BRPI1005867B1 - Armadilha para captura de flebotomíneos e seu uso - Google Patents
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ARMADILHA PARA CAPTURA DE FLEBOTOMÍNEOS E SEU USO. A presente invenção compreende uma armadilha para detecção, monitoramento e controle de flebotomíneos, vetores de doenças, em área urbana, rural ou silvestre, endêmica ou não, para fornecer informações populacionais sobre os mesmos, no intuito de auxiliar as medidas de controle dos órgãos competentes de saúde. Também poderá ser utilizada para evitar a contaminação de animais reservatórios, na tentativa de impedir a transmissão da doença.
Description
A presente invenção compreende uma armadilha para detecção, monitoramento e controle de flebotomíneos, vetores de doenças, em área urbana, rural ou silvestre, endêmica ou não, para fornecer informações populacionais sobre os mesmos, no intuito de auxiliar as medidas de controle dos órgãos competentes de saúde. Também poderá ser utilizada para evitar a contaminação de animais reservatórios, na tentativa de impedir a transmissão da doença.
As ações de saúde para o controle e monitoramento de flebotomíneos são direcionadas para os locais onde ocorrem casos de leishmanioses, seja a forma cutânea (LC) ou visceral (LV). Essas ações vão desde a limpeza de peridomicílios e construção de galinheiros ou pocilgas distantes de residências, ao uso de inseticidas químicos no ambiente ou de coleiras para cães, ou mesmo de armadilhas (AMÔRA S.S.A.; BEVILAQUA C.M.L.; FEIJÓ, F.M.C.; ALVES, N.D.; MACIEL, M.V. Control of phlebotomine (Diptera: Psychodidae) leishmaniasis vectors. Neotrop. Entomol., 38: 303-310, 2009).
As armadilhas são utilizadas principalmente para o monitoramento de espécies vetores, antes e após ações de educação implementadas por secretarias de saúde locais, ou para reconhecimento de fauna. A confecção de uma armadilha para flebotomíneos é baseada no comportamento destes insetos, como fototropismo positivo, hematofagia e geotropismo negativo, e pode envolver captura manual ou armadilhas com e sem atraentes (MAROLI, M.; FELICIANGELI, M.D.; ARIAS, J. Métodos de captura, conservacion y montaje de los flebotomos (Diptera: Psychodidae), OPS/OMS/HCP/HCT/95/97, Washington, 72p, 1997). Segundo o Ministério da Saúde, a LV é uma doença que atinge 3.156 pessoas por ano no Brasil e um total de dois milhões de pessoas em 88 países do mundo. No Brasil, 41% dos casos são registrados em crianças com menos de 5 anos de idade, com índice de fatalidade (morte) de 7,3% (MINISTÉRIO
DA SAÚDE. Leishmaniose Visceral (calazar). Distribuição de casos confirmados por Unidades Federadas no Brasil, 1980-2005, http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/visceral_2006.pdf, Acessado em 10/XI/2007). Na América Latina, a LV está distribuída desde o México até a Argentina e possui como agente etiológico o protozoário Leishmania (Leishmania) infantum (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) (LAINSON, R.; SHAW, J.J. New World leishmaniasis. In: COX, F. E. G.; KREIER, J. P.; WAKELIN, D. (Ed.) Topley & Wilson's Microbiology and Microbial Infections, Parasitology. London, ASM Press, p. 313-49, 2005). O Brasil contribui para 90% dos casos nesse continente (SOARES, R.P.P.; TURCO, S.J. Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) a review. An. Acad. Bras. Cienc., 75: 303-330, 2003).
