BR102013005373A2 - Forma farmacêutica semi-sólida e seus usos apra prevenção e/ou tratamento das atrofias vaginais - Google Patents

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FORMA FARMACÊUTICA SEMI-SÓLIDA E SEUS USOS PARA PREVENÇÃO E/OU TRATAMENTO DAS ATROFIAS VAGINAIS. A presente invenção proporciona um gel para prevenção e/ou tratamento de atrofia vaginal. O produto da presente invenção é estruturado e multicomponente, contendo concomitantemente agente de adesão à mucosa vaginal e agente de hidratação, além de sistema de controle de pH entre 3,0 e 5,0. O agente de adesão preferencial é o copolímero de metilvinil éter e ácido maleico, o agente de hidratação preferencial é a policarbofila e o agente regulador de pH preferencial é o lactato de sódio.

Description

“FORMA FARMACÊUTICA SEMI-SÓLIDA E SEUS USOS PARA PREVENÇÃO E/OU TRATAMENTO DAS ATROFIAS VAGINAIS” Campo da Invenção A presente invenção trata de forma farmacêutica semi-sólida, preferencialmente na forma de gel, com capacidade de retenção à mucosa vaginal, propiciando elevado grau de hidratação à superfície mucosa e controle da acidez vaginal, sendo especialmente útil para a prevenção e/ou tratamento de atrofias vaginais.
Histórico da Invenção Os receptores^ de estrógenoralfa e beta, são expressos através -do epitélio, tecido conjuntivo e musculatura lisa da vagina, vulva, uretra e do trígono da bexiga, e são críticos para mediar numerosas funções bioquímicas e fisiológicas durante os anos reprodutivos da mulher.
Com a perda do estímulo pelos estrógenos ocorrem mudanças profundas na mucosa vulvovaginal e urogenital. Ocorre fusão de fibras na camada dérmica, com hialinização e fragmentação de fibras elásticas, e, consequentemente, perda geral da elasticidade da mucosa. Ocorre ainda diminuição da concentração de mucopolissacarídeos e ácido hialurônico no interior da derme, com redução da hidratação da mucosa. Assim, a paraceratose do epitélio escamoso vulvar progressiva mente diminui após a menopausa, sendo raramente visto em mulheres idosas. A vagina perde sua rugosidade e as dobras epiteliais que permitem a distensabilidade sofrem diminuição, ocorrendo estreitamento do canal vaginal. A mucosa da vagina, do introito e dos pequenos lábios se torna mais fina e pálida. A vascularização, altamente estrógeno dependente, também diminui no interior da lâmina própria e camadas adventícias. A secreção vaginal é produzida por transudato vascular dos vasos adjacentes à vagina. Com a menopausa e perda do suporte vascular, o volume da secreção vaginal cai significativamente. Agregado a este transudato ocorrem componentes do muco cervical, células epiteliais exfoliadas, fluidos do endométrio, leucócitos, produtos bacterianos, secreções vulvares das glândulas de Bartholin e de Skene. Com a perda do transudato vaginal, há redução tanto do volume do muco cervical e do número de células epiteliais.
