PT106935A - Argamassas multifuncionais, para armazenamento de calor, despoluição do ar e auto-limpeza, processo para a sua preparação e utilização - Google Patents

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Victor Miguel Carneiro De Sousa Ferreira
Sandra Manuel Simaria De Oliveira Lucas
José Luís Barroso De Aguiar
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Univ Aveiro
Univ Do Minho
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Abstract

A PRESENTE INVENÇÃO DIZ RESPEITO A ARGAMASSAS, PARA APLICAÇÃO NO REVESTIMENTO INTERIOR E EXTERIOR DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS, QUE COMPREENDE MISTURAS, EM DIFE-RENTES PROPORÇÕES, DE MICROCÁPSULAS DE MATERIAIS DE MUDANÇA DE FASE (PCM) E NANOPARTÍCULAS DE DIÓXIDO DE TITÂNIO, JUNTAMENTE COM UM OU MAIS LIGANTES, À BASE DE CAL, CIMENTO OU GESSO, AGREGADOS, ÁGUA E OUTROS MATERIAIS AUXILIARES. A INVENÇÃO DIZ TAMBÉM RESPEITO A UM PROCESSO PARA A ELA-BORAÇÃO DAS REFERIDAS ARGAMASSAS POR MISTURA PRÉVIA E HOMO-GENEIZAÇÃO, EM SECO, DOS COMPONENTES SÓLIDOS, COM POSTERIOR MISTURA COM ÁGUA E HOMOGENEIZAÇÃO NUMA MÁQUINA MISTURADORA. A ARGAMASSA DE ACORDO COM A INVENÇÃO É UTILIZADA NO REVESTIMENTO INTERIOR E EXTERIOR DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS, COM O OBJECTIVO DE POUPAR ENERGIA, MELHORAR A QUALIDADE DO AR E ASSEGURAR AUTO-LIMPEZA.

Description

1 DESCRIÇÃO "ARGAMASSAS MULTIFUNCIONAIS, PARA ARMAZENAMENTO DE CALOR, DESPOLUIÇÃO DO AR E AUTO-LIMPEZA, PROCESSO PARA A SUA PREPARAÇÃO E UTILIZAÇÃO"
DOMÍNIO TÉCNICO DA INVENÇÃO
Este invento descreve a preparação de argamassas de revestimento com ligante à base de cal, cimento ou gesso, agregados, água e outros materiais auxiliares e a sua incorporação com materiais de mudança de fase (PCM) e nanoparticulas de dióxido de titânio (Ti02). A incorporação de materiais de mudança de fase permite melhorar o desempenho térmico das argamassas utilizadas no revestimento interior e exterior de sistemas construtivos, contribuindo assim para a poupança energética do edifício. A introdução de nanoparticulas de dióxido de titânio permite degradar os poluentes do ar interior e exterior, e assegura à superfície capacidade de auto-limpeza.
ANTECEDENTES DA INVENÇÃO A qualidade do ar interior é considerado um aspecto prioritário na avaliação da sustentabilidade dos edifícios. Diversos factores contribuem para a qualidade e 2 nível de conforto que é percepcionado pelos ocupantes e entre estes incluem-se [EKKEHARD et al., 2003]: • Conforto térmico • Salubridade do ar interior (presença de poluentes e odores) A manutenção de níveis de conforto térmico adequados às necessidades dos ocupantes implica elevados consumos energéticos. O consumo de energia durante o período de utilização dos edifícios é responsável pela redução das reservas de combustíveis fósseis e pela emissão de poluentes para o ambiente. A utilização de sistemas passivos, para ajudar a manter a temperatura interior dentro do intervalo considerado adequado a um bom nível de conforto, pode significar uma importante redução da factura energética ao longo do ciclo de vida do edifício.
Uma estratégia para controlar a temperatura interior de forma passiva é a utilização de sistemas construtivos com materiais capazes de armazenar energia e libertá-la posteriormente. Estes materiais são vulgarmente conhecidos por PCM ou materiais de mudança de fase.
