BR102019027141A2 - Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso - Google Patents

Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso Download PDF

Info

Publication number
BR102019027141A2
BR102019027141A2 BR102019027141-8A BR102019027141A BR102019027141A2 BR 102019027141 A2 BR102019027141 A2 BR 102019027141A2 BR 102019027141 A BR102019027141 A BR 102019027141A BR 102019027141 A2 BR102019027141 A2 BR 102019027141A2
Authority
BR
Brazil
Prior art keywords
amphotericin
amodiaquine
candida
pharmaceutical compositions
concentration
Prior art date
Application number
BR102019027141-8A
Other languages
English (en)
Inventor
Daniel de Assis Santos
Gustavo José Cota De Freitas
Noelly De Queiroz Ribeiro
Isabela Da Costa César
Original Assignee
Universidade Federal De Minas Gerais
Priority date (The priority date is an assumption and is not a legal conclusion. Google has not performed a legal analysis and makes no representation as to the accuracy of the date listed.)
Filing date
Publication date
Application filed by Universidade Federal De Minas Gerais filed Critical Universidade Federal De Minas Gerais
Priority to BR102019027141-8A priority Critical patent/BR102019027141A2/pt
Publication of BR102019027141A2 publication Critical patent/BR102019027141A2/pt

Links

Images

Landscapes

  • Pharmaceuticals Containing Other Organic And Inorganic Compounds (AREA)

Abstract

composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso. a presente tecnologia trata de composições farmacêuticas contendo os compostos halofantrina, artesunato e amodiaquina isoladamente ou em combinação, como adjuvantes em associação com anfotericina b para produção de medicamentos para tratamento de infecções fúngicas, preferencialmente causadas por cryptococcus sp. e candida sp.