Na vagina pré-menopausa os lactobacilos de Doderlein, a flora dominante, eficientemente converte o glicogênio epitelial em ácido lático, que mantém o pH vaginal em 3,5-4.5. Os lactobacilos também produzem peróxido de hidrogênio que, em combinação com o pH baixo, ajudam a suprimir os microorganismos patogênicos (como a Gardnerella vaginalis) dentro do ecossistema vaginal e manter a dominância dos lactobacilos vaginais. Quando há queda do nível de glicogênio, há queda da população de lactobacilos e o pH vaginal sobe. Nesta situação, há alteração para pH entre 5.0 e 7.5 que, associado com a perda de peróxido de hidrogênio vaginal, permite o crescimento de bactérias patogênicas, incluindo stafilococos, streptococos do grupo B e coliformes. A ocorrência destas bactérias pode frequentemente causar infecções vaginais sintomáticas em mulheres menopausadas. Embora as espécies de Candida sejam consideradas normais na flora vaginal, pode ocorrer candidíase vulvovaginal (STIKA, C. S. Atrophic vaginitis. Dermatol Ther, v. 23, n. 5, p. 514-22, 2010 Sep-Oct 2010). A composição do epitélio escamoso da vagina, em camadas de células parabasais imaturas, células intermediárias e células maduras superficiais, muda durante o curso de vida da mulher. Antes da menarca, o epitélio é predominantemente composto de células parabasais recobertas por uma fina linha de células intermediárias. No ambiente de estrógeno durante os anos da fase reprodutiva, a espessura do epitélio aumenta com a adição de camadas de células escamosas maduras. Após a menopausa, com a redução do nível de estrógenos, há novamente a dominância de células parabasais com poucas células intermediárias e superficiais. A relação proporcional entre estes três tipos celulares é denominada VMI. Com a idade, a proporção de células parabasais aumenta, até que o índice se converta quase inteiramente nestas células. O índice VMI pode ser usado, portanto, como indicador qualitativo do efeito de estrogênio sobre a mucosa vaginal, com 0-49 indicando pouco ou nenhum efeito de estrógenos, 50-64 indicando efeito moderado e 65-100 indicando um ambiente altamente estrogênico. O índice VMI é uma medida mais válida que apenas a sensação de secura vaginal expressa pelas pacientes, propiciando uma avaliação objetiva dos efeitos de tratamento diversos, hormonais e não hormonais. O termo vaginite atrófica pós-menopausa tem sido usado para descrever o desenvolvimento de um quadro inflamatório, derivado do crescimento de patógenos após a perda da dominância de lactobacilos e do ambiente protetor ácido. Mas o termo implica um quadro mais amplo, incluindo dor no intercurso sexual, secura vaginal, dor, coceira e infecções recorrentes do trato urinário.
Mais comumente, com o decréscimo da lubrificação vaginal e diminuição do diâmetro himenal, as mulheres relatam frequentemente inflamação friccional pós-coito dos pequenos lábios, fissuras do introito e na base da abertura vaginal e dor durante o intercurso sexual (dispaurenia).
Uma situação frequente é a prevalência de secura vaginal em sobreviventes de câncer de mama, que é bastante elevada, na ordem de 61% enquanto que errrTnulheres menopausadas é^xle 10=4-7%. tste grupo é normalmente acometido em parte porque os tratamentos quimioterápicos exacerbam a atrofia vaginal, devido à medicação com antagonistas de estrogênio em mulheres pré-menopausa.
Uma das formas de tratamento é a ministração local ou sistêmico de hormônios. Este tipo de tratamento, porém, enfrenta resistência nos dias atuais, pelos efeitos colaterais da administração de estrógenos ao longo dos anos.
Outra alternativa é o tratamento não hormonal, com hidratantes vaginais. Existem vários produtos no mercado mundial, especialmente à base de policarbofila, que é um derivado do ácido poliacrílico com ligações cruzadas com divinil álcool. A policarbofila é um polímero muco-adesivo que pode agregar 60 vezes seu peso em água. Após a inserção na vagina, a policarbofila adere à parede vaginal, criando uma superfície hidratada, liberando lentamente a água e eletrólitos no epitélio. O polímero permanece aderido até que ocorra a descamação de células epiteliais, o que ocorre em 2 a 3 dias. A migração de água e eletrólitos na vasculatura dérmica causa vasodilatação, o que aumenta o suprimento sanguíneo à mucosa vaginal e subsequentemente melhora a hidratação tecidual.
