BR102019004370A2 - Formulação irrigadora endodôntica a base de própolis - Google Patents

Formulação irrigadora endodôntica a base de própolis Download PDF

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Maria Cristina Marcucci Ribeiro
Fernando Mateus Scremin
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Abstract

trata a presente patente de invenção de uma formulação irrigadora endodôntica com própolis de baccharis dracunculifolia, com capacidade de dissolver material orgânico e se complexar com material inorgânico, além de apresentar atividade antimicrobiana sobre as bactérias endodônticas, composta por extrato de própolis com ou sem álcool, ácido etilenodiaminotetraacetico (edta dissódico), polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio (olivem 400®) e polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado (cremophor hr40®) em associação com o conservante imidazolidil uréia e água destilada.

Description

FORMULAÇÃO IRRIGADORA ENDODÔNTICA A BASE DE PRÓPOLIS
[001] Trata a presente patente de Invenção de uma formulação irrigadora endodôntica com própolis de Baccharis dracunculifolia, mais especificamente uma solução irrigadora com capacidade de dissolver material orgânico e se complexar com material inorgânico, além de apresentar atividade antimicrobiana sobre as bactérias endodônticas.
[002] A execução de técnicas endodônticas em odontologia tem como principais objetivos a limpeza, a modelagem, a desinfecção e a obturação do sistema de canais radiculares (MARTIN; AZEREDO, 2014). O sucesso do tratamento depende da remoção completa dos restos orgânicos e minerais, inativação de possíveis micro-organismos instalados dentro dos canais radiculares, para que possa ser dada a forma adequada e a acomodação do material obturador (CARVALHO et al., 2004; MIRANDA; DANTAS; MATTAR, 2013). É primordial a completa desinfecção dos sistemas de canais radiculares para o tratamento endodôntico, onde a infecção bacteriana e seus produtos metabólitos são considerados responsáveis por doenças pulpares e periapicais (PRETEL et al., 2011).
[003] A literatura descreve várias técnicas de instrumentação, onde é frequente a presença de resíduos provenientes de tecidos dentários (‘debris’), que podem servir de fonte alimentar para bactérias sobreviventes nos canais (LOVE, 2001). Segundo Pretel e colaboradores (2011) devido à formação complexa dos canais radiculares, 50% destes permanecem intocados durante o preparo do tecido, resultando em uma limpeza insuficiente. Para evitar isso, faz-se necessário o uso de substâncias químicas associadas ao processo cirúrgico, como forma de auxiliar e potencializar a desinfecção. O acúmulo de ‘debris’ orgânicos e inorgânicos é chamado de lama dentinária ou smear layer, que como já mencionado, é formado durante a instrumentação do conduto radicular. A permanência do smear layer no conduto pode influenciar no resultado final do tratamento endodôntico, onde micro-organismos remanescentes podem continuar a proliferação em áreas não preenchidas pelo material obturador (FREIRE, et al., 2014).
[004] A espessura, composição e morfologia smear layer dependem da instrumentação e da localização da dentina a partir da qual foi criada, e esta camada pode aderir firmemente à superfície dentinária e pode interferir na ligação entre a resina e a dentina, por isso a importância da sua remoção completa (NERI et al., 2011).
[005] Para Pretel e colaboradores (2011) uma substância ideal para formular uma solução irrigadora deveria possuir um forte efeito antibacteriano, dissolver os tecidos necróticos e ainda ser inócuo aos tecidos periapicais, pois o uso de soluções irrigadoras pode gerar alterações na estrutura dentária, podendo alterar a dentina e o esmalte do dente.
[006] Até o presente momento, não existe uma solução irrigadora ideal, que apresente todas as características necessárias tais como, detergente, antimicrobiana e quelante. Por isso, vários irrigantes são utilizados de forma sequencial, como forma de realizar a limpeza dos ‘debris’ orgânicos e inorgânicos, e realizar a desinfecção do canal (PRADO; ASSIS; SIMÃO, 2014).
ESTADO DA TÉCNICA
[007] Os irrigantes usados atualmente durante o tratamento endodôntico podem ser divididos em antibacterianos e descalcificantes agentes ou suas combinações. Eles incluem hipoclorito de sódio (NaOCl), clorexidina, o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) e uma mistura de tetraciclina, um ácido e um detergente (MTAD). A solução irrigadora mais comumente utilizada durante a terapia do canal radicular é o hipoclorito de sódio em concentrações variadas, possuindo ação proteolítica e antimicrobiana inespecíficas. Agentes quelantes como EDTA, ácido cítrico e tetraciclina são usados para remover o remanescente da porção inorgânica que é removida das paredes internas dos condutos (smear layer). O hipoclorito é normalmente utilizado associado ao EDTA para remoção dos remanescentes de componentes orgânicos do tecido pulpar. A irrigação com 17 % de EDTA por um minuto seguida de uma irrigação final com hipoclorito de sódio é o método mais comumente recomendado para remover a smear layer.
[008] No entanto, a utilização do hipoclorito de sódio para descontaminação dos condutos radiculares é muito controversa. Está amplamente documentado que o hipoclorito de sódio exerce uma ação deletéria sobre as propriedades mecânicas e na composição química da dentina, impactando a resistência da união de sistemas restauradores às paredes internas dos condutos. Além disso, a sua citotoxicidade e toxicidade aos tecidos periodontais estão também estão amplamente documentados na literatura. Somem-se a estes problemas os problemas relacionados aos acidentes quanto ao manchamento de roupas, a possibilidade de irritação dos olhos e ainda a possibilidade de complicações pós-operatórias decorrentes da irrigação inadvertida devido ao extravasamento do hipoclorito de sódio além do ápice radicular, podendo causar queimadura química severa dos tecidos periodontais, mucosa e até na pele.
[009] No quadro a seguir (Quadro 1), estão resumidas as ações comparativas dentre as soluções irrigantes mais comumente utilizadas em endodontia. O produto MTAD trata-se de uma solução em que se associam um isômero de tetraciclina, ácido cítrico e um detergente, não se tratando, portanto, de um produto natural. Já a solução irrigadora com própolis proposta neste pedido possui ações tão ou mais efetivas que as demais soluções irrigadoras amplamente utilizadas com a vantagem de ser um produto natural efetivo e estável.
Figure img0001
[010] O objetivo de uma solução irrigadora é a remoção do smear layer e para isso existem atualmente vários tipos de protocolos e soluções. Inicialmente, substâncias como ácido sulfúrico, clorídrico e fenilssulfônicos foram inicialmente empregadas, porém lesavam os tecidos vivo e deixaram de serem utilizadas, (OLIVEIRA et al., 2012). A Figura 1 apresenta os principais sistemas de irrigação e seus problemas.
[011] Até o presente momento, não existe uma solução irrigadora ideal, que apresente todas as características necessárias, por isso, vários irrigantes são utilizados de forma sequencial, como forma de realizar a limpeza dos ‘debris’ orgânicos e inorgânicos, e realizar a desinfecção do canal. Além disso, temos vários problemas relacionados ao uso dos irrigantes atuais, dentre elas: o hipoclorito de sódio que é um potente agente oxidante e inflamatório, podendo ser responsável por aparecimento de edema, dor, hematomas, necrose e anestesia temporária; a clorexidina é um agente antimicrobiano oral eficaz e não é tóxico, no entanto apresenta apenas ação antiomicrobiana; o lauril sulfato de sódio, agente tensoativo capaz de dissolver tecidos orgânicos é tóxico e apresenta apenas a função de detergente; o EDTA é um agente capaz de complexar com ions metálicos.
[012] Um dos métodos mais utilizados na atualidade para limpeza dos canais radiculares é a irrigação do canal com uma solução irrigadora, e empregando-se uma seringa e agulha, apesar de suas conhecidas limitações (FREIRE et al., 2014). Esses métodos de irrigação do canal radicular com soluções são utilizados, pois a instrumentação mecânica por si só não é capaz de eliminar completamente as bactérias encontradas em um canal infectado. Afim de eliminar as bactérias e realizar a retirada dos debris faz-se necessário o uso de agentes irrigantes, tais soluções de irrigação para desinfecção, quelantes e detergentes (DECHICHI; MOURA, 2006).
Soluções antimicrobianas
[013] A manutenção da microbiota da cavidade oral de forma equilibrada é importante para a saúde bucal, porém em casos de desequilíbrio pode ocorrer uma prevalência maior de doenças orais. As principais bactérias encontradas na cavidade oral são: Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus e várias espécies de Streptococcus, tais como o Streptococcus mutans (BRUSCHI et al., 2006). A desinfecção do sistema de canais radiculares é uma exigência específica para o sucesso do tratamento endodôntico. A penetração de soluções irrigantes no sistema de canal depende da anatomia do canal radicular, da técnica de aplicação do irrigante, do volume de solução e principalmente das características físico-químicas dos irrigantes. O hipoclorito de sódio e a clorexidina são as substâncias mais utilizadas como irrigantes, e elas são por vezes combinadas com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) ou com outros agentes quelantes (LLENA, et al., 2015). O processo de saponificação endodôntica de canais radiculares infectados ocorre através de procedimentos mecânicos e com o uso de agentes antimicrobianos. Estes agentes são utilizados na forma de medicamentos endodônticos ou na forma de soluções irrigadoras, onde estas quando aplicadas, devem apresentar funções específicas, tais como, facilitar o processo mecânico, auxiliar no controle de infecções endodônticas, remover restos orgânicos (pulpares) e inorgânicos (detritos e restos dentinários) e apresentar tolerância frente os tecidos periapicais (ESTRELA et al., 2012). A solução de hipoclorito de sódio tem sido o irrigante mais utilizado nas últimas décadas, principalmente por apresentar propriedades antibacterianas e por sua excelente ação como um solvente de material orgânico. No entanto, o hipoclorito de sódio é considerado tóxico para os tecidos periapicais, especialmente quando utilizado em concentrações elevadas (DE MENEZES; ZANET; VALERA, 2003). As principais complicações relacionadas ao uso do hipoclorito de sódio em endodontia foram reveladas por Freitas e Alves (Apud SOARES, et al., 2007), onde este pode causar reações inflamatórias graves, edema, dor, hematomas, necrose e anestesia temporária. A clorexidina é um agente antimicrobiano oral eficaz para a terapia periodontal, prevenção de cáries e irrigação endodôntica, uma vez que possui amplo espectro de ação antimicrobiana e substantividade.