Description

COMPOSIÇÕES FARMACÊUTICAS ANTIFÚNGICAS CONTENDO HALOFANTRINA, ARTESUNATO E AMODIAQUINA, E USO
[01] A presente tecnologia trata de composições farmacêuticas contendo os compostos halofantrina, artesunato e amodiaquina isoladamente ou em combinação, como adjuvantes em associação com Anfotericina B para produção de medicamentos para tratamento de infecções fúngicas, preferencialmente causadas por Cryptococcus sp. e Candida sp.
[02] O aumento das infecções fúngicas invasivas, especialmente causadas por fungos oportunistas como Cryptococcus sp. e Candida sp., impõe uma ameaça à saúde humana. Estima-se que mais de 2 milhões de infecções fúngicas invasivas ocorrem globalmente a cada ano e são responsáveis por mais de 1 milhão de mortes, particularmente em pacientes imunossuprimidos. A Criptococose e a Candidíase estão entre as infecções fúngicas mais frequentes dentre as micoses sistêmicas e destacam-se por apresentar taxas de mortalidade acima de 50%. Além disso, a perspectiva é que ocorra um aumento dessas infecções invasivas ao longo dos anos, devido ao aumento de indivíduos imunocomprometidos, resultante do aumento da expectativa de vida e variedade de doenças e tratamentos que comprometem o sistema imune.
[03] A criptococose é uma infecção fúngica invasiva causada por leveduras encapsuladas do gênero Cryptococcus. Sua etiologia está principalmente relacionada a duas espécies, C. neoformans e C. gattii. A doença se caracteriza inicialmente pela inalação de esporos fúngicos ou leveduras dessecadas que se instalam no parênquima pulmonar causando uma pneumonia, fase inicial da doença. Frente à incapacidade do sistema imune em controlar a infecção nos pulmões, ocorre a disseminação do fungo via hematogênica causando a meningoencefalite, forma mais grave da doença. A doença apresenta mais de um milhão de casos anualmente em todo mundo e taxas de mortalidade que variam entre 46-75% conforme a localização. O tratamento está intrinsecamente ligado ao sítio de infecção, ao estado imunológico do paciente e a disponibilidade de drogas. Normalmente, os antifúngicos utilizados são o polieno Anfotericina B (ANB) combinado com o azólico fluconazol (FCZ) e/ou 5-flucitosina (análogo de pirimidina). Para neurocriptococose, a terapia é dividida em três fases: recomenda-se o uso de ANB por duas semanas (fase de indução) seguida pela administração de fluconazol por mais oito semanas (fase de consolidação) e depois por mais 6-12 meses e/ou até a restauração da imunidade do hospedeiro (fase de erradicação). Já em casos de pneumonia leve a moderada, recomenda-se o uso de fluconazol ou itraconazol por 612 meses. Entretanto, apesar de eficiente, a Anfotericina B é nefrotóxica e seu uso prolongado pode levar a hipocalemia, disfunção renal e diurese aumentada. A fluorocitosina, apesar de apresentar boa atividade combinada a Anfotericina B, está associada ao desenvolvimento de resistência e apresenta alta toxicidade medular, além de não estar disponível no Brasil. O fluconazol, apesar de apresentar baixa toxicidade, está associado ao desenvolvimento de resistência.
[04] A candidíase, outra micose invasiva frequente, é causada por leveduras do gênero Candida, sendo a espécie de Candida albicans a mais prevalente; embora nos últimos anos tenha se observado a emergência de candidíase invasiva causada por espécies não albicans, como: C. tropicalis, C. glabrata, C. krusei, C. parapsilosis e C. auris. Isso tem impacto direto na terapia da candidíase uma vez que algumas espécies, como C. krusei e C. glabrata, apresentam resistência intrínseca a alguns azólicos, como o fluconazol e o voriconazol. Essa levedura faz parte da microbiota normal do trato gastrointestinal, da pele e da mucosa vaginal. Em determinados contextos, como procedimentos cirúrgicos no trato gastrointestinal, uso de antibióticos e corticosteroides, podem ocorrer eventos de disbiose, levando à candidemia. Uma vez que a candidemia se estabelece, ocorre a translocação para outros órgãos, levando a infecções metastáticas nos pulmões, fígado, baço, rins, ossos ou olhos. Ainda, devido à capacidade de formar biofilme, a Candida sp pode colonizar cateteres, prótese ou outros dispositivos médicos, que também podem atuar como fontes de infecção.