Durante o processo de transferência de energia, a temperatura mantém-se constante, e o material passa de sólido a líquido. A temperatura de fusão do material designa-se por temperatura de transição de fase. Neste caso o armazenamento de calor não depende da temperatura, mas 3 sim da variação de entalpia e é dada pela equação [HASNAIN, 1998]: AQ — mx AH (]_) onde: ΔΗ - variação de entalpia (J) m - massa de material (g) 0 armazenamento de calor latente ocorre com o material a uma temperatura constante e com muito baixa variação de volume, sendo possível armazenar elevadas quantidades de energia [CABEZA et al., 2011].
Na construção civil os PCM têm sido usados em sistemas construtivos preparados para a inclusão em projectos específicos. De entre as soluções investigadas, salientam-se os sistemas de aquecimento de águas, onde o PCM é usado para armazenar parte do calor proveniente do sol durante o dia e que é transferido para a água durante a noite. Para o aquecimento do ar interior
Entre os diferentes tipos de PCM destacam-se, como os mais comuns e usados comercialmente, os orgânicos e inorgânicos. No caso dos PCM orgânicos, as parafinas microencapsuladas em polímero (PMMA) são as mais usadas pelo baixo custo e pela disponibilidade em diferentes gamas de temperaturas. Este PCM não apresenta risco para a saúde humana e é compatível com os materiais usados na construção. Como principal limitação regista-se a menor entalpia de fusão comparativamente a alguns PCM inorgânicos. A 4 utilização de microcápsulas permite a incorporação direc-tamente na argamassa e o encapsulamento em polimetil-metacrilato (PMMA) ou outros polímeros como a melamina formaldeído assegura que as solicitações mecânicas durante a preparação da argamassa não provocam o rompimento da cápsula evitando que ocorra derrame do produto [FARID et al., 2004]. A investigação da aplicação de PCM em materiais de construção produziu já diversas patentes e artigos. A empresa BASF desenvolveu um gesso que incorpora microcápsulas de PCM e se destina a ser aplicado em placas de gesso cartonado [EKKEHARD et al., 2003]. A maior parte das patentes registadas utilizam o gesso ou cimento como ligantes [BARROSO AGUIAR et al., SALYER et al., 1986].
Na Patente US 4747240 são explicadas diferentes formas de incorporação dos PCM em massas que são usadas no acabamento de paredes. Apesar de ser referida a possibilidade de utilização de microcápsulas, nesta patente são utilizadas cápsulas com dimensões que variam entre 500 e 3000 μπι. Com estas dimensões a camada aplicada tem que ter uma espessura elevada para garantir uma boa incorporação das cápsulas sem comprometer a qualidade do acabamento. A patente de invenção US 4587279 relata a técnica de incorporação de PCM em betão fresco.
Um factor que pode contribuir para a redução dos índices de qualidade do ar interior é a presença de 5 substâncias nocivas para a saúde humana. Os sistemas de ar condicionado, aquecimento e ventilação contribuem também para a entrada de poeiras, poluentes e fungos [SEPPANEN et ai., 2002]. Estes estão muitas vezes associados ao aumento da incidência de doenças respiratórias nos ocupantes. A redução de qualidade do ar interior devido à presença de poluentes e contaminantes pode resultar de diversos factores [TOBIN et al., 1993]: • Libertação de substâncias dos materiais existentes no interior (mobília, acabamentos) • Emissões com origem em actividades humanas (cozinhar, utilização de lareiras, tabaco) • Entrada de ar do exterior pelos sistemas de clima-tizaçâo e ventilação A forma tradicional de mitigar o efeito da entrada destes poluentes é a utilização de sistemas de filtros e de tratamento do ar. Estas soluções implicam manutenção periódica, tratamento de resíduos (da substituição dos filtros) e consomem energia. A utilização de argamassas com capacidade de eliminar poluentes do ar e capacidade de auto-limpeza, evitam a utilização de sistemas de purificação do ar e reduzem os custos associados à manutenção das fachadas e paredes interiores [HASHIMOTO et al., 2005].