[014] No entanto, apresenta apenas ação antiomicrobiana, não é um solvente do tecido, e os detritos podem permanecer aderidas nas paredes da raiz, obstruindo os túbulos dentinários (DE MENEZES; ZANET; VALERA, 2003). A clorexidina parece ser uma alternativa em endodontia no preparo químicomecânico, e apresenta uma importante característica de solução irrigadora, pois possui atividade antimicrobiana de amplo espectro. Porém por não apresentar atividade de dissolução tecidual, esta tem sido usada como medicação intracanal ou irrigante final, com resultados promissores na redução dos níveis de microinfiltração coronária, melhor fixação dos cimentos endodônticos na superfície dentinária e aumentando a longevidade de adesão destes (PRADO; ASSIS; SIMÃO, 2014).
Soluções quelantes
[015] O uso de soluções como o hipoclorito de sódio que possui atividade antimicrobiana e de remoção do material orgânico é importante no tratamento endodôntico, porém este tipo de solução não é eficaz na remoção da smear layer. Assim, faz-se necessário o uso de soluções complementares para a remoção do material inorgânico (DECHICHI; MOURA, 2006).
[016] Atualmente a irrigação do sistema de canais radiculares é realizada com o uso de soluções quelantes, como é o caso do EDTA (Ácido etilenodiaminotetracético). O EDTA é uma substância quelante que remove íons cálcio, limitando assim a formação do smear layer, removendo assim a parte inorgânica e deixando a parte orgânica para ser removida por um agente irrigante, como por exemplo, o hipoclorito de sódio e o laurilssulfato de sódio (OLIVEIRA et al., 2012).
Soluções Detergentes
[017] Detergentes ou como denominados quimicamente, tensoativos ou surfactantes são substâncias com capacidade de saponificação como os sabões, portanto, apresentam capacidade de reduzir a tensão superficial dos líquidos. Devido a esta propriedade física de redução da tensão superficial, apresentam a capacidade de formar suspensão de resíduos com característica graxa (LEONARDO; LEONARDO, 2012). A utilização de soluções irrigadoras detergentes em endodontia já ocorre há muito tempo, como citado por Paiva e Antoniazzi (1988), o uso destes auxilia na instrumentação e traz resultados satisfatórios. Essa capacidade auxiliar é devido à alta capacidade de limpeza, onde a molécula do tensoativo sintético apresenta uma calda apolar que se liga a gorduras e uma cabeça polar que se liga a água, formando uma emulsão de fácil remoção. É comum o uso de detergentes sintéticos como auxiliares na limpeza do canal radicular, um exemplo é o Tween 80® ou Polissorbato 80, que age reduzindo a tensão superficial, auxiliando assim a penetração de outras substâncias nos túbulos dentinários e também funcionando com um umectante e emulsionante, complexando-se com gorduras e mantendo-as em suspensão, facilitando assim sua retirada do canal (POLIDORO et al., 2007).
[018] Os detergentes sintéticos podem ser utilizados de forma isolada ou em associação com outros ativos que irão auxiliar na limpeza do canal radicular e túbulos dentinários. No mercado, existem atualmente alguns detergentes sintéticos, tais como Duponol C® (Alquil sulfato de sódio), Zefiról® (Cloreto de benzalcônio), Dehyquart-A® (Cloreto de cetiltrimetilamônio), Tween 80® (Polissorbato 80), Triton X-100® (Cetramida) (LEONARDO; LEONARDO, 2012). A atividade de um surfactante pode ser além da função de limpeza. Um estudo realizado por Bolfine e colaboradores (2014) demonstrou que a associação de hipoclorito de sódio a 1% ao surfactante Hypoclean® (cetrimida) aumentou a atividade antimicrobiana em níveis semelhantes aos resultados obtidos com a solução de hipoclorito de sódio a 5%. Porém, o aumento de potenciais efeitos colaterais e preocupações com a segurança levaram à recente popularidade de medicamentos à base de plantas e produtos naturais no tratamento endodôntico.
Própolis
[019] Atualmente há uma tendência para a aplicação de compostos biológicos extraídos de plantas naturais. De especial interesse, a própolis é uma resina coletada por abelhas das árvores e depositada nas colmeias, e esta quando utilizada na forma de extrato, pode apresentar diferentes atividades biológicas, incluindo a antimicrobiana, anti-inflamatória, antioxidante, anestésica, citotóxica, imunomoduladora, antidiabética, antifúngica, anticancerígena e cicatrizante. A Própolis possui várias propriedades farmacológicas, dentre elas, a antimicrobiana. Esta ação antimicrobiana (bacteriostática e bactericida) do extrato de própolis já foi identificada em diferentes espécies de bactérias. A própolis que é considerada um produto natural, ganhou interesse neste contexto devido à sua eficácia antibacteriana contra vários patógenos endodônticos, tais como o Enterococcus faecalis e o Staphylococcus aureus, comprovado no presente estudo. No caso, empregou-se nas formulações, uma própolis com características químicas definidas, qualitativa e quantitativamente, com teores definidos de marcadores químicos, a saber os ácidos p-cumárico, o 3-prenil-4-hidroxicinâmico, o 3,5-diprenil-4-hidroxicinâmico, entre outros. Esse tipo de própolis é caraterístico de uma região geográfica no Brasil, englobando os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Além do mais, utilizou-se própolis sem etanol, eliminando um componente que pode causar toxicidade.
[020] A maioria dos estudos e patentes concedidas que se propuseram ou avaliaram soluções irrigadoras como própolis apresentam composições químicas similares contendo própolis advindas de outras regiões do mundo, majoritariamente em soluções de extratos etanólicos. As soluções aqui propostas não contêm etanol, mantendo-se assim as características de um produto natural.
[021] A solução irrigadora com própolis para aplicação em endodontia aqui proposta, trata-se de um produto que contém em sua composição uma associação de substâncias que são capazes de dissolver material orgânico e se complexar com material inorgânico, bem como apresenta atividade antimicrobiana contra as principais cepas de bactérias comumente encontradas nos condutos radiculares, especialmente em casos de necropulpectomia. A solução irrigadora desenvolvida apresentou também comprovada estabilidade frente aos testes realizados durante o seu desenvolvimento farmacotécnico, o que garante a integridade das suas características organolépticas durante o seu prazo de validade. As metodologias utilizadas no estudo de estabilidade e de análises físico-químicas das amostras de própolis seguiram as normas vigentes descritas pela ANVISA e MAPA. Desta forma, demonstrou-se que são soluções estáveis e passíveis de serem comercializadas.
[022] Ao se avaliar a atividade antibacteriana contra principais cepas de bactérias comumente encontradas em condutos radiculares (Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus) observou-se que, embora os resultados fossem mais promissores para a solução de clorexidina em relação aos halos de inibição, os resultados das amostras de própolis causaram inibição do crescimento microbiano significativamente maior que a da solução de hipoclorito de sódio. Embora os resultados não tenham sido tão efetivos quanto à clorexidina, a solução irrigadora com própolis aqui proposta possui vantagens pelo fato da clorexidina não apresentar atividade de dissolução tecidual, sendo mais usada como mais uma solução irrigadora intracanal ou como solução irrigante final. De forma geral, a ação antimicrobiana da clorexidina parece estar relacionada somente ao seu caráter iônico, pois é uma substância catiônica capaz de desestruturar a membrana celular bacteriana, alterando assim o equilíbrio osmótico dos micro-organismos. Investigações adicionais também demonstraram que a clorexidina é tóxica para células odontoblásticas e também a células-tronco de dentes decíduos humanos esfoliados.
[023] Na prática odontológica a própolis é utilizada como agente de cobertura de polpa, medicamento intracanal, irrigante intracanal, enxaguatório bucal, agente cariostático, meios de armazenamento para dentes avulsos para manter a viabilidade dos ligamentos periodontais, tratamento de periodontite e estomatite dentária (BADOLE; BAHADURE; KUBDE,2016).