Entre os flebotomineos, Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) é o mais importante transmissor da LV na América Latina (FORATTINI, O.P. Entomologia Médica. Psychodidae. Phlebotominae. Leishmanioses. Bartonelose. São Paulo: Ed. Edgar Blücher Ltda. e Ed. da USP, 658 p, 1973). Alguns estudos têm demonstrado que L. longipalpis é um complexo de espécies crípticas, caracterizado pela presença de barreiras reprodutivas mesmo entre populações simpátricas (BAUZER, L.G.S.R.; GESTO, J.S.M.; SOUZA, N.A.; WARD, R.D.; HAMILTON, J.G.C.; KYRIACOU, C.P.; PEIXOTO, A.A. Molecular Divergence in the period gene between two putative sympatric species of the Lutzomyia longipalpis complex. Mol. Biol. Evol., 19: 1624-1627, 2002; MAINGON, R.D.C.; WARD, RD.; HAMILTON, J.G.C.; BAUZER, L.G.S.R.; PEIXOTO, A.A. The Lutzomyia longipalpis species complex: does population substructure matter to Leishmania transmission? Trends Parasitol., 24: 12-17, 2008). Diferenças morfológicas entre machos dessa espécie são marcadas pela distribuição de glândulas normalmente presentes no terceiro e/ou quarto tergito, o qual é mais pálido (LANE, R.P; WARD, R.D. The morphology and possible function of abdominal patches in males of two forms of Lutzomyia longipalpis (Diptera:Phlebotominae). Cahiers d’Office Recherche Scientifique Technique Outre Mer. Ent. Med. Parasitol., 22: 245-249, 1984). Tais estruturas apresentam importância taxonômica e são responsáveis pela liberação de feromônios sexuais para atração de fêmeas co-específicas. Os feromônios sexuais para machos da espécie no Estado de Minas Gerais foram identificados como 9-metil-germacreno e os cembrenos 1 e 2 [BRAZIL, R.P. Flebotomíneos do Brasil: distribuição das espécies crípticas do complexo Lutzomyia longipalpis (Lutz & Neíva, 1912) baseado nos feromônios sexuais. Rev. Soc. Bras. Med. Trop.,41. Suppl. 3: 97-98, 2009]. Os trabalhos de campo avaliando a resposta visual de flebotomíneos de comportamento crepuscular ou noturno, como no caso de L. longipalpis, são pouco conhecidos, embora se saiba que ambos os sexos são atraídos por luz artificial emitida por armadilhas, como a CDC (SUDIA, W.A.; CHAMBERLAIN, R.W. Battery-operated light trap: an improved model. Mosq. News, 22: 126-129, 1962). A sensibilidade espectral de L. longipalpis é similar a de Aedes aegypti (Linnaeus, 1972) (Diptera: Culicidae), com máxima amplitude na região de 360 a 490 nm, entre luz UV e azul-verde-amarela. Estudos demonstraram que L. longipalpis pode distinguir cores e discriminar comprimentos de onda de diferentes intensidades, o que teria importantes implicações no desenho de armadilhas luminosas (MELLOR, H.E & HAMILTON, J.G.C. Navigation of Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) under dusk or starlight conditions. Bull. Entomol. Res., 93: 315-322, 2003).
Uma prática muito comum é a utilização de armadilhas luminosas em campo como forma de substituir o problema ético da exposição de seres humanos, como iscas. Embora o uso das armadilhas luminosas (p ex. CDC) elimine o problema da atração humana, algumas espécies de flebotomíneos são altamente antropofílicas (preferência de alimentação do sangue humano) e não fototrópicas (não respondem à luz) (ALEXANDER, B.; USMA, M.C.; CADENA, H.; QUESADA, B.L.; SOLARTE, Y.; ROA, W.; TRAVI, B.L. Evaluation of deltamethrin-impreganated bednets and curtains against phlebotominae sandflies in Valle del Cauca, Colombia. Med. Vet. Entomol., 9: 279-283, 1995; TRAVI, B.L.; MONTOYA, J.; SOLARTE, Y.; LOZANO, L.; JARAMILHA, C. Leishmaniasis in Colombia. I. Studies on the phlebotominae fauna associated with endemic foci in the Pacific Coast region. Am. J. Trop. Med. Hyg., 39: 261-266, 1998), enquanto outras parecem ser mais fototrópicas .p que antropofílicas (Davies, C. R.; Lane, R. R.; Villaseca, P.; Pyke, S.; Campos, P.; Llanos-Cuentas, E. A. The relation between CDC light-trap and human-bait catches of endophagic sandflies (Diptera: Psychodidae) in the peruvian Andes. Medical and Veterinary Entomology. Vol.9: 241-248, 1995)