[05] Entretanto, considerando o arsenal limitado de antifúngicos para o tratamento dessas infecções, os eventos de resistência e toxicidade associados a esses fármacos, o desenvolvimento de novas drogas com potencial antifúngico torna-se importante. Porém, o processo para o desenvolvimento e utilização de novas drogas é oneroso, demorado e o produto final nem sempre é garantido. Ainda, as infecções fúngicas normalmente são negligenciadas, caracterizadas pela ausência de programas de vigilância em saúde e ambiental e pelo baixo financiamento em pesquisa quando comparada a outras doenças infecciosas; o que muitas vezes dificulta a progressão dos estudos voltados para a busca de novos antifúngicos. Com isso, muitos estudos são interrompidos, não chegam a ensaios clínicos ou não são disponibilizados no mercado. Nesse contexto, o reposicionamento de fármacos surge como uma estratégia interessante para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para a Criptococose e a Candidíase invasiva. Essa vertente consiste em avaliar a aplicabilidade de um fármaco já utilizado no mercado para o tratamento de uma doença, frente a outras finalidades terapêuticas. Trata-se de um processo menos oneroso e mais rápido, uma vez que todo o processo de caracterização, síntese, farmacodinâmica e farmacocinética do fármaco já são fatores conhecidos.
[06] A Halofantrina, Amodiaquina e Artesunato são drogas pertencentes à classe das artesiminas e possuem indicação clínica primária para o tratamento da Malária. A Halofantrina atua formando complexos com a ferritoporforina IX levando a danos na membrana do parasita. A Amodiaquina não possui um mecanismo de ação bem esclarecido, mas acredita-se que ela iniba a atividade da enzima polimerase heme, o que resulta no acúmulo de heme livre, que é tóxico para o parasita, levando a danos na membrana que culminam na ação plasmocida. Além de apresentar efeito plasmocida, a Amodiaquina também apresenta efeitos benéficos no controle do câncer, inibindo a autofagia; em doenças inflamatórias crônicas como artrite reumatoide e lúpus eritematoso, via redução da resposta imune; e efeito anti-diabético por meio da ação agonista em receptores do tipo PPARy e PPARa. Já o Artesunato atua na clivagem da ligação endoperóxido através da reação com o Heme 3, levando à produção de radicais livres que alquilam as proteínas do parasita.
[07] Ho et al. (2014) relataram o efeito antifúngico de alguns derivados de artesiminas (Ho WE, Peh HY, Chan TK,Wong WSF. Artemisinins: Pharmacological actions beyond anti-malarial. Pharmacology & Therapeutics 142 (2014) 126-139), mas não se refere à halofantrina, ao artesunato ou à amodiaquina.
[08] A presente tecnologia trata de composições farmacêuticas contendo os compostos antimaláricos halofantrina, artesunato e amodiaquina, isolados ou em combinação, e seu uso como adjuvantes para produzir medicamentos para o tratamento de infecções fúngicas, preferencialmente causadas por Cryptococcus sp. e Candida sp. Por se tratar de reposicionamento de fármacos, os compostos já passaram por estudos farmacocinéticos, toxicológicos e de fármaco-vigilância, refletindo a segurança em sua utilização. A interação entre os antimaláricos e Anfotericina B resultou em sinergismo (CIF<0,5), possibilitando reduzir a concentração mínima necessária do antifúngico para inibir o crescimento de Cryptococcus sp e Candida sp.
BREVE DESCRIÇÃO DAS FIGURAS
[09] A Figura 1 demonstra que antimaláricos combinados a Anfotericina B reduzem a CIM do antifúngico frente a Cryptococcus sp. e Candida sp. (A) Halofantrina, (B) Artesunato e (C) Amodiaquina.
[010] A Figura 2 representa o percentual de viabilidade de macrófagos após exposição a diferentes concentrações de (A) Anfotericina B, (B) Halofantrina, (C) Amodiaquina e (D) Artesunato.
[011] A Figura 3 mostra o percentual de viabilidade de macrófagos após exposição a diferentes concentrações combinadas de Anfotericina B com os antimaláricos. (A) Halofantrina, (B) Amodiaquina e (C) Artesunato.
DESCRIÇÃO DETALHADA DA TECNOLOGIA