Estudos pré-clínicos da própolis em endodontia
[024] A própolis apresenta vários compostos de interesse farmacêutico e cada vez mais, busca-se o desenvolvimento de estudos clínicos e pré-clínicos a fim de demonstrar suas ações farmacológicas. Um estudo pré-clínico buscou evidenciar o efeito antibacteriano da própolis (5%), comparado com a terapia fododinâmica, ozônio, clorexidina (2%), hipoclorito de sódio (2,5%) e placebo em um estudo in vitro. Os canais radiculares foram contaminados com 0,1mL de Enterococcus faecalis (3x108 células/mL) e distribuídos aleatoriamente entre os grupos de tratamento. Após o tratamento, foram colhidas amostras, cultivando-se em placas de Agar sangue para se determinar o número de unidades formadoras de colónias (UFC/mL). O grupo com a menor contagem de UFC/mL foi o do ozônio, que apresentou valores semelhantes ao grupo tratado com própolis. Neste mesmo estudo, as imagens dos cortes histológicos dos dentes analisadas por microscopia eletrônica de varredura, mostrou que as aplicações de própolis, clorexidina e ozônio apresentaram potencial antibacteriano semelhante ao hipoclorito de sódio a 2,5% (CAMACHO; SALMERÓN; MARTINEZ, 2016). Em um estudo realizado por Tyagi e colaboradores (2013) em pré-molares humanos, os mesmos foram preparados biomecanicamente e colocados em poços de cultura de tecidos expondo-se a superfície do canal radicular a Candida albicans. Ao fim de dois dias, os canais radiculares foram tratados com soluções de própolis a 11%, hipoclorito de sódio e extratos vegetais. Após 10 min foram coletadas amostras e foi avaliado o crescimento de Candida albicans e o número de unidades formadoras de colônias. O grupo tratado com o hipoclorito de sódio e o grupo tratado com própolis (5%) apresentaram maior eficácia antimicrobiana contra C. albicans, sem diferença estatisticamente significativa. De acordo com os resultados deste estudo, a própolis pode ser utilizada como um agente antifúngico eficaz semelhante ao hipoclorito de sódio (TYAGI, et al., 2013). No estudo de revisão de Badole, Bahadure e Kubde (2016), a própolis (3%) foi eficaz contra o Enterococcus faecalis. Segundo os autores o extrato hidroalcoólico da própolis poderia ser um bom agente antimicrobiano contra Enterococcus faecalis, especialmente após contato direto com esse micro-organismo. Em outro estudo onde foi analisada a atividade da própolis sobre o Enterococcus faecalis, apesar das limitações, a própolis mostrou melhores propriedades antimicrobianas do que o tratamento com metronidazol e clorexidina associados. Neste estudo 90 dentes humanos foram contaminados com Enterococcus faecalis, as amostras foram incubadas durante um período de 21 dias e tratadas com a própolis, metronidazol associado a clorexidina, hidróxido de cálcio, Curcuma longa e solução salina. O tratamento com a própolis produziu o melhor efeito antimicrobiano (SAHA; NAIR; ASRANI, 2015). Quando comparada a atividade antimicrobiana da própolis (5%) ao hipoclorito de sódio a 2,5% contra o Enterococcus faecalis, não foi encontrada diferença significativa sobre a inibição do crescimento microbiano (P<0,001), demonstrando-se que a própolis pode ser um potente agente microbiano assim como o hipoclorito de sódio, pois apresenta atividade antimicrobiana significativa contra Enterococcus faecalis (SAXENA et al., 2015). A própolis em combinação com antibióticos como a ciprofloxacina e a moxifloxacina pode apresentar um efeito sinérgico. A eficácia destes medicamentos foi testada verificando a zona de inibição de crescimento para o Enterococcus faecalis. A zona média de inibição foi máxima no grupo própolis (3%) combinado com moxifloxacino (21,94 ± 4,26) e para o grupo própolis a média foi de 18,71 ± 4,26 (SHRIVASTAVA et al., 2015). Neste estudo de Shrivastava e colaboradores (2015), ficou demonstrado que a própolis e o hidróxido de cálcio apresentam efeito sinérgico com a moxifloxacina e a ciprofloxacina contra Enterococcus faecalis. Porém a própolis em combinação com antibióticos e sozinha é mais eficaz do que o hidróxido de cálcio. A própolis pode ser considerada como um medicamento intracanal quando comparada com o hidróxido de cálcio.
[025] A própolis brasileira (1,6%) foi testada contra Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis isolados de dentes humanos e mostrou ação antimicrobiana sobre essas bactérias (MONCLA et al., 2012). A atividade antibacteriana contra Enterococcus faecalis de 2 amostras de própolis foi investigada em um modelo de bloco de dentina. O espaço do canal radicular foi preenchido com um dos extratos etanólicos de própolis, clorexidina 2%, hidróxido de cálcio, etanol ou solução salina tamponada com fosfato para controle. Todos os agentes experimentais reduziram significativamente o número de bactérias cultiváveis, ao final do estudo a clorexidina e a própolis não apresentaram diferenças nos resultados (KAYAOGLU et al., 2011). A atividade antimicrobiana de duas pastas experimentais contendo extrato de própolis (sem concentração descrita) associadas a hidróxido de cálcio foi avaliada contra culturas polimicrobianas coletadas de 16 canais necróticos e de fístula em molares primários de crianças de ambos os sexos de 4 a 8 anos, mostrando que a associação entre própolis e hidróxido de cálcio foi eficaz no controle de infecções dentárias in vitro (DE REZENDE et al., 2008). Quando comparado o efeito antimicrobiano do extrato etanólico de própolis, hidróxido de cálcio, paramonoclorofenol canforado e formocresol por meio do método de macrodiluição, todos os as medicações intracanal foram eficazes contra todas as estirpes testadas (P.nigrescens, Fusobacterium nucleatum, Actinomyces israelii, Clostridium perfringens, e Enterococcus faecalis, sem diferenças estatísticas). O etanol não influenciou no efeito antimicrobiano do extrato de própolis (FERREIRA, et al., 2007). O efeito antimicrobiano do extrato etanólico de própolis comparado com o gliconato de clorexidina em Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus, Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus salivarius, Agnagatibacter actinomycetemcomitans, Prevotella intermedia, Porphyromonas gingivalis, Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Actinomyces israelii e Candida albicans pelo método de diluição em ágar e microdiluição em caldo, mostrou que ambos os agentes inibiram o crescimento de todas as espécies. Os resultados deste estudo revelaram que a própolis era mais eficaz na inibição de bactérias Gram-positivas do que as bactérias Gram-negativas e foi sugerido que poderia ser tão eficaz quanto a clorexidina em micro-organismos orais (AKCA et al., 2016).
[026] As propriedades inibitórias e bactericidas de 39 amostras de própolis da África do Sul e de três amostras de própolis do Brasil foram testadas utilizando-se os ensaios de concentração mínima inibitória (MIC) e concentração mínima bactericida (MBC). Algumas amostras mostraram uma atividade antimicrobiana substancial com valores de MIC e MBC tão baixos como 6 μg/mL contra Staphylococcus aureus. As amostras de própolis da África do Sul mostraram atividade antimicrobiana, comparável às amostras brasileiras. A atividade antimicrobiana observada da própolis pode ser atribuída ao seu conteúdo em flavonoides e ácidos aromáticos (SULEMAN et al., 2015). A atividade antimicrobiana da própolis marrom do cerrado do Mato Grosso, foi avaliada em trinta discos de dentina preparados a partir de incisivos centrais maxilares bovinos intactos. Estes foram então infectados com Enterococcus faecalis durante 21 dias. Foi testada uma pasta de hidróxido de cálcio com Carbowax 400 (grupo de controle), uma pasta de própolis marrom a 20% e 40% e uma pasta de hidróxido de cálcio com própolis marrom a 20% e 40%. Neste estudo todos os medicamentos experimentais reduziram significativamente o número de bactérias viáveis. A própolis marrom brasileira apresentou uma capacidade antibacteriana contra Enterococcus faecalis, podendo ser utilizada como medicação intracanal ou como uma solução irrigadora do canal radicular (PIMENTA, et al., 2015). A eficácia antimicrobiana da própolis (2%) foi comparada a da clorexidina (2%) e ao hidróxido de cálcio contra Enterococcus faecalis em dentina da raiz de dentes de humanos. Na análise microbiológica o número de unidades formadoras de colónias foi significativamente menor em todos os grupos experimentais em comparação com o grupo de controle. A própolis, ao final do estudo, apresentou 70,57% de ação antimicrobiana, enquanto a clorexidina apresentou 100% de eficácia (BHANDARI; ASHWINI; PATIL, 2014). A própolis (2%) quando usada na remoção de biofilme de Enterococcus faecalis intraradicular em dentes humanos extraídos, não foi tão eficaz quanto a solução de hipoclorito de sódio a 1%, com escores de remoção de 100% para o hipoclorito e de 67% para a própolis (BHARDWAJ et al., 2013).
[027] O hidróxido de cálcio, clorexidina a 2% e própolis (2%) contra Enterococcus faecalis e Candida albicans em modelo de dentina infectados, reduziram significativamente a formação de colônias e não houve diferença significativa entre a clorexidina e própolis. Já a eficácia antifúngica foi estatisticamente significativa apenas para a clorexidina (CARBAJAL MEJÍA, 2014).