Em 1996, Bygdeman & Swahn (BYGDEMAN, M.; SWAHN, M. L. Replens versus dienoestrol cream in the symptomatic treatment of vaginal atrophy in postmenopausal women. Maturitas, v. 23, n. 3, p. 259-63, Apr 1996) fizeram uma comparação entre os tratamentos hormonais e não hormonal, usando Replens™ - um gel à base de policarbofila - para o tratamento sintomático da atrofia vaginal em mulheres pós-menopausa. Foram avaliadas 39 mulheres, na idade de 43 a 76 anos, com secura vaginal, sendo que um grupo recebeu policarbofila 3 vezes por semana e outro grupo recebeu creme vaginal de Dienoestrol diariamente. Foram avaliados sintomas de secura vaginal, pH vaginal, coceira e dispaurenia. Os resultados indicaram que: a) secura vaginal — ambos os tratamentos foram eficazes, embora o tratamento hormonal tenha sido mais efetivo na primeira semana; b) pH vaginal - sem diferença entre os grupos; c) irritação - sem diferença entre os grupos; d) dispaurenia - sem diferença entre os grupos, sem relatos de dor no intercurso sexual após 3 meses; e) início da ação - grupo com hormônios apresentou melhoras em 3.9 dias e com policarbofila em 5.8 dias.
Errr estudo de-fase^H, toprinzf e eotaboradores (Leprinzfr Abü-Ghazaleh et al., 1997, Phase III randomized double-blind study to evaluate the efficacy of a polycarbophil-based vaginal moisturizer in women with breast câncer. J Clin Oncol, v. 15, n. 3, p. 969-73, Mar 1997) analisaram comparativamente com placebo o uso de gel de policarbofila em mulheres tratadas de câncer de mama. Foram avaliadas 45 mulheres que apresentaram como principais resultados o decréscimo da secura vaginal em 64% e da dispaurenia em 60% com uso de gel de policarbofila.
Em 2001, em estudo comparativo de gel de policarbofila com outro produto - um antisséptico foi constatado por Owen e colaboradores (Owen, Peters et al., Comparison of the rheological properties of Advantage-S and Replens. Contraception, v. 64, n. 6, p. 393-6, Dec 2001) que o gel de policarbofila é imiscível com o fluido vaginal.
Van der Laak e colaboradores em 2002 (Van Der Laak, De Bie et al., The effect of Replens on vaginal cytology in the treatment of postmenopausal atrophy: cytomorphology versus computerised cytometry. J Clin Pathol, v. 55, n. 6, p. 446-51, Jun 2002) analisaram a citologia vaginal após o uso de gel de policarbofila. Amostras vagínais foram removidas de 38 mulheres pós-menopausa que sofriam os sintomas da atrofia vaginal e foram analisadas de acordo com índice VMI, ou seja, percentual da composição celular. Os resultados indicaram que na análise citomorfométrica houve expressiva melhora no índice de maturação, indicando um efeito positivo no tratamento com gel de policarbofila, ou seja, o uso deste gel foi efetivo na melhoria do quadro celular.
Assim o aumento do índice de maturação de 40% antes do tratamento para 70% após o tratamento é significativamente indicador de melhora das condições de atrofia prévia. O efeito do gel de policarbofila na vaginose bacteriana foi avaliado por Wu (Wu, Fielding et al., The effect of polycarbophil gel (Replens (TM)) on bacterial vaginosis: A pilot study. European Journal of Obstetrics Gynecology and Reproductive Biology, v. 130, n. 1, p. 132-136, Jan 2007) em 17 mulheres com sintomas clínicos. Estas pacientes foram tratadas durante 4 semanas, com aplicação de gel de policarbofila a cada 3 dias, e, ao final, apresentaram melRorias nõ índice de Nugent, odor vaginal e contagem celular. Os autores^ concluíram que o gel de policarbofila foi associado à melhoria de sinais clínicos de vaginose bacteriana.
Bologna e Robinson (patentes norte americanas US 6,017,521 e US 6,479,045, PI 9812134-0) ensinaram que os géis a base de policarbofila podem melhorar o pH da área vaginal, em uma composição monopolimérica mas que esta melhoria é lenta, podendo alcançar várias semanas.
Além disso, os ensinamentos do documento EP 818194 mencionam o uso de policarbofila e polímeros como Gantrez. Entretanto, o referido documento não menciona seu uso em concomitância com o lactato em sua formulação, e nem tampouco sugerem a estabilização ativa do pH com lactato, não sugerindo ou antecipando a presente invenção.