[012] A presente tecnologia trata de composições farmacêuticas contendo os compostos halofantrina, artesunato e amodiaquina isoladamente ou em combinação, como adjuvantes em associação com Anfotericina B para produção de medicamentos para tratamento de infecções fúngicas, preferencialmente causadas por Cryptococcus sp. e Candida sp.
[013] Mais especificamente, as composições farmacêuticas antifúngicas compreendem os compostos halofantrina, artesunato e amodiaquina, isolados ou em combinação, como adjuvantes, em associação com Anfotericina B e excipientes farmaceuticamente aceitáveis.
[014] As composições farmacêuticas da presente tecnologia podem ser utilizadas para produzir um medicamento para tratamento de infecções fúngicas, preferencialmente por Cryptococcus sp. e Candida sp.
[015] A presente tecnologia pode ser mais bem compreendida pelos seguintes exemplos, não limitantes.
EXEMPLO 1. PREPARO DO INÓCULO
[016] O inóculo fúngico foi preparado a partir de culturas de Cryptococcus gattii incubadas a 35°C, por 48 horas em tubos contendo Ágar Sabouraud Dextrose (ASD) inclinado. Uma alçada das culturas foi adicionada a um tubo de ensaio contendo 5 mL de solução salina esterilizada para obtenção de uma suspensão. As suspensões foram homogeneizadas em vórtex, lidas no espectrofotômetro a 530 nm e ajustadas à transmitância de 77%, que corresponde à concentração de 1X106 a 5X106 UFC/mL. Logo em seguida, as amostras foram diluídas em RPMI - 1640 de modo a alcançar a concentração de 1x103 a 5x103 UFC/mL.
EXEMPLO 2. DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM)
[017] O ensaio para determinação da CIM consiste na primeira análise experimental para avaliar o potencial antifúngico de uma determinada substância. Para o teste da concentração inibitória mínima foi utilizado o método da microdiluição em caldo, conforme proposto pelo documento M27-A3 do “Clinical and Laboratory Standards Institute” (CLSI, 2008). Esse ensaio baseia-se na observação da inibição do crescimento fúngico, frente a diferentes concentrações da droga, em relação aos controles não tratados.
[018] Todos os fungos foram testados frente a três antimaláricos (Halofantrina, Amodiaquina e Artesunato) os quais foram solubilizados em metanol com concentração inicial de 15mg/mL e Anfotericina B, utilizada como controle, foi solubilizada em DMSO na concentração de 10mg/mL. A partir dessa solução, preparou-se uma diluição em série em meio RPMI-1640, obtendo um faixa de concentração de 1 a 512 μg/mL para os antimaláricos e de 0,0313 a 16 pg/mL para Anfotericina B. Após realizada a diluição seriada, 100μL de cada concentração foram dispensados em placas de 96 poços acrescido de 100μL do inóculo fúngico. As placas foram incubadas a 37°C durante 72 horas. Após esse período, procedeu-se a leitura visual, de modo que a Concentração Inibitória Mínima (CIM) foi considerada como a menor concentração capaz de inibir 100% do crescimento fúngico em relação ao controle de crescimento.
EXEMPLO 3. AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA FRACIONAL (CIF)
[019] Após avaliação da CIM, foi verificado o efeito dos antimaláricos em associação com Anfotericina B frente às diferentes linhagens de Cryptococcus e Candida. Dez diluições seriadas do antifúngico e sete diluições dos antimaláricos foram preparadas utilizando os mesmos solventes como no teste da CIM. Alíquotas de 50 μL dos antimaláricos (512 μg/mL a 8 μg/mL) foram adicionadas aos poços de uma placa de 96 poços na orientação vertical e as alíquotas de 50 μL de cada diluição da Anfotericina B (16 μg/mL a 0,03 μg/mL) foram adicionadas na horizontal, de modo que a placa ficasse com várias combinações de concentrações dos dois fármacos. Após, cada poço foi inoculado com 100μL do inóculo, preparado conforme descrito no exemplo 1. As placas incubadas a 37°C por 72 horas. A interação dos antimaláricos com o antifúngico foi expressa através do índice da concentração inibitória fracionária (CIF). A CIF de cada agente foi calculada como a CIM desse agente em combinação, dividido pela CIM do agente sozinho. A interação foi classificada como sinergismo se