“CONJUGADOS ANTINEOPLÁSICOS BIOCOMPATIBILIZADOS À BASE DE PLATINA”.
Campo de Invencáo
A presente invenção aplica-se à área de saúde, particularmente à oncologia. 5 Destina-se à produção de novos agentes conjugados quimioterápicos que atuem como fármacos antineoplásicos, abrangendo tanto o processo produtivo quanto à formulação de novos medicamentos de combate ao câncer, capazes de garantir menores efeitos colaterais, e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida aos pacientes submetidos ao tratamento de câncer.
Sumário
A presente invenção consiste em formulações quimioterápicas com efeito sinérgico, cujos componentes consistem em complexos à base de platina e uma matriz protéica oriunda do leite, agindo com maior percentual de inibição tumoral e menores efeitos colaterais, quando comparados aos constituintes 15 utilizados separadamente e a uma droga quimioterápica contendo platina (comercialmente disponível). Em uma dosagem específica utilizada do conjugado quimioterápico (via intraperitoneal), verificou-se em experimentação animal (modelo animal utilizado ao qual foi inoculado o carcinoma de Ehrlich), um percentual de inibição tumoral em torno de 83%, ao final de um tratamento 20 de 07(sete) dias utilizando-se uma das composições.
Anterioridades
A quimioterapia antineoplásica se utiliza de diversos compostos capazes de causar inibição do crescimento tumoral, sendo as drogas à base de platina uma classe específica de quimioterápicos. Ainda com relação aos quimioterápicos antitumorais, para as mais diversas classes desses fármacos, incluindo os que possuem platina em sua composição; são atribuídos normalmente diversos efeitos colaterais mesmo que possuam diferentes mecanismos de atuação 5 frente ao metabolismo celular. O uso clínico de drogas à base de platina é amplamente difundido, haja vista que esta classe de compostos possui uma ampla janela de atuação frente aos mais diversos tipos de tumores, a exemplo da cisplatina. Atualmente, os compostos de platina mais utilizados, disponíveis no mercado, são a cisplatina, carboplatina, oxaliplatina e nedaplatina. A 10 comunidade científica tem como explicação aceita que o alvo de atuação da cisplatina, por exemplo, consiste no DNA nuclear (nDNA), causando lesões intra e interfita no mesmo, mediante formação de complexos Pt-DNA (ligações de platina em bases nitrogenadas do nDNA), os quais restringem graus de liberdade durante o processo de replicação. Com isso, sinaliza 15 bioquimicamente o reconhecimento da lesão, tentativa de reparo, seguindo para um comprometimento do ciclo celular, podendo desencadear a apoptose (morte celular programada). Para todos os fármacos comercializados à base de platina, apresentados anteriormente, verificam-se efeitos colaterais inerentes aos mesmos (Tabela 1), bem como uma variação de atuação frente aos mais 20 diversos tipos de tumores. Sendo esses últimos fatores, os grandes impulsionadores das pesquisas que visam: (i) uma redução dos efeitos colaterais, (ii) maior atuação frente às linhagens de células resistentes aos quimioterápicos e (iii) maiores percentuais de inibição tumoral para um amplo espectro de tumores (tipos de câncer).
Tabela 1. Perfil toxicológico de algumas drogas à base de platina disponíveis no mercado.
Cisplatina Carboplatina Oxaliplatina
Mielosupressão - ♦ ♦
Nefrotoxicidade - ♦
Neurotoxicidade- ♦ ♦
Ototoxicidade - ♦
Náusea / Vômito- ♦ ♦ ♦
Problemas e Limitações do Estado da Técnica
Uma das principais limitações apresentadas pela quimioterapia antineoplásica atual consiste na obtenção do efeito terapêutico desejado (redução de massa 15 tumoral) adjunto a uma diminuição dos efeitos colaterais emergentes, fazendo com que os mesmos se tornem menos aparentes, mediante dose terapêutica devidamente ajustada e administrada aos portadores de câncer. Esse compromisso nem sempre é alcançado, uma vez que muitos dos óbitos devem- se às graves manifestações tóxicas causadas pelo agente quimioterápico, 20 havendo uma estreita e delicada faixa de sobrevida para os pacientes. Segundo a biologia evolutiva, outro fator determinante para a obtenção do sucesso da quimioterapia antineoplásica consiste em uma aplicação de regime terapêutico seguro, do ponto de vista toxicológico, sem que haja uma drástica sinalização bioquímica referente à presença do agente citotóxico, permitindo que células normais e tumorais sejam dispostas, de forma acelerada, a um mecanismo de seleção natural, cujos processos podem se manifestar através de diversos mecanismos dinâmicos de resistência aos mais variados tipos de quimioterápicos. Este fenômeno é conhecido como resistência às diversas drogas (MuItiDrug Resistance - MDR), e mesmo não havendo uma correlação entre estruturas e mecanismos de ação dos quimioterápicos utilizados em um determinado regime de tratamento, a sinalização bioquímica induzida pela alta toxicidade inerente à esse tipo de fármaco poderá desencadear o processo MDR, o que leva o tratamento à falha, facilitando o surgimento de linhagens de células tumorais resistentes, cuja persistência da característica maligna das células encontram-se agora incrementadas pelos fatores de resistência MDR. Com isso, auxiliados pelos regimes quimioterápicos adotados, os decréscimos das taxas de sobrevida e da qualidade de vida dos pacientes portadores de câncer tornam-se inevitáveis.