Mauck e colaboradores (Mauck, Katz et al., Vaginal distribution of Replens and K-Y Jelly using three imaging techniques. Contraception, v. 77, n. 3, p. 195-204, Mar 2008) determinaram a distribuição vaginal de gel de policarbofila em voluntárias usando três técnicas de imagem. Concluiram que a aplicação inicial de gel cobre 2/3 da área máxima possível, sendo que em 45 minutos esta área aumenta para 3/4.
Embora o gel se espalhe na área vaginal, a retenção apresenta dificuldades, expressas quando houve marcação do gel com radioisótopos. Assim, Brow e colaboradores (Spreading and Retention in Post Menopausal Women as Assessed by Gamma Scintigraphy, Pharmaceutical Research,vol 14, 1073-8, 1987) apresentaram resultados referentes a gel de policarbofila, afirmando que houve falta de retenção suficiente para este tipo de produto. Os autores concluíram que a perda de retenção do gel é devida a uma condição esfinctérica da vagina, pois as paredes vaginais ficam normalmente colabadas, sem espaço adequado para a instalação física do gel.
Os géis vaginais têm como característica única a possibilidade de solubilização da forma farmacêutica pelos fluidos locais, como exsudato cervicovaginal e sêmen, alterando significativamente suas propriedades reológicas. O uso de tratamentos não hormonais para a atrofia vaginal visa não apenas a hidratação da mucosa, mas o controle de pH da região, como forma de prevenção da ocorrência de bactérias patogênicas. A presente invenção proporciona uma alternativa de forma farmacêutica semi-sólida que contorna as dificuldades ê limitações da técnica^nterior.
Descrição Resumida da Invenção A presente invenção proporciona uma forma farmacêutica semi-sólida para o controle da acidez vaginal e para prevenção e/ou tratamento de atrofias vaginais.
Em um primeiro aspecto da presente da invenção, é provida uma composição semi-sólida bioadesiva que proporciona o controle da acidez vaginal dentro da faixa de pH fisiologicamente/ecologicamente benéfica.
Em um segundo aspecto da presente invenção, é provida uma composição semi-sólida compreendendo um veículo farmaceuticamente aceitável e: a) um ou mais polímeros de hidratação; b) um ou mais polímeros de adesão; e c) ácido lático e/ou seus sais.
Em uma concretização preferencial, o referido polímero de hidratação é a policarbofila, o referido polímero de adesão é um copolímero de ésteres de ácido maleico e os referidos sais de ácido lático incluem seus sais de sódio.
Em um terceiro aspecto da presente da invenção, é provido o uso de: a) um ou mais polímeros de hidratação; b) um ou mais polímeros de adesão; e c) ácido lático e/ou seus sais, na preparação de uma forma farmacêutica semi-sólida para o controle da acidez vaginal e/ou na prevenção e/ou tratamento de atrofias vaginais.
Esses e outros objetivos da presente invenção serão melhores compreendidos e valorizados a partir da descrição detalhada a seguir e seus exemplos.
Descrição das Figuras A Figura 1 ilustra um dispositivo de teste in vitro para avaliação da capacidade de adesão, o qual compreende duas placas de vidro úmidas (2, 3) entre as quais o material de teste é disposto. O resultado é medido em força de deslocamento das placas no momento da separação, em Newtons (N), por um dinamômetro (1). Um Newton é uma unidade de força, sendo igual a quantidade de força requerida para acelerar um^iuilograma de^massa, a um-metro por segundo quadrado. A Figura 2 ilustra os resultados comparativos entre o gel de policarbofila pura, gel de Gantrez e combinação de ambos os polímeros. O resultado da combinação de polímeros é maior que a força de tração dos polímeros isoladamente. A Figura 3 ilustra os resultados comparativos entre o pH inicial, o pH com gel com lactato e o pH sem lactato.
Descrição Detalhada de Invenção A presente invenção proporciona uma forma farmacêutica semi-sólida para o controle da acidez vaginal e para prevenção e/ou tratamento de atrofias vaginais. O produto da invenção é bioadesivo e proporciona o controle da acidez vaginal dentro da faixa de pH fisiologicamente/ecologicamente benéfica. A composição semi-sólida da invenção compreende um veículo farmaceuticamente aceitável e: a) um ou mais polímeros de hidratação; b) um ou mais polímeros de adesão; e c) ácido lático e/ou seus sais.