CIF <0,5, indiferente se 0,5 < CIF < 4 e antagonismo se CIF foi > 4,0. Sendo a faixa de concentração ideal a que apresentou sinergismo (CIF<0,5) tendo em vista a redução em quatro vezes em comparação com concentração de anfotericina B necessária para matar o fungo, de 1 -0,25mg/L para 0,06 - 0,25mg/L. Para halofantrina essa faixa variou de 8 a 128mg/L frente as linhagens de Cryptococcus e de 8 a 512mg/L dependendo da espécie de Candida avaliada. Para amodiaquina as concentrações variaram de 32 a 128mg/L frente a Cryptococcus, enquanto para as linhagens de Candida observou-se variação entre 8 a 256mg/L dependendo da Linhagem. O artesunato, por sua vez, apresentou uma faixa de 64 a 512mg/L para Cryptococcus e de 8 a 512mg/L dependendo da linhagem de Candida.
EXEMPLO 4. AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE EM MACRÓFAGOS
[020] Após avaliação do efeito dos antimaláricos associados à Anfotericina B, frente à Cryptococcus e Candida, decidimos verificar se as concentrações mínimas necessárias para reduzir a CIM da Anfotericina B apresentavam toxicidade para macrófagos. Para isso, células precursoras de macrófagos foram obtidas da medula óssea de camundongos C57BL/6. Após a obtenção, as células foram suspensas em meio RPMI 1640 suplementado com 20% SFB (Soro Fetal Bovino), 2 mM de glutamina, 25 mM de HEPES pH 7,2, penicilina, estreptomicina 30% de sobrenadante de cultura de células L-929; e posteriormente dispensadas em placas de petri 90x60mm. As placas foram incubadas em estufa de CO2 durante sete dias para a diferenciação em macrófagos. Após esse período, as células, já diferenciadas em macrófagos, foram desagregadas e dispensadas em placas de 96 poços na proporção de 0,5 x 105 cel/mL. Após 24 horas de incubação, as células foram tratadas com os antimaláricos (16 - 256pg/mL) e Anfotericina B (0,03 - 32 pg/mL), isolados ou em combinação, durante 3 horas. Em seguida, o meio foi removido e os poços foram lavados com PBS 1X para a remoção completa da droga e do meio residual. Posteriormente, foi adicionado MTT 5mg/mL em cada poço para avaliação da viabilidade celular após exposição aos diferentes tratamentos. Os dados foram expressos em porcentagem, considerando 100% de viabilidade para as células que não receberam tratamento, sendo o DMSO 50%, utilizado como controle positivo de toxicidade.
EXEMPLO 5. AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTIFÚNGICO DOS COMPOSTOS
[021] Ao avaliar a atividade antifúngica dos antimaláricos, nós vimos inicialmente que, quando usados sozinhos, não apresentam nenhum efeito inibitório no crescimento de Cryptococcus sp e Candida sp, com valores de CIM superiores a 512mg/L. Enquanto a Anfotericina B, utilizada como controle, apresentou valores de CIM que variaram de 0,25 - 1 mg/L. Entretanto, a interação entre os antimaláricos e Anfotericina B resultou em sinergismo (CIF<0,5), ou seja, a presença do antimalárico foi capaz de reduzir a concentração mínima necessária do antifúngico para inibir o crescimento de Cryptococcus sp e Candida sp.
[022] Na interação Anfotericina B/Halofantrina (8mg/L), a CIM da Anfotericina B apresentou uma redução média de 0,45mg/L para 0,054 mg/L frente as linhagens de Cryptococcus sp, uma redução de 8,3 vezes no valor da CIM (Figura 1), com valores de CIF <0,5 dependendo da concentração de HALO (Tabela 1). Para Candida, também se observou sinergismo entre os fármacos, a interação entre ANF/ HALO resultou na redução da CIM para Anfotericina B de 1mg/L para 0,22mg/L; 4,54 vezes menor em relação a CIM inicial. Essa redução também resultou em valores de CIF < 0,5 dependendo da concentração do antimalárico (Tabela 1). Nós supomos que, quando em contato com o fungo, a Halofantrina pode causar danos na membrana que facilitam a ação da Anfotericina B, contribuindo para o efeito antifúngico sinérgico entre as drogas. Essa hipótese basea-se no fato de que a ação da Halofantrina, enquanto antimalárico, é mediada pela indução de danos na membrana do Plasmodium.
[023] Tabela 1. Valores da concentração inibitória fracionária (CIF) para linhagens de C. gattii, C. neoformans e Candida sp. obtidos da interação entre Anfotericina B (ANB) e Halofantrina (HALO). Em negrito as combinações que apresentaram sinergismo (CIF<0,5).