Outra estratégia para reduzir a concentração destes contaminantes, de forma passiva, é o recurso a 6 nanopartícuias fotocatalíticas, que degradam os poluentes do ar interior. A utilização de nanopartículas com reduzido tamanho e elevada área superficial, altera a forma como estas partículas reagem e é possível modificar propriedades fundamentais do material, que diferem significativamente das características à escala macroscópica. A incorporação destes aditivos em materiais para a construção, por exemplo, em argamassas para revestimento de paredes e edifícios torna-as capazes de eliminar poluentes da atmosfera e contribuir para melhores níveis de qualidade do ar [YU et al., 2009] . A investigação da aplicação de titânia (dióxido de titânio ou Ti02) em argamassas tem-se focado no ligante de cimento, havendo muito pouca investigação realizada em argamassas de cal [HUNGER et al., 2008]. As patentes US 6454489, US 6409821 e US 7960042 são exemplos da utilização de pavimentos para aplicação exterior, com propriedades fotocatalíticas. Destas patentes já resultaram alguns produtos comerciais, com base em gesso e cimento. Também são comercializadas actualmente tintas com capacidade de degradar poluentes.
DESCRIÇÃO RESUMIDA DAS FIGURAS
Figura 1: apresenta os resultados dos testes de resistência mecânica das argamassas com incorporação conjunta de 20-30% de PCM e 0-5% de TÍO2. 7
Figura 2: mostra as curvas de temperatura obtidas nos ensaios de avaliação da capacidade de armazenamento de calor da argamassa multifuncional.
Figura 3: exibe as temperaturas máximas e mínimas atingidas com a argamassa nos ensaios de armazenamento de calor latente.
Figura 4: apresenta a curva de gradiente térmico das argamassas nos ensaios de armazenamento de calor latente-
Figura 5: mostra a taxa de degradação de NOx da argamassa nos ensaios realizados no reactor fotocatalítico.
Figura 6: representa a taxa de degradação de Rodamina B da argamassa multifuncional nos ensaios de auto-limpeza .
SUMÁRIO DA INVENÇÃO A presente invenção descreve argamassas com ligante à base de cal, gesso ou cimento, agregados, água e outros produtos auxiliares, onde se incorporaram PCM, que têm a capacidade de acumular calor latente e nanopartículas de dióxido de titânio, com propriedades fotocatalíticas. Estas argamassas tem como objectivo reduzir a factura energética dos edifícios, aumentar a qualidade do ar e assegurar auto-limpeza. É também descrito o processo para a 8 preparação das referidas argamassas, a sua utilização no revestimento interior e exterior de sistemas construtivos, e o processo de teste de avaliação da capacidade de armazenamento de calor, de degradação de poluentes e de auto-limpeza.
DESCRIÇÃO DETALHADA DA INVENÇÃO A presente invenção diz respeito a argamassas, para aplicação no revestimento interior e exterior de sistemas construtivos, que compreende misturas em diferentes proporções, de microcápsulas de materiais de mudança de fase (PCM) e nanopartículas de dióxido de titânio, juntamente com um ou mais ligantes, à base de cal, cimento ou gesso, agregados, água e outros materiais auxiliares. A invenção diz também respeito a um processo para a elaboração das referidas argamassas. Na presente invenção é também descrito um processo de ensaio da capacidade de armazenamento de calor, a descrição de um reactor de ensaios de degradação de poluentes e um teste de auto-limpeza. A argamassa de acordo com a invenção é utilizada no revestimento interior e exterior de sistemas construtivos, com o objectivo de poupar energia, melhorar a qualidade do ar e assegurar auto-limpeza.
Antes da presente invenção, os produtos desenvolvidos apresentavam apenas uma funcionalidade, ou armazenavam calor latente ou tinham propriedades fotocata-líticas. A possibilidade de associar a capacidade de 9 armazenamento de calor latente e as propriedades fotocata-líticas numa só argamassa permite incluir diversas funcionalidades em simultâneo numa só camada de argamassa, sem a necessidade de utilização de diversos produtos. Esta possibilidade permite reduzir a quantidade de materiais aplicados o que melhora a sustentabilidade da construção. Torna possível com menor mão-de-obra revestir um edifício, nas paredes exteriores ou interiores com um produto que garante a poupança energética, a melhoria da qualidade do ar e a auto-limpeza em simultâneo.