Testes realizados em laboratório ou em campo têm buscado o aperfeiçoamento de armadilhas luminosas na captura de espécies de flebotomíneos. Alguns desses trabalhos não visam a substituição da fonte luminosa das armadilhas, mas buscam torná-las mais específicas e eficientes (ANDRADE, A.J.; ANDRADE, M.R.; DIAS, E.S.; PINTO, M.C.; EIRAS, A.E. Are light traps baited with kairomones effective in the capture of Lutzomyia longipalpis and Lutzomyia intermedia? An evaluation of synthetic human odor as an attractant for phlebotomine sand flies (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 103: 337-343, 2008; BRAY, D.P.; BANDI, K.K.; BRAZIL, R.P.; OLIVEIRA, A.G.; HAMILTON, J.G.C. Synthetic sex pheromone attracts the leishmaniasis vector Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) to traps in the field. J. Med. Entomol., 46: 428-43, 2009). Estudos com flebotomíneos abordando a atração visual por fontes luminosas e através de feromônios trazem também novas perspectivas de armadilhas para a captura do vetor (HAMILTON, J.G.C.; IBBOTSON, H.C.; HOOPER, A.M.; MORI, K.; PICKETT, J.A.; SANO, S. 9-methylgermacrene-B confirmed by synthesis as the sex pheromone of the sandfly Lutzomyia longipalpis from Lapinha, Brazil, and the absolute stereochemistry defined as 9S. Chem. Commun., 23: 2335-2336, 1999), sugerindo até mesmo o uso de feromônios sintéticos como uma possível ferramenta para o controle de L. longipalpis (BRAY, D.P.; BANDI, K.K.; BRAZIL, R.P.; OLIVEIRA, A.G.; HAMILTON, J.G.C. Synthetic sex pheromone attracts the leishmaniasis Vector Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) to traps in the field. J. Med. Entomol., 46: 428-43, 2009).
Algumas patentes também captura de insetos: O documento BR 7901863 COM PLACA ADESIVA PARA armadilha luminosa que possui um protetor transparente em forma de "V" envolvendo lâmpadas fluorescentes de atração com as funções de proteger os usuários de uma possível explosão das lâmpadas e, ao mesmo tempo, aparar os insetos em direção a uma placa adesiva, posicionada horizontalmente entre o fundo e o protetor transparente. Possui ainda, na parte inferior, duas proteções laterais basculantes com a função de evitar que os insetos capturados pela placa adesiva caiam para fora da armadilha ou fiquem visíveis aos olhos dos usuários. O documento BR 0306828 (A) "ARMADILHA LUMINOSA PARA CAPTURA DE PEQUENOS INSETOS VOADORES" refere-se a uma máquina que atua como armadilha luminosa para captura de pequenos insetos voadores vivos, caracterizada por possuir a lâmpada de atração em linha de centro do corpo da armadilha que atrai os insetos com grande eficiência. Ainda, possui uma tela de proteção na forma convexa. O documento BR 7801852 (U) "ARMADILHA LUMINOSA PARA INSETOS VOADORES" refere-se a uma armadilha luminosa que possui uma placa com adesivo pegajoso (refil descartável) encaixada em um suporte entre as lâmpadas fluorescentes de atração, de modo que a face da placa com adesivo fique voltada para o interior da armadilha. Esta disposição construtiva permite que os insetos capturados fiquem escondidos no lado interno da placa. O documento CN 201360493 “Environment-friendly and electronic insect trap” revela uma armadilha ecológica e eletrônica de insetos, que compreende uma lâmpada armadilha, um aparelho de sucção capaz de sugar os insetos e uma caixa de coleta. A armadilha de luz está posicionada na parte superior do aparelho de sucção e um funil coletor de inseto é utilizado para levar os insetos para dentro da caixa de coleta localizando-se na periferia da lâmpada armadilha. Ainda o aparato de sucção compreende um motor elétrico e um ventilador centrífugo. O documento WO 2009089828 “CONTROL DEVICE FOR FLYING INSECTS” refere-se a um dispositivo de controle para insetos voadores, compreendendo um sistema de evaporação de feromônio, uma unidade de iluminação para atrair os insetos voadores, uma tela de alta voltagem para destruir os insetos voadores. Ainda, estes componentes estão dispostos em uma carcaça de pé poligonal tendo aberturas de entrada para os insetos voadores, e que inclui um módulo solar ligado à caixa para o funcionamento independente da tela de alta tensão. A caixa está em uma base girável e tem paredes laterais feita de metal, onde em uma região superior da mesma tem um espaço configurado para receber a tela de alta voltagem. O espaço de coleta é coberto para o exterior por uma peça translúcida de parede lateral feita de material plástico. documento CN 201278762 “Trapping insect collector" refere-se a um dispositivo para a interceptação dos insetos, que compreende uma placa do inseto, uma tampa superior, uma lâmpada, um ventilador e um saco de rede.