Figure img0001
Figure img0002
[024] A Amodiaquina, outro antimalárico avaliado nesse estudo, também apresentou sinergismo quando combinada a Anfotericina B. Nesse caso, o efeito sinérgico entre os dois fármacos foi dependente da concentração. Para Cryptococcus, a interação ANB/ AMO resultou na redução no valor da CIM da Anfotericina B de 0,5 até 0,066mg/L (Figura 1), e valores de FIC inferiores a 0,5 a partir de 32mg/L e 16mg/L do antimalárico, frente a C. gattii e C. neoformans respectivamente (Tabela 2). Em geral, a CIM da Anfotericina B apresentou redução de até 7,5 vezes para Cryptococcus, dependendo da concentração de antimalárico utilizada. Para Candida, a redução ocorreu linhagem dependente, mas a maioria apresentou FIC < 0,05 a partir de 8mg/L do antimalárico, com redução média da CIM do antifúngico de 1mg/L para 0,37mg/L (Figura 1).
[025] O mecanismo de ação da Amodiaquina ainda é pouco esclarecido, portanto ainda não sabemos ao certo como a sua interação com a Anfotericina B pode resultar em efeito antifúngico. Porém, sabe-se que o antimalárico também apresenta ação anti-inflamatória e pode atuar como agonista de receptores do tipo PPAr. Dessa forma, essas características podem ser promissoras considerando o contexto da Criptococose, onde o balanço da resposta imune é importante no controle da doença.
[026] Tabela 2. Valores da concentração inibitória fracionária (CIF) para linhagens de C. gattii, C. neoformans e Candida sp. obtidos da interação entre Anfotericina B (ANB) e Amodiaquina (AMO). Em negrito as combinações que apresentaram sinergismo (CIF<0,5).
Figure img0003
Figure img0004
[027] O artesunato, por sua vez, apresentou um efeito semelhante ao encontrado para a Amodiaquina; o sinergismo quando associado à Anfotericina B também foi dependente de concentração. Para C. gattii os valores de FIC foram menores que 0,5 a partir da concentração de 128 mg/L do Artesunato quando combinado a Anfotericina B, enquanto para C. neoformans esse perfil foi observado a partir da concentração de 64 mg/L (Tabela 3). Para as concentrações menores do antimalárico, o FIC foi indiferente. Para as linhagens de Candida sp, a maioria apresentou FIC inferior a 0,5 a partir de 8mg/L, menor concentração testada do antimalárico (Tabela 3). A ação do Artesunato enquanto antimalárico baseia-se principalmente na indução de danos no DNA via estresse oxidativo.
[028] A Anfotericina B também é capaz de causar estresse oxidativo na célula fúngica. Dessa forma, acreditamos que a combinação com o antimalárico pode potencializar esse efeito oxidativo e consequentemente reduzir a concentração necessária para a Anfotericina B apresentar seu efeito fungicida.
[029] Após verificar o efeito sinérgico entre a Anfotericina B e os antimaláricos nós verificamos se a combinação entre essas drogas poderia apresentar toxicidade para células de mamíferos. Nesse ensaio, nós consideramos tóxica a concentração capaz de reduzir a viabilidade celular em 50% quando comparada ao controle sem tratamento. Para Anfotericina B, somente na concentração de 32mg/L as células apresentaram uma redução média de 49,4% na viabilidade. Para a Halofantrina, observa-se redução da viabilidade em 75% a partir de 64 mg/L, enquanto para Amodiaquina e Artesunato a toxicidade foi acima da concentração testada (256 mg/L), onde observamos redução na viabilidade de apenas 42% e 37%, respectivamente (Figura 2). Quando avaliamos o efeito da interação entre os antimaláricos e a Anfotericina B na viabilidade celular, nós vimos que as concentrações efetivas na redução do crescimento fúngico apresentaram toxicidade inferior a 50% (Figura 3). No entanto, supõe-se que a combinação entre os fármacos seja segura para utilização em modelo murino.
[030] Tabela 3. Valores da concentração inibitória fracionária (CIF) para linhagens de C. gattii, C. neoformans e Candida sp. obtidos da interação entre Anfotericina B (ANB) e Artesunato (ART). Em negrito as combinações que apresentaram sinergismo (CIF<0,5).
Figure img0005
Figure img0006

