da solução de alginato de sódio, adiciona-se de 2,0 a 3,0 mL do extrato glicólico de calêndula com teor de padronizado de flavonoides (não inferior a 0,4%). Após a homogeneização, a solução filmogênica resultante é transferida para um molde (placa de petri de 90 x 15 mm) que é colocada em uma estufa à 40-60°C por 6 a 12 horas, até a secagem do solvente e formação de um filme transparente.

2a etapa: Reticulação do filme

[024] A solução cloreto de cálcio 2 a 5 % (m/v) é preparada dissolvendo-se o sal (CaCl2 2.H2O) em água deionizada. Sem a remoção do molde, 5 a 10 mL da solução de cloreto de cálcio são vertidos sobre o filme obtido na etapa 1. A solução reticulante é distribuída uniformemente sobre a superfície para obtenção de um filme homogêneo. A placa é transferida novamente para a estufa à 40-60 °C por 6-12 horas. Após a secagem, o filme é removido da placa de petri e pode ser esterilizado por exposição à luz ultravioleta (10 a 15 minutos).

Claims

Curativo de alginato contendo extrato de calêndula (Calendula officinalis L.) caracterizado por um filme transparente de alginato composto de 17,5 a 20 mL, uma solução de alginato de sódio (1,0 - 1,5 %) e extrato glicólico de calêndula (Calendula officinalis L.) (2,5 a 3 mL) com teor padronizado de flavonoides (0,4%).
Curativo de alginato contendo extrato de calêndula (Calendula officinalis L.) de acordo com a reivindicação 1, caracterizado por emprego de glicerina ou propilenoglicol que serve como solvente extrator e agente plastificante.
Curativo de alginato contendo extrato de calêndula (Calendula officinalis L.) de acordo com a reivindicação 1, caracterizado por reticulação com 5 a 10 mL de uma solução aquosa de cloreto de cálcio 2 a 5% (m/v).
Curativo de alginato contendo extrato de calêndula (Calendula officinalis L.) de acordo com a reivindicação 1, caracterizado por obtenção em duas etapas de secagem, sendo a primeira etapa a evaporação do solvente da solução filmogênica por 6-12 h à temperatura 40-60°C e a segunda etapa a evaporação da água da solução de cloreto de cálcio por 6-12 h à temperatura 40-60°C para a reticulação do filme obtido na etapa anterior.
Curativo de alginato contendo extrato de calêndula (Calendula officinalis L.) de acordo com a reivindicação 1, caracterizado por efeito anti-inflamatório e cicatrizante para aplicação em feridas cutâneas com perda parcial de tecido com leve e moderada produção de exsudato como feridas do pé diabético, úlceras por pressão, úlceras venosas, queimaduras e feridas oriundas de incisões cirúrgicas.