[028] O extrato glicólico de própolis a 12% foi capaz de eliminar os microorganismos como, Candida albicans, Enterococcus faecalis e Escherichia Coli nos canais radiculares e reduzir a quantidade de endotoxinas. Quando comparada a clorexidina, esta foi mais eficaz na neutralização de endotoxinas e menos eficaz contra Candida albicans (MAEKAWA et al., 2013). A própolis (15%) é um agente antimicrobiano intracanal eficaz, mostrando-se mais potente do que o hidróxido de cálcio e exigiu-se uma concentração muito menor de própolis para atividade inibitória contra Enterococcus faecalis (ZARE JAHROMI; TOUBAYANI; REZAEI, 2012). A própolis (5%) mostrou atividade antimicrobiana contra Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Candida albicans, assim como os outros irrigantes testados. Neste estudo, foi comparando o efeito da própolis com a clorexidina na inibição do crescimento de Enterococcus faecalis, apresentando como resultado um halo de inibição de 15,8 e 18,7mm, respectivamente. Para a Candida albicans a própolis apresentou um halo de inibição de 14,5mm, enquando a clorexidina apresentou um halo de 22,05 mm. A própolis não apresentou resultados significativos para Staphylococcus aureus (MATTIGATTI et al., 2012). A atividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio, de uma mistura triantibiótica (ciprofloxacina, minociclina a metronidazol) e do extrato etanólico de própolis como medicamentos intracanais, em canais radiculares infectados com Enterococcus faecalis. O percentual de redução nas contagens de colônias foi maior para própolis mostrando redução de 100% no segundo dia de estudos, seguido da mistura triantibiótica com 100% de redução no terceiro dia. O hidróxido de cálcio mostrou um aumento gradual na atividade antibacteriana com um máximo de 59,4% no dia 7 (MADHUBALA; SRINIVASAN; AHAMED, 2011). A própolis mostrou atividade antimicrobiana, com valores de concentração inibitória mínima (CIM) de 0,3 e 0,075mg/mL para Enterococcus faecalis e Candida albicans, respectivamente. Parecendo ser mais efetiva quando comparado aos resultados obtidos com a clorexidina a 2%, cuja CIM foi entre 0,512 e 0,032 mg/mL. Assim como a clorexidina, a própolis parece ser uma alternativa eficaz na erradicação de Enterococcus faecalis e Candida albicans nas infecções endodônticas (ARSLAN et al., 2011). A atividade antibacteriana da própolis iraniana foi determinada pelo uso da concentração inibitória mínima e da concentração bactericida mínima em diferentes concentrações de própolis. O extrato etanólico mostrou atividade bacteriostática e bactericida contra todas as estirpes, com doses de 250-500 μg/mL, já para o extrato aquoso foi de 500 μg/mL contra Streptococcus mutans e Enterococcus faecalis. O extrato aquoso mostrou atividade bactericida apenas contra Streptococcus mutans (20mg/mL) (JAFARZADEH KASHI et al., 2011). A atividade antibacteriana da própolis (2%) de origem iraniana contra Enterococcus faecalis foi comparada a clorexidina e hidróxido de cálcio em um modelo de bloco de dentina, ficando evidenciado que ambos os agentes reduziram significativamente o número de bactérias cultiváveis, no entanto, a atividade da própolis não excedeu a da clorexidina. Neste estudo foi determinado que os flavonoides presentes na própolis possivelmente fossem os responsáveis pela atividade antibacteriana (KAYAOGLU et al., 2011). A infecção de 180 dentes humanos com Enterococcus faecalis após 21 dias da extração foi realizada para avaliar a ação antimicrobiana da própolis (2%), iodo polvidona 2%, gel de clorexidina 2% e hidróxido de cálcio. Os resultados demonstraram que todos os tratamentos quando comparados ao controle negativo foram estatisticamente significativos em relação a contagem de unidades formadoras de colônias. A própolis apresentou uma eficácia antimicrobiana de 71% comparada a clorexidina que foi de 100%. Apesar da diferença, a própolis foi eficaz na desinfecção de dentina de dentes extraídos (KANDASWAMY et al., 2010). O uso da própolis como um medicamento intracanal foi comparado a uma pasta de hidróxido de cálcio em um período curto de um a dois dias em cinquenta discos de dentina de sete mm de comprimento de dentes humanos. Estes discos foram contaminados com Enterococcus faecalis e tratados com própolis (5%) ou hidróxido de cálcio, onde os resultados antimicrobianos obtidos com a própolis foram significativamente mais efetivos do que com o hidróxido de cálcio (AWAWDEH; BEITAWI; HAMMAD, 2009). Em um estudo realizado por Pavilonis e colaboladores (2008) ficou evidenciada a atividade antimicrobiana da própolis contra bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis) e Gram-negativas (Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Proteus mirabilis). Pareceu existir uma relação direta entra a composição química da própolis (Croácia) e sua atividade antimicrobiana, pois em um estudo realizado com amostras de própolis com conteúdo de flavonoides totais acima de 1% demonstraram apresentar atividade antimicrobiana sobre Bacillus subtilis, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e sobre o fungo Candida albicans (KOSALEC, et al., 2005). O fato da própolis poder ser utilizada como um medicamento intracanal já está bastante evidente, principalmente em canais radiculares contaminados por Enterococcus faecalis.
[029] O tratamento com própolis revelou boa atividade antibacteriana (ONCAG et al., 2006).
Estudos clínicos com a própolis
[030] A própolis em um estudo clinico comparado com o tratamento com formocresol (padrão ouro) em pulpotomia de dentes molares primários demonstrou ser efetiva para os sinais clínicos e radiológicos até seis meses após o tratamento. Os resultados demonstraram que no grupo tratado com extrato aquoso de própolis a 33% (n = 15), de origem coreana, ao final de três meses apresentavam ausência de sintomas clínicos e alterações radiográficas, no entanto, no final de seis meses, um dente no grupo “própolis” apresentou sinais de falha radiográfica, mas clinicamente julgou estar livre de sintomas (HUGAR, et al. 2017). Hugar e colaboradores (2017) demonstraram preocupação sobre a segurança do uso do formocresol, e consideram a própolis como uma alternativa promissora para o mesmo no tratamento endodôntico pediátrico. O potencial de uma solução aquosa de extrato de própolis a 25%, contra micro-organismos presentes nos canais radiculares dos dentes primários durante procedimentos endodônticos foi confirmado. Ao todo 70 pacientes na faixa etária de 4-7 anos com evidência radiográfica de exposição de polpa cariosa foram incluídos no estudo. Os dentes selecionados foram divididos em dois grupos: solução salina isotônica 0,9% e solução aquosa de extrato de própolis a 25%. As amostras bacterianas foram coletadas pré e pós-irrigação e transferidas para tubos de ensaio. A eficácia antimicrobiana do extrato de própolis nos canais radiculares de dentes primários foi confirmada no estudo (VERMA, et al., 2014).
[031] Considerando a baixa toxicidade e eficácia antibacteriana, o extrato solúvel em água com 25% de própolis pode ser defendido como um irrigante do canal radicular no tratamento endodôntico de dentes primários (VERMA, et al., 2014). Um ensaio clínico randomizado foi conduzido em um grupo de 60 crianças com idades entre 6-12 anos apresentando um abscesso apical agudo dos molares primários superiores. A irrigação durante a pulpectomia foi realizada empregando-se clorexidina a 2%, hidróxido de cálcio a 4%, DMSO 4% e extrato de própolis a 4%. As amostras microbiológicas foram retiradas do canal radicular antes de se iniciar a pulpectomia bem como após 3 dias do tratamento. Em todos os quatro tratamentos foi observada a diminuição significativa na contagem média de unidades formadoras de colónias aeróbias (JOLLY, et al., 2013).
Ação antioxidante da própolis
[032] Na endodontia, a própolis é investigada como uma droga intracanal para o tratamento do canal radicular, um promotor da regeneração óssea e desinfetante de cavidade antes do sistema adesivo (KALYONCUOGLU et al., 2015) e esta pode influenciar a adesividade destes, pois a atividade antioxidante parece aumentar a resistência do sistema adesivo. A capacidade antioxidante da própolis pode colaborar nos tratamentos endodônticos, pois segundo Kalyoncuoglu e colaboradores (2015) o uso da própolis da Turquia apresentou os dois maiores valores de força de ligação entre todas as soluções de irrigação quando usada como irrigante final após o tratamento com hipoclorito de sódio. Isso pode ser atribuído à capacidade antioxidante dos flavonoides encontrados na própolis que elimina o efeito adverso do hipoclorito de sódio sobre a polimerização de monómeros de resina. Um estudo realizado com a própolis da Turquia (30%) e hidróxido de cálcio mostrou que não houve falha adesiva para o grupo tratado com própolis, possivelmente por esta apresentar atividade antioxidante. Este aumento na adesividade do selante AH Plus® usado no estudo parece estar ligado à composição da própolis, principalmente seus compostos hidrofilícos. Os autores sugerem que a reação química existente entre a própolis e resina epóxi pode ser melhor investigada (ÜSTÜN; ARSLAN; ASLAN, 2013). Ao se analisar a atividade antioxidante de diferentes amostras de própolis de Melo e colaboradores (2014) verificaram que as amostras de diferentes regiões brasileiras possuem capacidades antioxidantes diferentes. Ficou evidenciado que as amostras da região Sudeste apresentavam maior atividade antioxidante, enquanto as da região Sul e Centro-Oeste apresentaram respostas semelhantes significativamente e a da região Nordeste foi a que teve menor atividade antioxidante. Um estudo com extratos de própolis da Argélia demonstrou potente atividade antioxidante e de redução notável dos radicais livres. Os extratos com maiores quantidades de compostos fenólicos e flavonoides foram os que apresentaram propriedades antioxidantes mais pronunciadas. Os autores concluíram que o maior conteúdo de fenóis e flavonoides está relacionado a uma potente atividade antioxidante (NARIANME et al., 2017). O extrato de própolis de origem Chinesa apresentou efeitos protetores significativos contra a morte de fibroblastos induzida por peróxido de hidrogênio (H2O2) e inibiu significativamente o declínio da expressão de colágeno. Possivelmente este efeito está relacionado à redução do estresse oxidativo pelo extrato de própolis (CAO et al., 2017). Uma amostra de extratos etanólicos de própolis de Apis mellifera encontradas no Mato Grosso do Sul rica em compostos fenólicos, terpenos e tocoferol apresentou uma atividade antioxidante contra o radical livre 2,2-difenil-1 picrilidrazila (DPPH), com atividade máxima na concentração de 300µg/mL. Este extrato foi capaz também de inibir a peroxidação lipídica induzida por AAPH (BONAMIGO et al., 2017). Há um grande número de evidências de que a própolis exerce muitas funções biológicas que podem ser atribuídas aos seus componentes antioxidantes e anti-inflamatórios, incluindo diferentes classes de polifenóis. Um estudo sobre o efeito de dois extratos de própolis, quimicamente caracterizados, mostrou que a própolis marrom, cujos principais componentes polifenólicos são flavonoides, apresentou maior atividade antioxidante e anti-inflamatória, quando comparada a própolis verde (cujos componentes polifenólicos principais são derivados do ácido hidroxicinâmico) (ZACCARIA et al., 2017). Entre os múltiplos componentes da própolis do Irã, os flavonoides contribuem grandemente para a atividade antioxidante da própolis. Os flavonoides existem principalmente sob a forma de derivados conjugados, sendo os glicósideos de quercetina os majoritários na própolis (ZHENG et al, 2017). A própolis verde brasileira é conhecida como um antioxidante natural apreciável com abundantes compostos polifenólicos. O resultado de um estudo mostrou nove compostos com atividades de eliminação de radicais livres. Os ácidos cafeoilquínicos e o Artepillin-C parecem ser os principais componentes efetivos da própolis verde brasileira devido à sua especificidade e forte atividade antioxidante (ZHANG et al., 2017).