Em uma concretização preferencial, o referido polímero de hidratação é a policarbofila.
Em uma concretização preferencial, o referido polímero de adesão é um copolímero de ésteres de ácido maleico.
Em uma concretização preferencial, os referidos sais de ácido lático incluem seus sais de sódio. A presente invenção proporciona também o uso de: a) um ou mais polímeros de hidratação; b) um ou mais polímeros de adesão; e c) ácido lático e/ou seus sais, na preparação de uma forma farmacêutica semi-sólida para o controle da acidez vaginal e/ou na prevenção e/ou tratamento de atrofias vaginais. O produto da presente invenção proporciona melhoras consideráveis em relação aos congêneres conhecidos que utilizam policarbofila, particularmente melhora da adesividade e melhora do controle da acidez vaginal. Estas características atendem as necessidades de melhoria de efetividade, segurança, conforto, facilidade de usot sendo passível de produção industrial. A presente invenção tem como conceito inventivo a associação entre polímero de hidratação, polímero de adesão; e estabilização ativa com lactato, potencializando as características de cada componente em um produto final efetivo, de facilidade de uso, com conforto e produção industrial simples.
Deve-se esclarecer que a policarbofila combinada em sistemas estruturados com polímeros de metilvinil éter e ácido maleico não conferem estabilidade ao pH vaginal. Embora tais composições possam proporcionar pH na faixa de 4,0 a 5,5, o retorno do pH às condições vaginais normais é longo, atingindo até vários meses. O pH intrínseco da combinação de polímeros não é per si suficiente para a melhoria clínica do pH em tempos relativamente curtos.
Assim a presente invenção proporciona uma solução e este problema, através da associação de combinação de polímeros com elemento de controle de pH vaginal, efetivamente conduzindo a acidez vaginal à condição de normalidade em tempo relativamente curto.
Na presente invenção o elemento de controle de pH associado aos polímeros é preferencialmente o lactato de sódio, que é o sal de sódio do ácido láctico (ou ácido 2-hidroxipropanóico ou ácido ?-hidroxipropanóico). Em geral é produzido a partir da fermentação, tem gravidade específica de 1,31 a 1,34 g/mL e seu uso como produto terapêutico é regulado pela Farmacopéia Americana (US Pharmacopeia). O sal de ácido láctico pode se dissociar em ácido lático, gerando assim seu efeito regulador específico. Quando os valores de pH são demasiadamente baixos, o lactato regula este valor para cima e vice versa, quando o meio impõe valores mais altos a ação do lactato (pH=7.0) ajusta o valor para o desejado. O adequado ajuste da proporção de lactato de sódio na composição da invenção é um aspecto importante da presente invenção, uma vez que atua como regulador do gel polimérico altamente estruturado.
Os inventores observaram que os géis mais eficazes devem compreender uma composição de polímeros com funções diferentes, devendo também ser agregado um normalizador do pH normal para a área vaginal, como o lactato de sódio.
Surpreendentemente, formulações contendo polímeros adesivos altamente eficazes melhoram substancialmente o desempenho das formulações finais em seus aspectos^ de~ adesividade e -eapaeidade de hidratação. Também surpreendentemente, a associação destes polímeros com elementos que conferem controle de acidez na formulação, como o lactato de sódio, proporcionam o efeito clínico de conduzir o pH vaginal à condição de normalidade com mais rapidez que a associação pura de polímeros.
Em uma concretização da presente invenção, a composição compreende múltiplos polímeros com funções distintas, com vistas a aperfeiçoar as propriedades de cada componente específico, e também de uma substância reguladora do pH.
Os géis altamente estruturados, ou compostos por multicomponentes, apresentam desempenho superior, pela conjunção de características específicas de seus componentes. Assim, os polímeros de hidratação bem documentados como a policarbofila, podem melhorar substancialmente seu rendimento. As plataformas altamente estruturadas melhoram o desempenho reológico, a adesão, hidratação, emoliência e controle tamponado da acidez do meio de aplicação destes produtos.