Objectos da invenção
Constitui um primeiro objecto da invenção argamassas, para aplicação no revestimento interior e exterior de sistemas construtivos, que compreendem 5% e 50%, em peso, de microcápsulas de materiais de mudança de fase (PCM) e 0,5% e 10%, em peso, de nanopartículas de dióxido de titânio (Ti02) , juntamente com um ligante simples ou misto à base de cal, cimento ou gesso, agregados, água e outros materiais auxiliares.
De preferência a percentagem de PCM incorporado varia entre 10% e 40%, e a percentagem de Ti02 incorporado varia entre 0,5% e 5%.
Num modelo de realizção preferido o ligante é constituído por ligante misto. 10
Normalmente a proporção em peso de ligante/agre-gado situa-se entre 1:3 e 1:7.
Preferencialmente as microcápsulas do material de mudança de fase têm dimensões entre 0,2 e 25 ym e são constituídas por polimetilmetacrilato de metilo contendo uma mistura de ceras de parafina.
As nanopartículas de T1O2 possuem, usualmente, dimensões inferiores a 100 nm.
Constitui um segundo objecto da invenção um processo para a preparação das argamassas de qualquer uma das reivindicações 1 a 6, que consiste em se misturar previamente e em seco as microcápsulas de PCM, as nanopartículas de dióxido de titânio com os ligantes, agregados, outros materiais auxiliares, com posterior homogeneização em meio aquoso numa máquina misturadora.
Parte Experimental
As argamassas da presente invenção utilizam um PCM comercial e um aditivo fotocatalítico considerados adequados para a incorporação em materiais de construção. Assim, aplicando a argamassa no revestimento interior das divisões de um edifício, esta contribui para evitar as oscilações de temperatura (através da absorção e libertação do calor retido pelos PCM), degrada os poluentes do ar e 11 mantém a sua superfície limpa (pela capacidade foto-catalítica das nanopartículas de titânia). 0 PCM seleccionado é constituído por microcá-psulas de polimetilmetacrilato de metilo contendo uma mistura de ceras de parafina. 0 produto é utilizado em pó com um diâmetro de partícula que se situa entre 2 e 20 pm, tem uma temperatura de transição de 23 °C e 110 kJ/kg de calor específico (segundo indicações do fornecedor). O aditivo fotocatalítico escolhido é constituído por nanopartículas de dióxido de titânio com 21 nm de diâmetro médio, com duas fases cristalinas, anatase e rutilo. A preparação das argamassas para teste foi efec-tuada por mistura prévia em seco dos diversos componentes incluindo as microcápsulas de PCM, das nanopartículas de TÍO2, os agregados, agregados (areias), e outros produtos auxiliares, com posterior homogeneização em meio aquoso numa máquina misturadora.
Exemplos de preparação
Foram preparadas e estudadas diferentes composições de argamassas de cal, gesso ou cimento, ou suas misturas, com quantidades de PCM que variaram entre 5 e 50% e de Ti02 entre 0,5% e 10% em relação ao peso seco total da argamassa. 12
Os melhores resultados foram obtidos para quantidades de PCM entre 10 e 40% e de T1O2 entre 0,5% e 5%. A proporção de ligante/agregado variou entre 1:3 e 1:7, tendo os melhors resultados sido obtidos para uma proporção de ligante/agregado de 1:4, ou seja, cerca de 20% de ligante para 80% de agregado (areias).
Foi adoptada a seguinte metodologia para a preparação das argamassas multifuncionais: • Pesagem dos materiais sólidos (matérias-primas e aditivos); • Mistura e homogeneização; • Pesagem da água de amassadura; • Mistura dos materiais sólidos na água e homogeneização final numa misturadora. A titulo de ilustração da invenção mas sem qualquer intenção de limitar o âmbito de proteção da masma, são apresentados a seguir dois exemplos de preparação de argamassa de caordo com a invenção.