[033] Abaixo, a estrutura química do Artepillin-C (ácido 3,5-diprenil-hidroxicinâmico):
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[034] O extrato etanólico de própolis (500µg/mL) obtido de abelhas nativas brasileiras (cerrado) mostrou conter fitoesteróis, terpenos, compostos fenólicos e tocoferol em diferentes concentrações, sendo que este extrato conseguiu inibir a formação de radicais livres no teste de DPPH (BONAMIGO et al., 2017).
[035] A própolis verde coletada durante um período de seis anos (2008-2013) no estado de Minas Gerais, apresentou resultados de valores médios de flavonoides totais (3,4 ± 0,11 mg/g) e atividade antioxidante em DPPH (4,76 ± 0,16 μg/mL), estando dentro dos padrões propostos pelo Ministério da Agricultura (DE FIGUEREIDO et al., 2017). O grande número de estudos realizados com própolis mostrou que sua composição química difere em função do clima, da diversidade de plantas e das espécies de abelhas e desempenha um papel importante nas suas propriedades terapêuticas. Os resultados obtidos com o rastreio fitoquímico de uma amostra de própolis vermelha do Estado do Alagoas, indicou a presença de taninos, catequinas, chalconas, auronas, flavononas, flavonóis, xantonas e triterpenóides. O extrato etanólico de própolis e as suas frações de hexano, clorofórmio e acetato de etila, obtidas por particionamento líquido-líquido exibiram percentagens de atividade antioxidante satisfatória (DE MENDONÇA et al., 2015). A capacidade antioxidante da própolis pode variar conforme sua a composição química. Uma amostra de própolis brasileira apresentou uma variação na atividade antioxidante (IC50) de 21,5 a 78,77 μg/mL, enquanto o conteúdo de compostos fenólicos totais variou de 31,88 a 204,30 mg/g de peso seco. Os compostos fenólicos totais e o retinoato de metila mostraram uma correlação positiva com a capacidade antioxidante, enquanto que o tetradecanal, γ-palmitolactona e hidroxicinamato de etila apresentaram correlação negativa (BITTENCOURT et al., 2015).
Própolis e citotoxicidade
[036] O teste de citotoxicidade in vitro consiste na avaliação de quão tóxica uma determinada substância é para um sistema biológico, neste caso para alguma célula específica. Este pode ser considerado então o primeiro teste de biocompatibilidade de qualquer substância (MARTINS et al., 2009). A citotoxicidade pode ser provocada devido à irritação química causada pelos materiais, bem como pelas mudanças de pH que ocorrem na proximidade dos materiais durante a sua utilização, tais como cimentos, resinas e soluções irrigadoras (TRUMPAITE-VANAGIENE et al., 2015). Existe uma crescente importância em odontologia em avaliar a biocompatibilidade dos componentes usados em endodontia, através de metodologias como a cultura celular. Esses testes podem prever efeitos citotóxicos em células de tecidos onde foram aplicados ou utilizados estes produtos ou substâncias (VAN WYK et al., 2001).
[037] Uma amostra de própolis de Caeté, Minas Gerais, apresentou baixo poder citotóxico (< 50%) em um estudo de preparações de verniz de matriz polimérica contento o extrato etanólico em diferentes concentrações (5, 10 e 15%). O teste de citotoxicidade foi feito pelo método MTT e os resultados mostraram que nenhum dos vernizes foi citotóxico, mantendo 80% das células viáveis, enquanto a matriz do verniz permitiu a proliferação celular (120%) (DE LUCCA et al., 2014).
[038] Uma amostra de extrato etanólico de própolis verde brasileiro foi avaliada quanto a sua atividade anti-inflamatória e antioxidante, bem como a citotoxicidade em macrófagos J774A. Os principais compostos identificados nesta amostra foram o Artepillin-C, canferida e seus derivados. Nas concentrações testadas, o extrato etanólico de própolis verde não diminuiu a viabilidade celular e não causou a citotoxicidade (SZLISZKA et al., 2013).
[039] Foram estudadas oito amostras de própolis do Brasil e de Cuba sendo revelado um efeito citotóxico inerente contra os queratinócitos humanos (500µg/mL). Desta forma, para ter um uso não citotóxico e seguro de própolis, é necessário empregar uma concentração abaixo dos valores citotóxicos (IC50) (LOPEZ et al., 2015).
Atividade anti-inflamatória da própolis
[040] A própolis brasileira é popularmente utilizada como tratamento para diferentes doenças, incluindo aquelas com origem inflamatória. Em um estudo realizado por Bueno-Silva e colaboradores (2016) a própolis aparece como um promissor produto natural anti-inflamatório cujo mecanismo parece ser a redução da adesão de leucócitos, a diminuição na libertação de fator de necrose tumoral (TNF-alfa), Interleucina I e de Quimiocitocinas (BUENO-SILVA, 2016). A propriedade anti-inflamatória da própolis pode estar relacionada à presença de compostos como o cafeato de feniletila (BADOLE; BAHADURE; KUBDE, 2016). Este composto foi relatado como tendo propriedades anti-inflamatórias envolvendo a inibição de certas atividades enzimáticas, como a ciclo-oxigenase e inibição do fator nuclear KB (NF-kB). O estudo destes compostos e da própolis representa uma fonte importante de pesquisa para o desenvolvimento de agentes anti-inflamatórios novos e seguros (ARMUTCU et al., 2015).
[041] Uma amostra de própolis do sul do Brasil apresentou potente atividade anti-inflamatória por inibir a ativação do NF-kB e reduzir a liberação do TNF-alfa em macrófagos. Tiveron e colaboradores (2016) relatam que as mesmas evidências foram encontradas em amostras de própolis verde da região sudeste do Brasil (TIVERON et al., 2016). A atividade anti-inflamatória encontrada na própolis pode estar relacionada a presença dos flavonoides, pois como demonstrado na literatura estes possuem atividade inibitória sobre a ciclo-oxigenase (COX), além disso, a atividade antibacteriana pode estar relacionada também a presentes destes compostos (BARBOSA et al., 2014).
[042] Ao se analisar a importância de uma substância anti-inflamatória como é a própolis em aplicações endodônticas, encontra-se que tanto as irritações químicas, físicas e microbiológicas sobre os tecidos periapicais e sobre a polpa podem acelerar o processo inflamatório (MACHADO; DE FREITAS; SALES PERES, 2016). Segundo Bueno-Silva e colaboradores (2013) a manutenção de um tecido inflamado pode promover a necrose de tecidos e consequente perda da estrutura óssea na cavidade oral. Assim, o uso de um medicamento intracanal com atividade anti-inflamatória poderá reduzir as severidades causadas durante um processo inflamatório (SILVA; ALMEIDA; SOUZA, 2004).
[043] A análise da literatura científica demonstra que a própolis possui várias propriedades farmacológicas, dentre elas, a antimicrobiana. Esta atividade está direcionada principalmente contra bactérias Gram-positivas, sendo menos efetiva sobre as bactérias Gram-negativas. Ficou evidenciada a atividade antimicrobiana da própolis contra bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis). Já a capacidade antioxidante pode colaborar nos tratamentos endodônticos, já que, o uso da própolis apresentou os dois maiores valores de força de ligação entre todas as soluções de irrigação quando usado como irrigante final após o tratamento com hipoclorito de sódio.
[044] A propriedade anti-inflamatória da própolis pode estar relacionada à presença de compostos como o cafeato de feniletila, envolvendo a inibição de certas atividades enzimáticas, como a ciclo-oxigenase e inibição do fator nuclear kB (NF-kB). As irritações químicas, físicas e microbiológicas sobre os tecidos periapicais e sobre a polpa podem acelerar o processo inflamatório.
[045] O teste de citotoxicidade in vitro consiste na avaliação de quão tóxica uma determina substância é para um sistema biológico, neste caso, para alguma célula específica. A citotoxicidade da própolis é dependente da dose.
[046] Vale ressaltar que a ação citotóxica está relacionada à atividade antimicrobiana, por isso para que uma substância tenha atividade antimicrobiana é preciso que esta seja levemente citotóxica.
DESENVOLVIMENTO FARMACOTÉCNICO
[047] A presente invenção refere-se a uma formulação irrigadora endodôntica contendo:
  • - Extrato de própolis: que apresenta a função antibacteriana;
  • - Olivato de Cetearila, Olivato de Sorbitano: comercialmente conhecido como Olivem 400®, que tem a função surfactante, detergente e tensoativa na solução;
  • - Ácido etilenodiaminotetraacetico: conhecido como EDTA, que tem a função quelante.
[048] Foram desenvolvidas formulações testes com esses três componentes em associação com demais matérias primas utilizadas no desenvolvimento das soluções, tais como água destilada, conservantes, estabilizantes a fim de criar uma solução irrigadora do canal radicular que realize a remoção dos debris orgânicos e inorgânicos, bem como, a desinfecção do canal radicular.
[049] A formulação irrigadora contém própolis em associação com substâncias que são capazes de dissolver material orgânico e se complexar com material inorgânico. Apresenta atividade antimicrobiana contra as principais cepas de bactérias comumente encontradas nos condutos radiculares, especialmente em casos de necropulpectomia. A formulação irrigadora apresenta também comprovada estabilidade frente aos testes realizados durante o seu desenvolvimento farmacotécnico, o que garante a integridade das suas características organolépticas durante o seu prazo de validade. As metodologias utilizadas no estudo de estabilidade e de análises físico-químicas das amostras de própolis seguiram as normas vigentes descritas pela ANVISA e MAPA.