Objetivos da Invenção
O objetivo da presente invenção é apresentar novos conjugados quimioterápicos antineoplásicos com alto percentual de inibição tumoral e baixos efeitos colaterais, resolvendo assim, problemas toxicológicos graves e 20 inerentes à aplicação de quimioterápicos antitumorais utilizados no atual estado da técnica, garantindo aos portadores de câncer uma maior sobrevida, qualidade de vida ou até mesmo à cura. Solução
A presente invenção consiste em conjugados quimioterápicos, cujos constituintes nunca foram usados conjuntamente, que apresentam propriedades individuais diferentes das encontradas quando as composições 5 (conjugação) são feitas. Os compostos singulares passam então a fazer parte de um mesmo composto que sinergicamente apresentam propriedades superiores aos dos compostos conhecidos.
Vantagens
Comparados aos resultados apresentados pelo padrão adotado, droga à base de platina disponível no mercado (cisplatina), os conjugados desenvolvidos possuem baixa toxicidade e alto percentual de inibição tumoral para o modelo animal (camundongo suíço albino - Mus musculus) portador do carcinoma de Ehrlich. Segundo análise macroscópica dos animais, submetidos ao tratamento quimioterápico com os conjugados antineoplásicos durante 7 dias, todos os animais se mostraram sadios, haja vista que os mesmos tiveram ganho de massa corpórea (mesmo debitando-se a contribuição da massa tumoral). Também não foram observadas alterações comportamentais (agressividade), óbitos, em nenhum dos grupos de cobaias testados (os quais consistiram de seis animais por grupo); e alterações de pêlo (queda, espessamento e piloereção). O percentual de inibição tumoral, para um dos conjugados contendo a mesma quantidade de platina utilizada no padrão de cisplatina, foi de 83%, e segundo análise macroscópica de alguns órgãos (fígado, baço e rim) os mesmos apresentaram coloração, consistência e formas inalteradas. Os tumores além de reduzidos, extraídos dos animais tratados com todos os conjugados, apresentaram ausência de caráter invasivo e aspecto pálido, comportando-se como tumores benignos e com baixa vascularização (efeito anti-angiogênico).
Já os animais tratados com a droga padrão (cisplatina disponível no mercado) apresentaram alterações no sistema músculo-esquelético, redução de peso, atrofia do baço, fibrose e trombose hepática, alopecia, piloereção e percentual de inibição tumoral de 58% para uma dose de 1mg Kg'1.
Estimam-se baixos custos de produção e relação custo-benefício encorajadora, adequando-se os produtos apresentados como invenção para a produção industrial.
Descrição Detalhada
A invenção refere-se a composições sinérgicas, entre uma matriz protéica e compostos à base de platina; havendo um aumento do potencial de inibição tumoral, por parte desses conjugados; e diminuição dos efeitos colaterais inerente aos fármacos à base de platina.
A matriz protéica, proveniente do soro de leite, foi obtida mediante processo de separação da caseína por metodologia que não altera as propriedades e 20 composição do soro, não havendo qualquer incremento tóxico a esse produto. Obtendo-se o soro, efetuou-se microfiltração e liofilização do mesmo, sendo então adicionado ao composto à base de platina. Por fim, o conjunto (matriz protéica do soro de leite e composto à base de platina) foi re-solubilizado, estabilizado e novamente liofilizado. O composto à base de platina utilizado nos conjugados pode ser tetracloroplatinato de potássio ou hexacloroplatinato de potássio ou cisplatina ou carboplatina ou oxaliplatina ou nedaplatina ou satraplatina ou Iobaplatina ou eptaplatina; devendo este participar de 5 composições em uma faixa de 0,001 - 20.000,000 μηιοΙ por uma escala de massa da matriz protéica composta por β-lactoglobulina, a-lactalbumina, glicomacropeptídeo (GMP), proteose peptona, imunoglobulinas, soro-albumina, lactoferrina, lactoperoxidases, TGF-β (Transforming Growth Factor-β), IGF-1 e 2 (Insulin-Iike Growth Factors 1 and 2), PDGF (Platelet-Derived Growth Factor), 10 FGF-I e 2 (Fibroblast Growth Factors 1 and 2); sendo removido ou não, enriquecido ou não, por um ou mais desses componentes.