Exemplo 1
For preparadas argamassas, de acordo com a invenção, com a seguinte composição (percentagens do peso seco total da argamassa): 13
Componentes % em peso seco
Nanopartícuias de Ti02 2,0 polimetilmetacrilato de metilo contendo uma 16,0 mistura de ceras de parafina
Cal aérea 16,0
Areia 65,0
Materiais auxiliares 1,0 Água qs
Os componentes sólidos foram misturados a seco e a mistura homogeneizada. Esta mistura foi adicionada à água e procedeu-se a homogeneização numa máquina misturadora.
Exemplo 2
Seguindo o processo referido no Exemplo 1, foi preparada a argamassa com a seguinte constituição:
Componentes % em peso seco Nanopartículas de Ti02 4,0 polimetilmetacrilato de metilo contendo uma mistura de ceras de parafina 22,0 Ligante misto 15, 0 Areia 58,0 Materiais auxiliares 1,0 Água qs 14
Ensaios de eficiência das argamassas da invenção
Com o objectivo de estudar a eficiência das argamassas enquanto armazenadores de calor latente, ou seja, para avaliar o impacto da incorporação do PCM no material, realizaram-se ensaios com células de teste associadas a um sistema de medição.
Este sistema divide-se em três componentes: • Uma câmara climática programável para ciclos de temperatura e humidade previamente definidos. • Células construídas com um material isolante (poliestireno expandido) revestido em ambas as faces com um reboco armado, as faces internas estão cobertas com uma camada de argamassa com aproximadamente 100 x 100 x 3 mm (largura x comprimento x espessura). Cada célula tem no seu interior dois termopares, um colocado junto à parede e outro na zona central da célula. • Sistema de aquisição de dados, composto por um "data-logger" com um "multiplexer" ligado a um computador que permite registar os dados de temperatura, através de um "software" próprio.
Para os ensaios climáticos estabeleceu-se um ciclo de temperaturas. A temperatura mínima atingida foi de 10 °C e a máxima de 40 °C, com patamares de 10 minutos nos pontos máximo e mínimo. O objectivo é provocar a transição de fase do PCM nas argamassas (no intervalo 23-25 °C) para 15 avaliar o impacto da acumulação ou libertação de calor quando a temperatura sobe ou desce.
Para os ensaios de degradação fotocatalítica, que permitiram avaliar o efeito da introdução de dióxido de titânio, foi usada uma mistura de NOx com ar comprimido (Ar K) com uma concentração de 1 ppm. Foi usada uma garrafa de Ar tipo K e uma botija de NOx com uma concentração de 10 ppmv. Para a preparação do poluente são usados dois controladores de caudal que conduzem para o reactor uma mistura com 1 ppmv de NO com um caudal de 11/min. 0 reactor é constituído por um cilindro de aço com 35 1 com uma tampa estanque e uma janela de vidro no topo, para permitir a entrada da luz da lâmpada solar OSRAM UltraVitalux. A fonte de luz foi colocada num suporte exterior, por cima do reactor a uma distância de aproximadamente lm da amostra. Os ensaios realizaram-se a 20°C (no interior do reactor) e 40% de humidade relativa. A medição do gás poluente à saída do reactor foi efectuada com recurso a um medidor de quimiluminescência. O procedimento experimental de medição começa com a colocação da amostra no interior do reactor. A introdução da mistura de gás é iniciada e aguarda-se até à estabilização da mistura na concentração de 1 ppm. A lâmpada é ligada após a estabilização da concentração de poluente, e mantém-se assim até o valor medido estabilizar novamente na concentração mínima, que ocorre ao fim de aproximadamente 45 minutos. Considera-se nesse momento que a reacção foto- 16 catalítica terminou e a amostra já não consegue degradar mais NOx. A janela do reactor é tapada e é iniciada a recuperação do NOx até 1 ppm novamente. Para os testes fotocatalíticos, as argamassas foram aplicadas em placas de 3 mm de espessura.