[050] Foi realizada a análise das duas amostras de própolis utilizadas neste estudo, para o desenvolvimento das soluções irrigadoras do canal radicular.
[051] Quanto as características organolépticas, as amostras de própolis apresentaram um aspecto líquido e límpido, com aroma resinoso e sabor característico (forte e amargo). Uma das amostras (1) apresentou uma coloração laranja-amarelo (âmbar) e a outra (2) apresentou uma coloração com uma tonalidade mais esverdeada, classificada como laranja-amarelo-verde (âmbar), porém, ambas foram aprovadas na avaliação de suas características organolépticas.
[052] Quanto ao teor alcoólico, o teor médio encontrado na amostra de própolis (1) foi de 57°GL, idêntico ao encontrado para a amostra da própolis (2). A análise realizada por Sousa e colaboradores (2007) em 8 amostras de extratos de própolis mostrou um teor alcoólico com variação entre 57,91 a 65,25 °GL. De acordo com o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade da Própolis, o valor máximo permitido para o teor alcoólico de tinturas é 70°GL (BRASIL, 2001). Desta forma, ambas as amostras apresentaram teor alcoólico dentro dos limites estabelecidos na legislação em vigor.
[053] Quanto ao teor de sólidos solúveis em etanol, a amostra de própolis (1) apresentou um valor médio de sólidos solúveis de 11,51553% (±0,11414) enquanto a amostra (2) apresentou um teor de sólidos solúveis de 18,50333% (±0,25594). Assim a própolis (2) apresentou o maior teor de sólidos solúveis, isto é, possui a maior concentração de substância solúveis em veículo hidroalcoólico.
[054] Quanto aos fenóis totais, o teor de compostos fenólicos encontrados na amostra (1) foi de 1,535% (mm) e de 2,425% (m/m) para a amostra (2). Apesar do menor teor de compostos fenólicos encontrado na amostra de própolis (1), não se pode relacionar a uma menor atividade farmacológica desta amostra, visto que a própolis pode possuir mais de 200 compostos diferentes e estes podem também contribuem para a atividade desta. Porém quando se correlaciona os resultados da atividade antioxidante com o teor de fenóis totais, pode-se considerar que a resposta antioxidante obtida pelo teste do DPPH foi maior para a amostra (2), por esta apresentar um teor maior de compostos fenólicos. Foi estabelecida uma correlação positiva entre a concentração de compostos fenólicos totais versus a atividade antioxidante, por Andrade e colaboradores (2017) que chegaram à conclusão de que a atividade antioxidante da própolis é principalmente devida aos seus compostos fenólicos.
[055] Quanto aos flavonoides totais, utilizando o ensaio espectrofotométrico para a determinação de flavonoides totais expressos como equivalentes em quercetina, encontrou-se um teor de 0,469% (mm) para a amostra de própolis (1) e 0,755% (m/m) para a (2).
[056] A análise por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) foi utilizada para caracterizar o perfil cromatográfico para os compostos fenólicos presentes nas amostras de própolis. O perfil fenólico das amostras de própolis analisadas por HPLC parece ser semelhante, demonstrando que suas composições apresentam certa semelhança. Quando foi realizada a quantificação de alguns dos marcadores presentes nos extratos, por HPLC, foram encontradas diferenças na quantidade de cada um dos compostos mensurados, o que pode justificar os efeitos farmacológicos diferentes encontrados nas duas amostras de própolis. Com base no perfil fenólico foi possível identificar nas duas amostras de própolis a presença do ácido cafeico, ácido p-cumárico, ácido 3-prenil-4hidroxicinâmico e o ácido 3,5-diprenil-4-hidroxicinâmico (Artepillin-C).
[057] Ao se avaliar os resultados dos compostos analisados a amostra de própolis (2) foi a que apresentou os compostos mais abundantes, tais como o ácido p-cumárico com 3,93mg/mL e o Artepillin C com 3,78mg/mL.
Figure img0003
Legenda: DP - desvio padrão da média; CV% - coeficiente de variação; INC. -Incerteza simples; CaF - ácido cafeico; P-CUM - ácido p-cumárico; PHCA -ácido 3-prenil-4-hidroxicinâmico; DHCA - ácido 3,5diprenil-4-hidroxicinâmico (Artepillin C).
[058] Pode-se dar destaque para a presença do Artepillin C nas concentrações de 3,11 e 3,78 mg/mL para as amostras (1) e (2), respectivamente. A presença deste composto nas amostras é de extrema importância, pois o Artepillin-C é considerado um biomarcador da própolis de Baccharis dracunculifolia do Brasil (SALGUEIRO; CASTRO, 2016). A presença destes compostos pode ter relação direta com as atividades antioxidante e antimicrobiana (NUNES et al., 2012).
DESCRIÇÃO DA INVENÇÃO
[059] A presente invenção é composta pelos componentes: Extrato de Própolis com ou sem álcool, Ácido etilenodiaminotetraacetico (EDTA dissódico), Polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio (Olivem 400®) e Polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado (Cremophor HR40®) em associação com o conservante Imidazolidil uréia e água destilada, a fim de criar uma solução irrigadora do canal radicular que realize a remoção dos debris orgânicos e inorgânicos, bem como, a desinfecção do canal radicular.
Figure img0004
Legenda: % p/p: percentual peso/peso - Qsp: quantidade suficiente para.
[060] Para o desenvolvimento da invenção, inicialmente o extrato de própolis foi misturado ao Polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado, um tensoativo não iônico que tem a função de solubilizar as substâncias hidrofóbicas presentes no extrato de própolis, formando-se assim a fase 1, que ficou reservada. A quantidade do extrato de própolis pode variar conforme haja a presença ou não de álcool, sendo que a quantidade preferencial é de 5% quando utilizado o extrato de própolis com álcool e 0,5% quando utilizado o extrato de própolis sem álcool.
[061] Para o preparo da fase 2, a água foi aquecida até 60°C e foi adicionado o EDTA dissódico, após completa solubilização do EDTA, foi aguardado o resfriamento desta fase até 40°C e após foi adicionado o Polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio e a Imidazolidil uréia, agitando até completa solubilização.
[062] A mistura obtida na fase 2 foi vertida sobre a fase 1 obtendo-se assim a solução irrigadora.
[063] As soluções com 5% de própolis (2) e (1) foram desenvolvidas para avaliar o teste de estabilidade preliminar e acelerado. As demais soluções, utilizadas para a avaliação microbiológica, citotóxica e demais testes foi utilizando a mesma metodologia, porém com concentrações diferentes de própolis e com a presença e ausência do álcool e do EDTA nas formulações.
Tabela 4 - Padrões para as análises realizadas nos testes de estabilidade preliminar e acelerada.
Figure img0005
[064] Estes resultados servem como um padrão para analisar os produtos durante os testes de estabilidades e fornecem evidências de que a qualidade do produto será mantida mesmo com a influência de fatores como temperatura, umidade e luz. Para que o produto seja considerado estável, este deverá manter-se dentro dos limites aqui estabelecidos.
Teste da estabilidade preliminar Características organoléticas
[065] As características organolépticas foram avaliadas durante os 15 dias de estudo de estabilidade preliminar, e não foi verificada nenhuma modificação nas amostras submetidas ao estresse térmico. Ao se analisar a solução produzida com o extrato de própolis (2), não ocorreu nenhuma modificação nas amostras submetidas ao estresse térmico, exceto nos dias 8 e 9, que as amostras submetidas à temperatura de - 5°C (Freezer) congelaram, porém quando mantidas a temperatura ambiente por aproximadamente 10 minutos, as amostras voltaram ao estado líquido e não apresentam alteração de cor, odor e aspecto, então considerou-se estas amostras como levemente alteradas.
Determinação do pH
[066] Analisando-se os valores de pH das soluções de própolis (1) submetidas ao estresse térmico, verificou-se que o pH manteve-se estável, dentro dos limites pré-estabelecidos (pH de 4,53 a 5), sugerindo que não houve nenhuma alteração na formulação ou nos componentes da formulação (Figura 2 - A). Ao se avaliar os valores de pH das amostras de solução com própolis (2), os mesmos mantiveram-se dentro dos limites de pH (4,6 a 5,08), assim pode-se sugerir que não ocorreu a degradação dos componentes da formulação ou qualquer reação de instabilidade (Figura 2 - B).
[067] A FIGURA 2 apresenta os resultados dos valores de pH nas diferentes temperaturas dos testes de estabilidade preliminar da solução de própolis (1) (A) e (2) (B). Legenda: LS - Limite superior; LI - Limite Inferior.
[068] O pH das duas soluções manteve-se dentro dos limites pré-estabelecidos, demonstrando assim estabilidade entre os ingredientes da formulação, funcionando com um indicador de que não ocorreram reações de óxido-redução e reações de hidrólise. A manutenção dos valores de pH pode ser um indicativo de que também não houve interação entre os ingredientes da formulação, bem como da formulação com o material de acondicionamento.
[069] Pode-se considerar assim que ambas a soluções permaneceram estáveis e que não existem alterações sobre a qualidade final do produto quando submetidas ao teste de estabilidade preliminar.
Determinação da densidade
[070] Analisando-se a densidade das amostras de solução de própolis (1) submetidas ao estresse térmico foi verificado que durante todo o teste, apesar das variações mínimas, todas as amostras mantiveram seus valores de densidade dentro dos limites de 0,93 a 1,03 g/mL (Figura 3 - A). Em condições de estresse, pode ocorrer uma maior perda de água, fazendo com que ocorra a possibilidade de aumento nos valores da densidade. Porém as alterações ocorridas na densidade não foram significativas, mostrando que a solução não sofreu instabilidade. A densidade das amostras de soluções de própolis (2) assim com as anteriores manteve-se dentro dos limites de 0,97 a 1,07 g/mL (Figura 3 - B). Analisando todas as variáveis observou-se que ambas as formulações das soluções irrigadoras com própolis (1) e (2), mantiveram suas características organolépticas em comparação com as análises realizadas na amostra inicial, e mesmo com pequenas alterações, são consideradas aceitáveis segundo o Guia de Estabilidade de Produtos Cosméticos (BRASIL, 2004). As soluções também apresentaram valores de pH e densidade dentro dos limites de tolerância de 5% para mais ou menos os valores da amostra padrão demonstrando assim que as amostras poderiam passar para a próxima etapa, o teste de estabilidade acelerada.