As armadilhas luminosas são frequentemente utilizadas em programas nacionais ou regionais de monitoramento e controle de flebotomíneos nas áreas endêmicas de leishmanioses no Brasil e estudos com essas armadilhas demonstram a eficiência na captura desses insetos. Porém elas apresentam uma baixa operacionabilidade em rotinas de campo das equipes de zoonoses (as armadilhas atuais utilizam pilhas tipo “D” para manter a iluminação e o mecanismo de sucção, com durabilidade menor do que 1 dia), custo elevado de uso ou manutenção e a impossibilidade de identificação visual do flebotomíneo no momento da vistoria por usuário treinado.
Diante do exposto, a busca de novos métodos para monitoramento de flebotomíneos deve ser baseada na resposta olfativa e, principalmente, visual desses insetos. Desenvolver e testar protótipos de armadilhas a serem utilizadas na busca de espécies antropofílicas e fototrópicas forneceria ainda subsídios para o monitoramento desses insetos vetores. Vale ressaltar que as espécies antropofílicas e fototrópicascomo a espécie L. longipalpis, podem ser encontradas intra ou peridomiciliar, além de áreas silvestres,
A Organização Mundial da Saúde reconhece que há carência de mecanismos de detecção e controle de flebotomíneos, principalmente a baixo custo, visando sua utilização em regiões mais carentes. O uso de pilhas tipo “D” (1,5Volts) é muito comum nas armadilhas do tipo CDC luminosas. Entretanto, em caso da falta de uma fonte de energia (pilha fraca ou baterias descarregadas), as armadilhas elétricas perdem a capacidade de reter os flebotomíneos capturados. Esse efeito é observado devido à ausência de funcionamento da ventoinha, uma barreira mecânica comum em armadilhas como a CDC. A ausência dessa barreira permite que os insetos capturados escapem, fazendo com que a eficiência da armadilha seja reduzida
Ao mesmo tempo, vale mencionar que o uso de pilhas e baterias ocasiona problemas de suporte, perdas, roubo, descarte na natureza, além de tornar o custo oneroso.
Atualmente os programas nacionais e internacionais de leishmanioses evitam utilizar armadilhas luminosas, embora seja o meio mais eficaz para captura de flebotomíneos, devido ao custo elevado e dificuldade de transporte e manuseio. A presente invenção soluciona esses problemas devido à facilidade de transporte, de manuseio e seu baixo custo, além de eliminar a falha de segurança apresentada pelas armadilhas elétricas, já que utiliza um mecanismo de captura por cola entomológica, retendo todos os flebotomíneos capturados no período. Ainda possui um baixo impacto ambiental, uma vez que não contamina a natureza com possíveis resíduos, como no caso de pilhas e baterias.
Diante do exposto, a armadilha pode ser utilizada como ferramenta de predição de populações dos insetos vetores. Se espalhada em número suficiente em um território e utilizando mecanismos rotineiros de coleta de insetos, a armadilha em questão é passível de ser utilizada no monitoramento entomológico, com potencial impacto no controle populacional de flebotomíneos.
Vale ressaltar que a armadilha proposta foi desenvolvida para possibilitar sua utilização em grande escala. Seu custo foi reduzido cerca de 30 vezes em relação ao de uma armadilha CDC comum, uma vez que não utiliza pilhas ou energia elétrica.