Os conjugados sintetizados à base de platina, foram devidamente caracterizados mediante utilização das técnicas de espectroscopia na região do infravermelho, ressonância magnética nuclear de 195Pt e difratometria de raios- 15 X. Com relação à integridade (estabilidade fotônica) da matriz protéica, foi avaliado o perfil espectral inicial (janela entre 200 a 900 nm) e após 1 hora de irradiação a 365 nm. Decorrido este último teste, tomaram-se as devidas precauções para acondicionamento da matriz utilizada. Também se verificou a similaridade (padronização) da matriz protéica obtida em etapas cronológicas 20 diferentes, mediante utilização da espectroscopia na região do ultravioleta e do infravermelho.
Verificou-se as características espectrais dos conjugados, mediante utilização da espectroscopia na região do ultravioleta, cujas concentrações foram fixadas em 30 mg mL'1. Verificou-se também o padrão de grupos tióis disponíveis na matriz protéica, utilizada na composição dos conjugados, mediante análise colorimétrica com o reagente de Ellman (absorbância máxima em 412 nm), tomando-se a glutationa como padrão (construção da curva de calibração).
Os ensaios biológicos, toxicidade aguda e atividade antitumoral; foram realizados utilizando-se camundongos suíços albinos (Mus musculus) machos, pesando entre 40 e 50g, como modelo animal; sendo utilizada para administração das drogas (conjugados e droga comercial) a via intraperitoneal. O ensaio toxicológico, utilizando-se protocolo para via intraperitoneal, 10 possibilitou classificação da matriz protéica como substância de baixa toxicidade ou atóxica.
Os animais utilizados nos ensaios da atividade antitumoral receberam o implante da forma sólida do carcinoma Erlich, sendo após 48 horas, submetidos aos tratamentos quimioterápicos com a droga disponível no 15 mercado (grupo padrão) e com os conjugados (grupo tratado). Ainda com relação aos ensaios antitumorais, um grupo controle foi utilizado, sendo o mesmo não submetido a um tratamento.
Os percentuais de inibição tumoral foram calculados segundo Equação 1, para os quais tomaram-se as massas médias dos tumores extraídos dos grupos: padrão, tratado e controle.
TWI% = [(C - T)/ C]xl00 (Eq )
onde, C é a média das massas dos tumores nos animais do grupo controle, e T
é a média das massas dos tumores do grupo tratado (ou padrão). Os conjugados preparados pela junção sinérgica de matriz protéica oriunda do soro de leite e dos compostos à base de platina foram submetidos a ensaios de toxicidade e de atividade antitumoral dentro de uma faixa terapêutica de (0,01 até 20.000 mg kg'1). A avaliação antitumoral para o fármaco disponível no 5 mercado foi conduzida mediante utilização de uma dose terapêutica dentro da mesma faixa já mencionada (0,01 até 20.000 mg kg'1). Em alguns casos, houve coincidência da concentração de platina presente na dose terapêutica do conjugado e a concentração de platina presente na dose utilizada para a droga padrão (disponível no mercado); verificando-se para o conjugado, uma 10 superação quanto ao percentual de inibição tumoral e ausência de efeitos colaterais aparentes.
Os conjugados apresentaram percentuais de inibição tumoral que estão distribuídos em uma faixa que vai de 29 a 83%. Em todos os casos onde as cobaias foram submetidas ao regimento quimioterápico com os conjugados, os 15 animais mantiveram-se vivos, sem efeitos colaterais aparentes; contrários aos apresentados pela droga padrão, a qual foi utilizada para o mesmo tipo de ensaio.
Comparados às doses terapêuticas sugeridas para a droga comercial, alguns dos conjugados conseguiram percentuais de inibição tumoral equivalentes (46 - 47 e 56%); isto, utilizando-se de doses mais baixas dos compostos à base de platina. Tanto para essas últimas doses de conjugados quanto para outras que alcançaram percentuais de inibição tumoral de 83%, os tumores recolhidos das cobaias submetidas a esses regimentos quimioterápicos desenvolveram-! apenas na região onde foi implantado, diminuindo assim seu caráter invasivo.