Para avaliar a eficácia de auto-limpeza das argamassas com titânia, estas foram contaminadas com uma solução de Rodamina B com uma concentração de 0,05 g/1 num círculo com 10 cm de diâmetro, o que corresponde a uma concentração de poluente de 0,6 pg/cm2. As amostras foram colocadas a 1 m da fonte de luz, uma lâmpada de 300 W UltraVitalux da Osram que simula o espectro e intensidade da luz solar. Para a medição do parâmetro a* foi usado um Colorímetro da marca KONICA MINOLTA, modelo Chroma-Meter CR-400. A resistência mecânica apresenta resultados mais elevados quando o teor de PCM corresponde a 30% e o de titânia a 2,5% (Figura 1). A composição chega mesmo a apresentar valores superiores aos dos aditivos usados separadamente, o que indica que há um efeito de melhor compactação quando se utiliza conjuntamente, e nesta proporção, o PCM e a titânia. Estes resultados evidenciam a viabilidade do uso conjunto dos dois aditivos, o que permite o desenvolvimento de uma argamassa que permitirá armazenar calor e despoluir o ambiente interior das habitações, em simultâneo. 17 A argamassa multifuncional foi testada na câmara climática e o gráfico de desempenho que consta da Figura 2 demonstra o papel do PCM quando incorporado. 0 efeito é mais evidente na composição com 30% de PCM, mas mesmo com 20% já é visível a capacidade de armazenamento de calor latente. As curvas de 20 e 30% mostram um atraso relativamente à curva de referência ou seja, com a presença de PCM, a célula de teste demora mais tempo a atingir o ponto máximo e mínimo, durante o aquecimento e o arrefecimento respectivamente. É possível ver que à medida que a temperatura ultrapassa a zona entre os 20 e os 25 °C, onde o PCM muda de fase, as curvas das células com aditivo começam a evoluir de forma distinta da célula de referência. No aquecimento, quando a temperatura imposta ultrapassa os 25°C, as células de teste com PCM apresentam uma taxa de aquecimento mais lenta. A célula de referência atinge a temperatura mais elevada, mas nas células com PCM a temperatura máxima atingida é inferior. O mesmo efeito é verificado no arrefecimento, mas neste caso é mais pronunciado na célula com 30%. Quando a temperatura se situa em torno da zona de conforto térmico as células estão todas com a mesma temperatura uma vez que o PCM não actua neste intervalo. Só quando a temperatura se afasta da zona de conforto térmico é que se observa o efeito de armazenamento de calor latente (no aquecimento) e de libertação de calor (no arrefecimento), demonstrada pela menor taxa de aquecimento e arrefecimento evidenciada nas células com 20 e 30% de PCM. O ponto máximo de temperatura atingido na argamassa CA com 30% de PCM é inferior em 4°C relativamente 18 à célula de referência, e o mesmo se passa para a temperatura mínima onde a diferença atinge os 5 °C (Figura 3).
Uma vez que as células com PCM não atingem temperaturas tão extremas e mantêm a temperatura interior estável por mais tempo, isso traduz-se numa poupança efectiva de energia (o tempo de funcionamento dos sistemas de climatização será menor). As temperaturas limite atingidas não fornecem informação suficiente sobre o comportamento destas argamassas quando sujeitas aos ciclos de aquecimento e arrefecimento. É necessário avaliar de que forma a temperatura evolui no interior de cada célula relativamente à célula de referência.