Figura 1- Esquema da armadilha para captura de flebotomíneos: (A1) suporte bidimensional branco em forma de “U” que fixa (A2) um cartão adesivo branco dupla-face e (A3) luz química formada por tubos que contém líquido quimioluminescente na cor verde. (A4) é o anteparo superior para fechar e fixar o cartão e funciona como uma tampa para o “U” (A1) formando um quadro. Cinco ou mais encaixes de cada uma das duas extremidades laterais do “U” (B e C). Figura 2- Total de captura de Lutzomyia longipalpis por armadilha CDC com diferentes fontes luminosas. Figura 3- Comparação entre o efeito da luz incandescente produzida por pilha (1,5 volts) e a luz química verde (n= 5) na captura de flebotomíneos (Mann- Whitney, p> 0,05). Figura 4- Média de captura de Lutzomyia longipalpis nas armadilhas CDC e o P1 (cartões+luz verde, com ou sem feromônios) (ANOVA, p> 0,05). Figura 5- Média de machos e fêmeas de Lutzomyia longipalpis capturados por tratamento. Foi utilizada a concentração de 1,5 mg/50μl e 2,0 mg/50μl do feromônio sintético 9-metil-germacreno-B no P1. (a= Kruskal-Wallis, p> 0,05; b= ANOVA, p> 0,05). Figura 6- Média de flebotomíneos capturados nas armadilhas CDC e o P2 (Mann-Whitney, p< 0,05). Figura 7- Média de Lutzomyia longipalpis capturados nas armadilhas CDC e o P2 (Teste t, p> 0,05). Figura 8- Média de Lutzomyia longipalpis (por sexo) capturados nas armadilhas CDC e o P2 (a= Teste t, p> 0,05; b= Mann-Whitney, p> 0,05). Figura 9- Média de flebotomíneos capturados nas armadilhas CDC e dois protótipos da armadilha P3 (Mann-Whitney, p> 0,05). Figura 10- Média de Lutzomyia longipalpis capturados nas armadilhas CDC e 25 dois protótipos da armadilha P3 (Teste t, p> 0,05). Figura 11- - Média de Lutzomyia longipalpis (por sexo) capturados nas armadilhas CDC e o P3 (a - Teste t, p> 0,05) / (b - Mann-Whitney, p >0,05)
A presente invenção diz respeito ao desenvolvimento de uma armadilha para detecção, monitoramento e controle de Flebotomíneos vetores de doenças, em área urbana, rural ou silvestre, endêmica ou não, para fornecer informações populacionais sobre os mesmos, no intuito de auxiliar as medidas de controle dos órgãos competentes de saúde. Também poderá ser utilizada para evitar a contaminação de animais reservatórios, na tentativa de impedir a transmissão da doença. trabalho foi realizado na borda do Parque Grande Sertão Veredas, localizado no município de Chapada Gaúcha (15°18’21”S e 45°37’04”W), região norte de Minas Gerais, Brasil. Após observação da fauna local pelos inventores, foram escolhidas quatro residências distintas, localizadas na parte peri-urbana do município e com distanciamento de aproximadamente 100 metros umas das outras. Em todos os experimentos as armadilhas foram instaladas às 18:00 horas e recolhidas às 8:00 horas do dia seguinte, respeitando o comportamento noturno e a frequência da espécie L longipalpis em épocas distintas. Para análise dos dados foram utilizados testes paramétricos (ANOVA e teste-t), quando esses seguiam distribuição normal. Caso a distribuição fosse não-paramétrica, foram aplicados os testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney, para mais de duas ou apenas duas amostras, respectivamente. Todos os dados foram analisados utilizando o programa estatístico BioEstat 5.0.
A nova tecnologia utilizou ensaios laboratoriais e de campo para propor uma nova armadilha capaz de monitorar flebotomíneos de forma rápida, eficiente e a baixo custo. Vários protótipos foram testados, conforme descrito nos exemplos. O protótipo desenvolvido consiste em um suporte bidimensional branco em forma de “U”, que segura um cartão branco com cola entomológica dupla- face (Fig. 1 A). De cada uma das duas extremidades laterais do “U" estão adaptados cinco encaixes de onde partem cinco hastes paralelas que se encaixam na extremidade oposta (Fig. 1, B e C). Nestas hastes são colocados tubos que contém líquido quimioluminescente na cor verde (Fig. 1 A). Foi adicionado um anteparo superior que tampa o “U” formando um quadro (Fig. 1 A), e também um poste central que fixa o eixo do quadro no chão, elevando-o a uma altura de um 1,5m do solo.