Sem entrar em maiores detalhes sobre os mecanismos responsáveis pelos efeitos surpreendentes, a composição da presente invenção sugere uma sinergia devido às interações polímero-polímero que controlam a embebição do polímero muco-adesivo. Isso proporciona a interpenetração das cadeias de polímero com o muco local, assegurando melhorada adesão física e química, bem como plena atividade de hidratação.
Assim, a composição da presente invenção proporciona a interação entre os multicomponentes de acordo com o contexto das demandas reológicas destes sistemas, como a presença de fluidos vaginais, bem como as necessidades de retenção geradas pelas condições anatômicas locais, acrescidas das necessidades de manutenção de pH local adequado. A composição da presente invenção proporciona também as características reológicas e mecânicas adequadas à sua aplicação específica, conferindo resistência ao “stress” mecânico local, podendo também atuar na liberação de drogas, princípios ativos e/ou excipientes na mucosa vaginal. O desempenho ótimo destes produtos pode, portanto, ser alcançado com alto módulo de elasticidade, retenção prolongada e liberação controlada ao mesmo tempo.
Os copolímeros de metilvrnil éter e ácido maletco PVM/MAaforam descobertos nos anos 50. Possuem anéis anidro a partir dos quais ácidos ou bases podem ser preparadas. Os copolímeros de ácido maleico são favorecidos por diversas propriedades como biocompatibilidade, possibilidade de variação das propriedades hidrofílicas/hidrofóbicas e outras e, principalmente, na magnitude da muco-adesão. Seu uso típico é na adesão de próteses totais, como o produto comercializado Corega (Glaxo Smith Klein, marca registrada) e como na patente americana US 5,750,591 de Clarke e outros.
Os copolímeros PVM/MA são lineares e possuem ligações cruzadas no estado gel controladas pela superposição de cadeias e por pontes de hidrogênio. As policarbofilas, por outro lado, são ligações cruzadas de ácido poliacrílico com divinil álcool. A Tabela 1 apresenta a comparação de diversos parâmetros entre policarbofila e PVM/MA.
Os valores comparados para policarbofila e PVM/MA mostram que os géis de PVM/MA são mais elásticos e exigem maior força para remoção, devido à maior interpenetração e embebição da mucina local, em modelos simulados de adesão em mucosa de animais embebidas com líquido vaginal simulado. O uso combinado de polímeros de adesão propicia valores maiores de adesão a estas mucosas. O valor total da força de tração necessária para remoção, in vitro, de sistemas estruturados, ou seja, com combinação de polímeros de adesão, é maior que os valores necessários para os polímeros TsoladaméntenTestes in vitro feitos descotando=se placas de vidro úmidas com os polímeros em teste interpostos entre elas, através de um dinamômetro, são mostrados nas (Figura 1 e 2). Na presente invenção as forças alcançadas, em Newtons, são respectivamente de 0.67 N para o Gantrez, 0,43 N para policarbofila e 1.15 para a combinação de ambos. A força de adesão reflete a capacidade do gel na retenção à mucosa, melhorando o conforto de uso e ação efetiva de hidratação na superfície da mucosa. Os géis para aplicação vaginal podem conter múltiplos excipientes, para adesão e hidratação, de forma a ser estável, aplicável com facilidade e confortável ao uso.
Um gel para uso vaginal é normalmente uma emulsão em água, com os seguintes componentes: espessante (agarose, carbomer, polioxi etileno cetil éster, gelatina, hidroximetilcelulose, hidroxipropilcelulose, hidroxipropilmetilcelulose, metilcelulose, polivinil álcool), solvente (água, álcool, óleo de milho, óleo de amendoim), antioxidante (ácido ascórbico, pantenol), preservantes (cloreto de benzalcônio, cloreto de benzetonio, ácido benzóico, benzil álcool, ácido bórico, lactato de cálcio, cloreto de cetil piridinio, acetato de hibitane, metil parabeno, propilparabeno), emoliente (cetil palmitato, etileno glicol, glicerina, gliceril monoestearato, óleo de palma, isopropil miristato, lanolina, óleo mineral, sorbitol), acidulante (ácido cítrico, ácido acético, ácido lático, ácido nítrico, ácido fosfórico, bitartarato de potássio), antisséptico (peróxido de hidrogênio, uréia), adesivos (policarbofila, metilvinileter e ácido maleico), hidratantes (policarbofila), emulsificante (polietilenoglicol, óxido de polietileno, pluronic, poloxamer, polímeros de silicone, trietanolamina), regulador de acidez (lactato de sódio 50%).