[071] A Figura 3 apresenta os resultados dos valores de densidade nas diferentes temperaturas dos testes de estabilidade preliminar da solução de própolis (1) (A) e (2) (B). Legenda: LS - Limite superior; LI - Limite Inferior.
Teste de estabilidade acelerada
[072] O teste de estabilidade acelerada é um estudo projetado para induzir ou acelerar mudanças físicas e ou degradação química na formulação, simulando-se condições extremas de armazenamento. As condições utilizadas no estresse térmico e as análises realizam foram as mesmas utilizadas no teste de estabilidade preliminar. Já a periodicidade de avaliação das amostras foi no tempo zero, 24 horas e aos 7°, 15°, 30°, 60° e 90° dias.
Características organoléticas
[073] As amostras analisadas não apresentaram nenhuma modificação quando submetidas ao estresse térmico. Tanto as amostras da solução de própolis (1) quanto da (2) mantiveram-se estáveis durante os 90 dias de estudo (Tabela 5; Tabela 6), diferente do teste de estabilidade preliminar cujos resultados mostraram leves alterações em amostras da estufa e do freezer.
Figure img0006
Legenda: ASP (Aspecto); N (normal, sem alteração).
Figure img0007
Legenda: ASP (Aspecto); N (normal, sem alteração.
Determinação do pH
[074] Analisando-se os valores de pH das amostras de solução da própolis (1) submetidas ao estresse térmico, verificou-se que este manteve-se estável, dentro dos limites pré-estabelecidos (pH de 4,6 a 5,08) (Figura 4 - A), assim como as amostras da solução com própolis (2) (pH de 4,54 a 5,02) (Figura 4 -B).
[075] A Figura 4 apresenta os resultados dos valores de pH nas diferentes temperaturas dos testes de estabilidade acelerado da solução de própolis (1) (A) e (2) (B). Legenda: LS - Limite superior; LI - Limite Inferior.
[076] Estes dados sugerem que não ocorreram modificações químicas dos componentes utilizados na formulação.
Determinação da densidade
[077] Analisando-se a densidade das amostras da solução de própolis (1) e da (2) submetidas ao estresse térmico foi verificado que durante todo o teste de estabilidade acelerado, ocorreram pequenas variações em todas as amostras os valores mantiveram-se dentro dos limites de variação. A densidade das amostras da solução com própolis (1) apresentou um limite de variação de 0,93 a 1,03g/mL (Figura 5 - A) e as amostras da solução da amostra (2) de 0,97 a 1,07g/mL (Figura 5 - B). As alterações ocorridas na densidade não foram significativas, mostrando que a solução não sofreu instabilidade. Assim como teste de estabilidade preliminar, as amostras no teste de estabilidade acelerado, tanto a solução irrigadora com própolis (1) como a (2), em comparação com a amostra padrão mantiveram suas características organolépticas, sem qualquer tipo de alteração. Analisando-se as características físico-químicas das soluções, estas se mantiveram dentro dos limites de tolerância de 5% em relação aos valores da amostra padrão, demonstrando assim que as amostras são estáveis e passíveis de serem comercializadas. As formulações das soluções irrigadoras com própolis (1) e (2), acrescidas de Olivem 400® e EDTA apresentaram excelente estabilidade frente ao estresse térmico e a todas as condições de estresse induzidas, mantendo as características organolépticas iniciais. As duas formulações praticamente não apresentaram sinais de alterações físico-químicas. Após as modificações e adição do Cremophor HR40, a solução aumentou sua capacidade de incorporação do extrato hidroalcoólico de própolis a 10%, mantendo praticamente inalteradas as características de aparência, sem turvação da solução.
[078] A Figura 5 apresenta os resultados dos valores de densidade nas diferentes temperaturas dos testes de estabilidade acelerado da solução de própolis (1) (A) e (2) (B).Legenda: LS - Limite superior; LI - Limite Inferior.
Análises cromatográficas das soluções irrigadoras
[079] Ao se analisar o teor de compostos fenólicos e flavonoides, bem com a quantificação dos compostos fenólicos nas soluções irrigadoras, criou-se a possibilidade de comparação entre os dados obtidos na análise das amostras de própolis e da solução irrigadora pronta, como forma de identificar a influência dos demais componentes da formulação sobre a composição química da própolis.
Teor de fenóis totais nas soluções irrigadoras
[080] O teor de fenóis totais encontrados na solução irrigadora com 10% de própolis (1) foi de 0,1292% (mm) e de 0,1407% (m/m) para a amostra solução irrigadora com 10% de própolis (2) (Tabela 7). Quando comparados aos dados obtidos para o teor de fenóis obtidos na análise dos extratos, os teores das soluções irrigadoras foram menores. Porém vale ressaltar que a solução irrigadora foi preparada com 10% do extrato de própolis, então estes resultados podem ser julgados como 10 vezes menores em relação às análises do extrato.
[081] Porém quando se correlaciona os resultados da atividade antioxidante e teor de fenóis totais pode-se considerar que a resposta antioxidante obtida pelo teste DPPH foi maior para a solução irrigadora com a própolis (2), por esta apresentar um teor maior de compostos fenólicos. Como já mencionado, existem evidências de que, quanto maior o teor de fenóis totais, maior será a atividade antioxidante da solução. Analisando somente a solução base irrigadora, contendo Olivem®, EDTA, imidazolidil uréia e água, sem a própolis, não se identificou a presença de compostos fenólicos.
Figure img0008
Legenda: * (DP/Média)*100; **DP/Raiz(n) onde n é o número de medidas, no caso = 9. # Turvou várias vezes durante o procedimento, teste inconclusivo.
Teor de flavonoides nas soluções irrigadoras
[082] Utilizando o ensaio espectrofotométrico para a determinação de flavonoides totais expressos como equivalentes em quercetina encontrou-se um teor de 0,0714% (mm) para a solução irrigadora com 10% própolis (1) e 0,1365% (m/m) para solução irrigadora com 10% de própolis (2) (Tabela 8).
Figure img0009
Legenda: * (DP/Média)*100; **DP/Raiz(n) onde n é o número de medidas, no caso = 9. # Turvou várias vezes durante o procedimento, teste inconclusivo.
[083] Aqui constatou-se também um teor menor de flavonoides do que os encontrados nas amostras dos extratos de própolis, porém neste caso novamente ressalta-se que a solução irrigadora foi preparada com 10% do extrato de própolis, então estes resultados podem ser julgados como 10 vezes menores em relação as análises do extrato. Analisando-se somente a solução base irrigadora, contendo Olivem®, EDTA, imidazolidil uréia e água, sem a própolis, não se identificou a presença de flavonoides.
Quantificação dos compostos presentes nas soluções irrigadoras por HPLC
[084] A quantificação de cada um dos compostos presentes nas soluções irrigadoras com própolis por HPLC mostrou diferenças na quantidade de cada um dos compostos mensurados, assim como ocorreu na amostra dos extratos de própolis. Com base no perfil fenólico foi possível identificar nas duas amostras de soluções irrigadoras a presença do ácido cafeico, ácido p-cumárico, ácido 3-prenil-4-hidroxicinâmico e o ácido 3,5-diprenil-4-hidroxicinâmico (Artepillin-C). Também foi encontrada a presença do ácido ferúlico, que não foi encontrado na análise realizada com os extratos de própolis (Tabela 9). Ao se analisar os resultados a amostra de solução irrigadora com própolis (2) a 10% com álcool e sem EDTA, foi a que apresentou os compostos mais abundantes, tais como o ácido p-cumárico com 0,3784mg/mL e o Artepillin-C com 3,07mg/mL. Como já mencionado, os resultados encontrados na literatura científica corroboram com os encontrados nessas análises, principalmente quando se relaciona a presença de ácido cafeico, p-cumárico e do Artepillin-C em todas as soluções analisadas.
[085] Destaca-se a presença do Artepillin-C em todas as soluções analisadas, visto que este composto é de extrema importância, pois é considerado um biomarcador da própolis de Baccharís dracunculifolia do Brasil (SALGUEIRO; CASTRO, 2016). As formulações contento extrato etanólico de própolis apresentaram as menores quantidade de marcadores. Isso se deve ao fato de que talvez na formulação estejam menos disponíveis do que nas sem álcool. O extrato etanólico de própolis é muito pouco compatível com água, solvente no qual foram desenvolvidas as formulações. Exemplificando essa diferença, a concentração de Artepillin-C na solução sem álcool com EDTA da (amostra 1) foi de 545,61 µg/mL enquanto a solução com álcool (amostra 7) apresentou um teor de 171µg/mL.
Figure img0010
Legenda: CAF – ácido cafeico; FER – ácido ferúlico; P-CUM - ácido p-cumárico; PHCA - ácido 3-prenil-4-hidroxicinâmico; DHCA - ácido 3,5-diprenil-4hidroxicinâmico (Artepillin C). Solução (1) elaborada com a própolis (1) e Solução (2) elaborada com a própolis (2).
Atividade antioxidante das soluções irrigadoras
A capacidade antioxidante de uma substância ou uma mistura de substâncias em solução é expressa através da CE5o, onde quanto menor esse valor, menor será a dose ou quantidade de extrato para reduzir 50% dos radicais livres do DPPH e é claro que maior será a atividade antioxidante deste extrato ou substância (LIMA, 2008). Os resultados obtidos no teste de DPPH estão expressos na Tabela 10.