Testes realizados em laboratório mostraram que a cor da luz química (quimiluminescência = pulseiras de Néon) de maior tempo de iluminação foi a verde, que teve uma duração próxima a oito horas, a de menor duração foi a pulseira azul, com apenas três horas. As outras cores obtiveram resultados próximos, com uma média de quatro/cinco horas. A luz incandescente durou em média 12 horas (alimentada por pilhas tipo “D").
Em campo foram avaliadas a capacidade e a eficiência de atração das luzes químicas quando comparadas com a atração da luz incandescente utilizada em armadilha CDC luminosa (comumente utilizada), seguindo o delineamento do Quadrado Latino 4x4. Foram realizadas quatro repetições experimentais. A CDC contendo luz incandescente (normal) foi usada como controle e as outras três CDCs, foram modificadas retirando-se a fonte luminosa e colocando cinco pulseiras de Néon (do tipo Lightsticks, 20 cm comprimento) no mesmo local de fixação da lâmpada de luz incandescente (CDC luz incandescente X CDC luz verde X CDC luz azul X CDC luz vermelha).
Foi capturado um total de 2.544 flebotomíneos (Tabela 1), sendo 1.602 (55%) da espécie L. longipalpis (Tabela 2). Surpreendentemente, a maior captura de espécimes de flebotomíneos foi observada na armadilha utilizando a luz verde, tanto em relação ao controle (luz incandescente) quanto às demais cores. Esse resultado foi obtido devido a uma grande concentração de flebotomíneos na casa 4 (Tabela 1). Resumindo, foi possível comprovar que a luz verde atrai flebotomíneos e que essa atração é mais eficiente que a da luz azul e da vermelha, confirmando assim sua eficácia e justificando a escolha da pulseira de Neon verde no protótipo de armadilha da presente invenção.
Quando avaliado somente a espécie L. longipalpis, a armadilha CDC com a luz verde apresentou a maior eficiência de captura (Tabela 2, Figura 2.).
Já a maior relação de captura de L longipalpis entre os sexos foi obtida com a armadilha CDC controle, com uma proporção de 3,31 fêmeas por macho. Essa taxa se inverteu com a luz vermelha. Um novo teste foi realizado durante três noites consecutivas para 5 analisar o efeito de atração de flebotomíneos pela luz química verde, comparado com a luz incandescente produzida por duas pilhas (tipo D - 1,5 volts). A comparação da CDC com luz incandescente e CDC com luz química verde (5 pulseiras) permitiram uma captura de 283 e 222 flebotomíneos, respectivamente (Mann-Whitney, p> 0,05), confirmando mais uma vez a io eficiência da luz verde.
Tabela 1- Número de flebotomíneos capturados por armadilha e por casa em Chapada Gaúcha, MG (4 repetições).
Tabela 2- Número de indivíduos da espécie Lutzomyia longipalpis (machos e fêmeas) capturados pela armadilha CDC contendo diferentes cores de luzes (luz química) em Chapada Gaúcha, MG. Ã-' Portanto, esses resultados indicam que a luz incandescente produzida'^-3S''x pela bateria pode ser substituída pela pulseira de Néon na cor verde (Figura 3). É importante enfatizar a importância desses resultados, uma vez que as pilhas usadas na armadilha CDC apresentam custos elevados, enquanto a pulseira de Neon tem de baixo custo de produção, possibilitando assim a economia de recursos financeiros e eliminando os problemas ambientais com descarte das baterias e o peso do transporte de grande quantidade de pilhas. EXEMPLO 2: Comparação da CDC (luz incandescente) com protótipos da nova armadilha (P1)
Após estabelecer a fonte de luz, buscou-se desenvolver uma armadilha luminosa para capturar os flebotomíneos, eliminando assim o ventilador da armadilha CDC, reduzindo, portanto os custos da nova armadilha. Diante disso, esse experimento teve por objetivo comparar a taxa de captura de armadilhas CDC luminosa com luz incandescente (controle) com os protótipos da nova armadilha (P1). As armadilhas (P1) foram confeccionadas utilizando papel cartão com as medidas (21,0cm x 30,0cm), nos quais foi adicionado cola entomológica para capturar os insetos atraídos. Como fontes de luz foram utilizadas cinco pulseiras de Néon verde (luz química verde), distribuídas de maneira eqüidistante na parte central do cartão (formando cinco anéis luminosos), sendo cada metade do anel visualizada nas faces do cartão. Além das luzes foram acrescidas duas concentrações do feromônio sintético de machos de L. longipalpis (9-metil-germacreno-B) diluído em Hexano 99% (Merck®). Após a diluição o feromônio foi colocado em septo de borracha, para evaporação em campo. As concentrações utilizadas nas armadilhas obedeciam aos seguintes valores: 2,0 mg/50μl e 1,5 mg/50μl. Esse experimento totalizou quatro repetições experimentais: (1) armadilha CDC (CDC); (2) cartão+luzes+septo (P1-controle); (3) cartão+luzes+septo com 2,0 mg/50μl de feromônio sintético (P1 [2]); (4) cartão+luzes+septo com 1,5 mg/50μl de feromônio sintético (P1 [1,5]). Os flebotomíneos atraídos pelo P1 foram removidos com uma gota de solvente e retirados do cartão com cola com o auxílio de um pincel.