Uma concretização preferencial da presente invenção é um sistema estruturado multicomponente para aplicação vaginal, que compreende: uma combinação de hidratantes, em especial a policarbofila; um sistema de adesão (PVM/MA), emolientes; um sistema de regulação de pH (em especial o lactato de sódio), podendo também conter emolientes (em especial óleo de palma), espessantes (em especial carbomer), emulsificantes (em especial glicerina), preservantes e solvente. O elemento regulador de pH, o lactato de sódio, é acrescentado na fase aquosa sendo usado o lactato de sódio 50% de 0,1 a 3%, preferencialmente entre 0,5% e 1,5%. Nesta proporção, ocorre a modulação desejada de pH para a recuperação das condições normais da ecologia bacteriana vaginal.
Os exemplos aqui descritos têm o intuito apenas de ilustrar algumas das inúmeras formas de realizar a presente invenção, não devendo ser encarados de forma restritiva. EXEMPLO 1 A mistura se dá em tanques a frio, sob agitação constante. Um exemplo típico de formulação é (total para 100 g) descrito na Tabela 2.
Os versados na arte valorizarão os conhecimentos aqui apresentados e poderão reproduzir a presente invenção nas modalidades apresentadas e em outras variantes, abrangidas no escopo das reivindicações anexas.

Claims (10)

1. FORMA FARMACÊUTICA SEMI-SÓLIDA PARA A PREVENÇÃO E/OU TRATAMENTO DE ATROFIAS VAGINAIS, caracterizada por compreender um veículo farmaceuticamente aceitável e: - um ou mais polímeros de hidratação; - um ou mais polímeros de adesão; e - ácido lático e/ou seus sais.
2. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 1, caracterizada pelo fato de que o referido polímero de hidratação é a
3. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 1, caracterizada pelo fato de que o referido polímero de adesão é um copolímero de ésteres de ácido maleico.
4. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 1, caracterizada pelo fato de que os referidos sais de ácido lático incluem seus sais de sódio.
5. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 4, caracterizada pelo fato de compreender 0,1 a 3% de lactato de sódio 50%.
6. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 5, caracterizada pelo fato de compreender de 0,05 a 1,5% de lactato de sódio 50%.
7. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com qualquer uma das reivindicações 1-6, caracterizada por adicionalmente compreender um ou mais dos ingredientes selecionados de: emolientes, em especial óleo de palma; espessantes, em especial carbomer; emulsificantes, em especial glicerina; preservantes e/ou solventes.
8. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 1, caracterizada por adicionalmente compreender um ou mais princípios ativos farmacêuticos para liberação na mucosa vaginal.
9. FORMA FARMACÊUTICA, de acordo com a reivindicação 1, caracterizada por compreender, em porcentual em peso: 3,45% de carpobol 974; 9,876% de policarbofila AA10; 0,15% de benzoato de sódio; 1% de lactato de sódio 50%; 2,9% de glicerina; 6,76% de Gantrez; 1% de óleo de palma hidrogenado; e 4,2% de óleo mineral.
10. USOS, de um ou mais polímeros de hidratação; um ou mais polímeros de adesão; e ácido lático e/ou seus sais, caracterizado por ser para a preparação de uma forma farmacêutica semi-sólida para o controle da acidez vaginal e/ou na prevenção e/ou tratamento de atrofias vaginais.
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Cited By (1)

* Cited by examiner, † Cited by third party
Publication number Priority date Publication date Assignee Title
WO2023280937A1 (de) * 2021-07-07 2023-01-12 Dr. August Wolff Gmbh & Co. Kg Arzneimittel Verwendung von milchsäure bei postmenopausalen frauen

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