Para isso, na Figura 4 apresenta-se a evolução do gradiente térmico ao longo do ensaio. Este gradiente traduz a diferença, em cada momento do ciclo de temperaturas imposto, entre a argamassa com PCM e a célula de referência e é calculado pela diferença em cada instante do teste, entre a célula com PCM e a célula de referência. Assim, o gradiente de temperatura num dado momento i, entre a célula de referência e a célula com PCM. A composição testada apresenta elevadas taxas de degradação do poluente NOx (usado para avaliar a capacidade de despoluição fotocatalítica das composições) mesmo com a quantidade mínima de titânia (2.5%), a eficiência ronda os 70%, como se pode ver pela Figura 5. Já no caso da avaliação da eficácia de auto-limpeza, com recurso ao teste 19 de contaminação por Rodamina B são observadas algumas diferenças com a variação do teor de aditivo (Figura 6). 0 valor mais elevado é conseguido com a argamassa com 5% de titânia, mas mesmo com 2.5% de titânia já é possível verificar a capacidade de auto-limpeza.
Referências: BARROSO AGUIAR, JOSE LUIS [et al.] - Set of mortars incorporating phase change microcapsules comprises lining materiais containing e.g. cement, for room temperature control. Univ Do Minho. PT103336-A1; ES2298056-A1; ES2298056-B1. CABEZA, L. F. [et al. ] - Materials used as PCM in thermal energy storage in buildings: A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews. ISSN 1364-0321. Vol. 15, n.° 3 (2011), p. 1675-1695. EKKEHARD, JAHNS [et al. ] - Use of microcapsules in gypsum plasterboards: BASF AG. International Patent US 2004234738, 2003. FARID, Μ. M. [et al. ] - A review on phase change energy storage: materiais and applications. Energy Conversion and Management. ISSN 0196-8904. Vol. 45, n.° 9-10 (2004), p. 1597-1615. HASHIMOTO, K.; IRIE, H.; FUJISHIMA, A. - TÍ02 photocatalysis: A historical overview and future prospects. 20
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Lisboa, 14 de agosto de 2014

Claims (8)

1 REIVINDICAÇÕES 1. Argamassas, para aplicação no revestimento interior e exterior de sistemas construtivos, caracte-rizadas por compreenderem 5% e 50%, em peso, de micro-cápsulas de materiais de mudança de fase (PCM) e 0,5% e 10%, em peso, de nanopartículas de dióxido de titânio (T1O2) , juntamente com um ligante simples ou misto à base de cal, cimento ou gesso, agregados, água e outros materiais auxiliares.
2. Argamassas de acordo com a reivindicação 1, caracterizadas por a percentagem de PCM incorporado variar entre 10% e 40%, e a percentagem de T1O2 incorporado variar entre 0,5% e 5%.
3. Argamassas de acordo com a reivindicação 1 ou 2, caracterizadas por o ligante ser constituído por ligante misto.
4. Argamassas de acordo com qualquer uma das reivindicações 1 a 3, caracterizadas por a proporção em peso de ligante/agregado se situar entre 1:3 e 1:7.
5. Argamassas de acordo com qualquer uma das reivindicações 1 a 4, caracterizadas por as microcápsulas do material de mudança de fase terem dimensões entre 0,2 e 2 5 pm. 2
6. Argamassas de acordo com qualquer uma das reivindicações 1 a 5, caracterizadas por as microcápsulas de PCM serem constituídas por polimetilmetacrilato de metilo contendo uma mistura de ceras de parafina.
7. Argamassas de acordo com qualquer uma das reivindicações 1 a 6, caracterizadas por as nanopartículas de T1O2 possuírem dimensões inferiores a 100 nm.
8. Processo para a preparação das argamassas de qualquer uma das reivindicações 1 a 6, caracterizado por se misturar previamente e em seco as microcápsulas de PCM, as nanopartículas de dióxido de titânio com os ligantes, agregados, outros materiais auxiliares, com posterior homogeneização em meio aquoso numa máquina misturadora. Lisboa, 14 de agosto de 2014
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PT103336A (pt) * 2005-08-26 2007-02-28 Univ Do Minho Argamassas incorporando microcápsulas de materiais de mudança de fase (pcm), seu processo de obtenção e sua utilização no revestimento interior de sistemas construtivos
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PT103336A (pt) * 2005-08-26 2007-02-28 Univ Do Minho Argamassas incorporando microcápsulas de materiais de mudança de fase (pcm), seu processo de obtenção e sua utilização no revestimento interior de sistemas construtivos
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