Foi capturado urn total de 532 flebotomíneos da espécie L. longipalpis sendo 184 na CDC, 172 no P1 [1,5], 119 no P1 controle e 57 no P1 [2] (Tabela 3). Quando comparados os protótipos (P1), os septos de borracha com o feromônio sintético não potencializaram a captura de L. longipalpis em relação 5 cartão controle (cartão com o septo sem atraente) e o mesmo foi observado quando comparados com a CDC (ANOVA, p> 0,05) (Figura 4). O feromônio sintético do macho (1,5 mg/50μl) acrescido no cartão possibilitou maior captura de fêmeas que o cartão controle, porém o mesmo não foi observado para a concentração de 2 mg/50μl. Nos tratamentos estatísticos não foi observada 10 diferença significativa entre as fêmeas (ANOVA, p> 0,05) ou mesmo entre os machos (Kruskal-Wallis, p> 0,05) (Tabela 3; Figura 5).
Tabela 3- Número de flebotomíneos da espécie Lutzomyia longipalpis capturados pela armadilha CDC e os protótipos P1 [2] (cartão+luzes+septo 2,0 mg/50μl de feromônio); P1 [1] (cartão+luzes+septo 1,5 mg/50μl de feromônio); 15 P1- controle (cartão+luzes+septo) em Chapada Gaúcha, MG. (Feromônio sintético: 9-metil-germacreno-B).
Teste 1. Comparação da taxa de captura de uma CDC e um protótipo P2 Um novo protótipo (P2) foi desenvolvido, utilizando papel cartão com cola entomológica, como P1, porém com maior quantidade de luz química verde afixada. Um total de 10 pulseiras de Néon, sendo cinco em cada lado da armadilha, foi incluído no protótipo.
Foi comparada a eficiência de captura- da espécie L. longipalpis entre uma armadilha CDC (luz incandescente) e o protótipo P2, instalados dentro de cinco galinheiros, totalizando 30 repetições. As duas armadilhas foram instaladas em um mesmo galinheiro , com uma distância de 2 metros entre elas.
Durante as noites de captura foi registrado um total de 684 flebotomíneos, sendo que na CDC e no P2 foram encontrados 584 e 100 flebotomíneos, respectivamente (Mann-Whitney, p< 0,05) (Figura 6). A relação de captura entre a CDC e o P2 (CDC/P2) foi de 5 flebotomíneos, sendo que ambas capturaram mais machos que fêmeas.