Claims (2)

  1. COMPOSIÇÕES FARMACÊUTICAS ANTIFÚNGICAS, caracterizadas por compreenderem os compostos halofantrina, artesunato e amodiaquina, isolados ou em combinação em associação com Anfotericina B e de excipientes farmaceuticamente aceitáveis.
  2. USO das composições farmacêuticas definidas na reivindicação 1, caracterizado por ser para produzir um medicamento para o tratamento de infecções fúngicas, preferencialmente por Cryptococcus sp. e Candida sp.
BR102019027141-8A 2019-12-18 2019-12-18 Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso BR102019027141A2 (pt)

Priority Applications (1)

Application Number Priority Date Filing Date Title
BR102019027141-8A BR102019027141A2 (pt) 2019-12-18 2019-12-18 Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso

Applications Claiming Priority (1)

Application Number Priority Date Filing Date Title
BR102019027141-8A BR102019027141A2 (pt) 2019-12-18 2019-12-18 Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso

Publications (1)

Publication Number Publication Date
BR102019027141A2 true BR102019027141A2 (pt) 2021-06-29

Family

ID=77163792

Family Applications (1)

Application Number Title Priority Date Filing Date
BR102019027141-8A BR102019027141A2 (pt) 2019-12-18 2019-12-18 Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso

Country Status (1)

Country Link
BR (1) BR102019027141A2 (pt)

Similar Documents

Publication Publication Date Title
Meletiadis et al. In vitro activities of new and conventional antifungal agents against clinical Scedosporium isolates
Boucher et al. Newer systemic antifungal agents: pharmacokinetics, safety and efficacy
Pound et al. Echinocandin pharmacodynamics: review and clinical implications
Kim et al. Antifungal effect of silver nanoparticles on dermatophytes
JP5410747B2 (ja) 抗真菌剤およびカルベオール、オイゲノール、チモール、ボルネオール、カルバクロール、ならびにアルファ−およびベータ−イオノンから選択される活性物質を含んでなる製薬組成物
Gao et al. Hydrogen-rich saline attenuates cardiac and hepatic injury in doxorubicin rat model by inhibiting inflammation and apoptosis
Mukherjee et al. Echinocandins: are they all the same?
Lin et al. Semisynthesis and biological evaluation of xanthone amphiphilics as selective, highly potent antifungal agents to combat fungal resistance
JP2013535422A5 (pt)
Hong et al. Design of histidine-rich peptides with enhanced bioavailability and inhibitory activity against hepatitis C virus
Gandhi et al. Systemic fungal infections in renal diseases.
EP3534927A1 (en) Single dose methods for preventing and treating fungal infections
McCarthy et al. Drugs currently under investigation for the treatment of invasive candidiasis
JP6279583B2 (ja) アスペルギルス等の病原微生物による疾患用の医薬組成物
Jiang et al. Inhibition of cGAS ameliorates acute lung injury triggered by zinc oxide nanoparticles
BR102019027141A2 (pt) Composições farmacêuticas antifúngicas contendo halofantrina, artesunato e amodiaquina, e uso
BR112020002290A2 (pt) métodos de tratamento de uma infecção fúngica em um indivíduo em necessidade do mesmo, de prevenção de uma infecção fúngica em um indivíduo, e de tratamento de infecção por candidíase vulvovaginal (vvc) em um indivíduo em necessidade do mesmo
BR112019021138A2 (pt) Combinação farmacêutica, métodos para tratar uma infecção micótica, para prevenir uma infecção micótica, para tratar aspergilose pulmonar invasiva e para reduzir os níveis de galactomanana, preparação de um medicamento, e, uso da combinação farmacêutica.
Lattif et al. History of antifungals
WO2017038872A1 (ja) 抗真菌活性を有する組成物
Liu et al. Generation of methicillin-resistant Staphylococcus aureus biofilm infection in an immunosuppressed rat model
Zhang et al. Ginsenoside Rb1 alleviated concanavalin A-induced hepatocyte pyroptosis by activating mitophagy
Scorzoni et al. Antifungal and anti-biofilm effect of the calcium channel blocker verapamil on non-albicans Candida species
Abdillah et al. Antimalarial activity of Neopetrosia exigua extract in mice
Elder et al. Prevention and amelioration of rodent endotoxin-induced lung injury with administration of a novel therapeutic tripeptide feG

Legal Events

Date Code Title Description
B03A Publication of a patent application or of a certificate of addition of invention [chapter 3.1 patent gazette]