Figure img0011
[086] Segundo Andrade e colaboradores (2017), existe uma correlação positiva entre a atividade antioxidante e o teor de compostos fenólicos. O que corrobora com os resultados aqui apresentados e justificando a atividade antioxidante da solução irrigadora com própolis (1) e (2).
Atividade microbiológica das soluções irrigadoras
[087] A própolis apresenta muitas propriedades farmacológicas descritas na literatura, dentre elas, a antibacteriana, anti-inflamatória e antioxidante (AKCA et al., 2016). De todas as indicações, o uso da própolis em endodontia é fortalecido por sua atividade antimicrobiana (BANKOVA, 2005; PIMENTA, et al., 2015). A atividade antimicrobiana com amostras de extrato de própolis brasileira mostrou maior atividade para bactérias gram-positivas, e uma atividade menos pronunciada para bactérias gram-negativas (LUSTOSA, et al., 2008). Em um estudo em 36 dentes que não responderam ao tratamento endodôntico, depois da cultura anaeróbia, foram detectadas 148 cepas microbianas, sendo que 79,5% em bactérias Gram-positivas, tais como Staphylococcus, Enterococcus, Pseudomonas, dentre outras (SILVA, et al., 2007). Existe uma grande importância na pesquisa de novas substâncias para o tratamento de infecções endodônticas por Enterococcus faecalis, pois este representa cerca de 90% das cepas de Enterococcus encontrados nestas infecções (COSTA, et al., 2010). Os testes aqui realizados com as cepas bacterianas de Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis tiveram como objetivo identificar o potencial inibitório de crescimento contra esses microorganismos, comparando-se as medidas de halos de inibição de crescimento.
[088] Segundo Cavalcanti, Almeida e Padilha (2011) o potencial antimicrobiano, quando realizado em meio de cultura por difusão das soluções a serem testadas, não pode ser comparado, pois cada solução apresenta uma diferente velocidade de difusão. Assim após a realização dos testes pode-se afirmar que a solução apresentava atividade ou não sobre as cepas estudadas.
[089] Os resultados referentes aos halos de inibição foram considerados na leitura após 72 horas. As medidas dos diâmetros dos halos de inibição referente as soluções teste frente a bactéria Enterococcus faecalis estão apresentados na Figura 7-A. A solução teste mais eficaz em inibição contra o micro-organismo Enterococcus faecalis foi da clorexidina 0,12% com um halo de inibição de 28,3mm, seguida da solução de própolis (1) a 10% com álcool e a 1% sem álcool apresentam um halo médio de inibição de 22,3 e 25mm, respectivamente. A amostra (2) a 1% sem álcool apresentou um halo médio de inibição de 23,7mm. Embora haja diferença entra as medidas dos halos de inibição, as soluções sem álcool a 1% da amostra (1) e da (2) quando comparadas a solução de clorexidina não apresentaram diferenças significativas (p>0,05). Comparando-se estatisticamente as soluções sem álcool a 1% da amostra (1) (p<0,01) e da (2) (p<0,05), estas apresentaram resultados significativamente maiores que a solução de hipoclorito (p<0,01). As demais soluções de própolis testadas não apresentaram diferenças significativas (p>0,05). A única amostra que não foi capaz de inibir o crescimento microbiano do Enterococcus faecalis foi a solução 2,5% com o extrato hidroalcoólico de própolis da (1). Os resultados foram acompanhados por um controle negativo (Soro Fisiológico 0,9%), onde não ocorreu a formação de halo. As medidas dos diâmetros dos halos de inibição referente às soluções teste frente a bactéria Staphylococcus aureus estão apresentados na figura 7-B.
[090] A Figura 6 apresenta os resultados dos valores médios dos halos de inibição (mm) das soluções teste contra o micro-organismo Enterococcus faecalis (A) e Staphylococcus aureus (B).
[091] As soluções testes mais eficazes em inibição contra o micro-organismo Staphylococcus aureus foram a clorexidina 0,12% e o hipoclorito de sódio a 1% com halos de inibição de 26 e 23,7mm, respectivamente. Não há diferença significativa entre a ação inibitória destas duas soluções (p>0,05). As soluções com própolis sem álcool da (1) e da (2) apresentaram halos de inibição de 18 a 21mm, sendo a solução da (2) a 1 %, a que apresentou o maior halo de inibição (21mm), porem menor que os controles positivos, clorexidina e hipoclorito de sódio.
[092] Quando comparadas a ação da solução de clorexidina com as demais soluções de própolis testadas, a clorexidina foi significativamente mais efetiva (p<0,001). As soluções sem álcool da (1) e da (2) a 1% não apresentaram diferenças significativas (p>0,05) quando comparadas aos resultados obtidos com a solução de hipoclorito de sódio. Os halos de inibição do hipoclorito de sódio foram significativamente maiores em comparação as demais soluções de própolis testadas (p<0,001). As bactérias Gram-positivas, tais como o Enterococcus faecalis e o Staphylococcus aureus, são sensíveis ao extrato de própolis segundo o estudo Vargas e colaboradores (2004), e ficou evidenciado que o álcool presente nas soluções testadas não interfere na atividade antimicrobiana. A atividade antimicrobiana da própolis brasileira, da região do cerrado de Mato Grosso, como medicação intracanal contra o Enterococcus faecalis foi mostrada por Pimenta e colaboradores (2015), onde a própolis reduziu o número de bactérias viáveis, mostrando assim a sua capacidade antibacteriana. A própolis apresenta atividade contra bactérias gram-positivas, tais como o Staphylococcus aureus e no estudo realizado por Packer e Luz (2007) a própolis apresentou halos de inibição para esse tipo de bactérias. Quando comparada a atividade antimicrobiana da própolis ao hipoclorito de sódio a 2,5% contra o Enterococcus faecalis, não foi encontrada diferença significativa sobre o efeito na inibição do crescimento microbiano (P<0,001) (SAXENA, et al., 2015). Correlacionando-se os dados obtidos neste trabalho com os da literatura observa-se que as duas amostras de extrato de própolis em todas as concentrações, exceto a 2,5% da (1), foram capazes de inibir o crescimento microbiano, porém com resultado estatisticamente significativo sobre o hipoclorito de sódio destacando-se a solução a 1% sem álcool da (1) e da (2). Assim pode-se classificar as soluções quanto a capacidade antimicrobiana frente ao Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis a Clorexidina (0,12%) com maior resposta, seguida das soluções de própolis da (1) (1% sem álcool), solução da amostra (2) (1% sem álcool) e do Hipoclorito de sódio (2%). A diferença de resposta antibacteriana da própolis pode ser devido à diferença na sua constituição química. Segundo Marcucci e colaboradores (2001), essa ação antibacteriana da própolis está relacionada a sua composição química, assim como a sua ação direcionada a bactérias Gram-positivas, que é possivelmente devido a presença dos flavonoides, ácidos e ésteres aromáticos.

Claims (8)

  1. FORMULAÇÃO IRRIGADORA ENDODÔNTICA A BASE DE PRÓPOLIS caracterizada por compreender extrato de própolis tipificada quimicamente, ácido etilenodiaminotetraacetico (EDTA dissódico), polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio e polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado em associação com o conservante Imidazolidil uréia e água destilada.
  2. FORMULAÇÃO, de acordo com a reivindicação 1, caracterizada pelo fato do dito extrato de própolis poder ser com álcool ou sem álcool.
  3. FORMULAÇÃO, de acordo com as reivindicações 1 e 2, caracterizada pelo fato do dito extrato de própolis conter entre 3,11 a 3,78 mg/mL de Artepillin-C.
  4. FORMULAÇÃO, de acordo com as reivindicações de 1 a 3, caracterizada pelo fato de compreender de 2,5% a 10% do extrato de própolis com álcool, contendo de 223,48 a 3327,18 µg/mL de Artepillin-C, preferencialmente 5% do dito extrato de própolis, 5% de ácido etilenodiaminotetraacetico (EDTA dissódico), 10% de polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio e 2% de polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado em associação com 0,3% de Imidazolidil uréia e qsp 100% de água destilada.
  5. FORMULAÇÃO, de acordo com as reivindicações de 1 a 3, caracterizada pelo fato de compreender de 0,25% a 1,00% do extrato de própolis sem álcool, contendo de 461,79 a 1179,82 µg/mL de Artepillin-C, preferencialmente 0,5% do dito extrato de própolis, 5% de ácido etilenodiaminotetraacetico (EDTA dissódico), 10% de polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio e 2% de polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado em associação com 0,3% de Imidazolidil uréia e qsp 100% de água destilada.
  6. FORMULAÇÃO, conforme reivindicações de 1 a 5, caracterizada por ser para aplicação tópica para desinfecção do sistema de canais radiculares e dissolver material orgânico e se complexar com material inorgânico.
  7. FORMULAÇÃO, conforme reivindicações de 1 a 6, caracterizada por apresentar atividade antimicrobiana contra bactérias gram-positivas, mais especificamente contra o Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis.
  8. PROCESSO PARA OBTENÇÃO DA FORMULAÇÃO IRRIGADORA ENDODÔNTICA A BASE DE PRÓPOLIS caracterizado por possuir as seguintes etapas:
    • a) o extrato de própolis é misturado ao Polietilenoglicol-40 óleo castor hidrogenado, formando a fase 1;
    • b) a água é aquecida até 60°C, é adicionado o EDTA dissódico sendo que após a completa solubilização do EDTA, é aguardado o resfriamento desta fase até 40°C e após, é adicionado o polietilenoglicol-7 óleo de oliva carboxilato de sódio e a Imidazolidil uréia, agitando até completa solubilização, formando a fase 2;
    • c) a mistura obtida na fase 2 é vertida sobre a fase 1.
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