A Tabela 4 compara taxa de captura da armadilha CDC e do P2 para L. longipalpis. Do total de flebotomíneos (684), 293 (43%) pertenciam a espécie, onde foram capturados 240 indivíduos na CDC e 53 no P2. Mesmo sendo observado um número total superior de L. longipalpis capturados pela CDC não foi observada diferença significativa quando comparadas as médias de captura pela CDC e P2 (Figura 7) (Teste t, p> 0,05). A média de captura também se mostrou semelhante na CDC e no P2 quando comparados machos (Teste t, p> 0,05) e fêmeas (Mann-Whitney, p> 0,05) da espécie (Figura 8), embora a CDC tenha capturado, nitidamente, mais indivíduos totais que o protótipo (Tabela 4). Tabela 4- Número de Lutzomyia longipalpis capturados na armadilha CDC e um protótipo da nova armadilha, de acordo com o sexo dos espécimes, em Chapada Gaúcha, MG. Teste 2. Comparação da taxa de captura de uma CDC e dois protótipos (P3) Como no Teste 1 foi comparada a taxa de captura da CDC com o protótipo P2. No Teste 2 foram utilizados dois protótipos (duas unidades da P2), instaladas em três galinheiros, totalizando 18 repetições. Nos protótipos foram afixadas 10 pulseiras Néon verde, sendo cinco em cada lado da armadilha, como no teste 1, porém totalizando 20 luzes ao todo (dois protótipos). A utilização de dois protótipos P2 foi denominada P3.
Durante as noites de captura foi registrado um total de 2.925 flebotomíneos, sendo que na CDC e no P3 foram capturados 2.000 e 925 flebotomíneos, respectivamente (Mann-Whitney, p< 0,05). A média de flebotomíneos capturados pela CDC e P3 pode ser observada na Figura 9. A relação de captura entre a CDC e o P3 (CDC/P3) foi de 2 flebotomíneos, sendo que ambas capturaram mais fêmeas que machos.
A Tabela 5 compara taxa de captura da armadilha CDC e do P3 para L. longipalpis. Do total de flebotomíneos (2.925), 1.425 (49%) pertenciam a espécie, onde foram capturados 971 indivíduos na CDC e 454 no P3. Assim como no teste anterior (teste 1) foi observado um número superior de L. longipalpis capturados pela CDC e também não foi observada diferença significativa quando comparadas as médias de captura pela CDC e P3 (Figura 10) (Mann-Whitney, p> 0,05). A média de captura também se mostrou semelhante na CDC e no P3 quando comparados machos (Teste t, p> 0,05) e fêmeas (Mann-Whitney, p> 0,05) da espécie (Figura 11), embora, assim como no teste 1 a CDC tenha capturado, nitidamente, mais indivíduos totais que o protótipo (Tabela 5).
Tabela 5- Número de Lutzomyia longipalpis capturados na CDC e nos dois protótipos da nova armadilha (P3), de acordo com o sexo dos espécimes em Chapada Gaúcha, MG. Nos testes do exemplo 3, foi demonstrado que a taxa total de captura de 5 L. longipalpis foi maior na CDC, embora não tenha sido observada diferença significativa quando a média de captura foi comparada à do P2 ou do P3. Ao analisar a relação de captura de flebotomíneos entre a CDC e os protótipos (P2 e P3) observou-se que a taxa de captura de cinco vezes do teste 1 (P2), cai para dois quando a CDC confronta duas unidades da mesma armadilha (P3), o que torna interessante novos experimentos comparando a CDC com mais de dois protótipos juntos. Como demonstrado, a tendência de aumento da coleta ao juntar mais de um protótipo da armadilha é bastante clara ou seja, quanto maior a intensidade de luz e/ ou superfície de contato maior o poder de agregação dos insetos.
Claims (1)
1. ARMADILHA PARA CAPTURA DE FLEBOTOMÍNEOS que utiliza cartão adesivo e suporte caracterizada por consistir em um elemento para encaixe do cartão adesivo e das hastes quimioluminescentes (A1) e um elemento para sua fixação (A5), hastes contendo líquido quimioluminescente (A3) na cor verde, encaixes de cada uma das duas extremidades laterais do suporte (B e C), e um anteparo superior (A4) para fechar o suporte e fixar o cartão adesivo.
Priority Applications (1)
Application Number | Priority Date | Filing Date | Title |
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BRPI1005867-2A BRPI1005867B1 (pt) | 2010-04-09 | 2010-04-09 | Armadilha para captura de flebotomíneos e seu uso |
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BRPI1005867-2A BRPI1005867B1 (pt) | 2010-04-09 | 2010-04-09 | Armadilha para captura de flebotomíneos e seu uso |
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